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MIT: “Os Leitores de Informação Incorrecta são inteligentes”

Os Leitores de Informação Incorrecta estão de parabéns. Não sou eu que digo isso: é o MIT, o Massachusetts Institute of Technology.

Os pesquisadores da conceituada instituição publicaram um novo estudo segundo o qual os cépticos e os que se opõem às medidas anti-Covid compreendem melhor a ciência e os dados do que os seus opositores. O estudo, intitulado Viral Visualizations: How Coronavirus Skeptics Use Orthodox Data Practices to Promote Unorthodox Science Online, foi publicado este mês e analisou a reacção dos cépticos e das pessoas com ideias negativas em relação à pandemia entre os passados meses de Março e Setembro de 2020. O estudo centrou-se nos grupos de Facebook, nas publicações do Twitter e nas interacções entre os “no mask” e as visualizações de dados sobre o coronavírus que estavam a ser publicados pelos principais noticiários científicos e governos.

No estudo, os investigadores revelam que, apesar da narrativa segundo a qual os que não acreditam na história da Covid são simplesmente analfabetos científicos, na verdade têm uma muito boa compreensão da ciência e da análise de dados.

Nos grupos de Facebook analisados, os investigadores viram uma séria ênfase nos conteúdos originalmente produzidos, com as pessoas a quererem ter a certeza de que eram “influenciados apenas pelos dados”. Muitos participantes criaram os seus próprios gráficos e instruíram outros sobre como aceder aos dados em bruto. Explica o estudo:

Por outras palavras, os no mask valorizam o acesso não mediado à informação e favorecem a investigação pessoal e a leitura directa sobre as interpretações. […] Os membros [dos grupos no mask, ndt] valorizam a iniciativa individual e o engenho, confiando na análise científica apenas na medida em que podem replicá-la eles próprios através do acesso e da manipulação dos dados. São muito reflexivos sobre a natureza inerentemente enviesada de qualquer análise e ressentem-se com aquela que consideram a hipocrisia arrogante das elites científicas.

Os investigadores argumentam que “os utilizadores destas comunidades estão profundamente investidos em formas de crítica e produção de conhecimento que reconhecem como indicadores de competência científica” e acrescentam que “eventualmente, a ciência no mask ampliou os instrumentos tradicionais de análise de dados, retomando o manto teórico dos recentes estudos de visualização crítica”.

De facto, continua o estudo, a interpretação dos dados e da ciência dos no mask mostra que eles são “mais sofisticados na sua compreensão de como o conhecimento científico é construído socialmente do que os seus opositores ideológicos, que abraçam o realismo ingénuo sobre a verdade ‘objectiva’ dos dados de saúde pública”.

Os no mask, ao contrário dos soldadinhos da Covid, sabem que “as visualizações de dados não são uma janela neutra sobre uma realidade independente do observador” e que os dados “durante uma pandemia são uma arena de luta política”.

Os investigadores descobriram que os no mask acreditam que muitos dos dados oficiais sobre mortes e infecções por coronavírus são recolhidos de uma forma “não neutra” e que muitas das “métricas importantes” faltam nestes dados divulgados pelo governo, um ponto exacerbado pela relutância de alguns funcionários em divulgar dados detalhados:

A falta de transparência dentro destes sistemas de recolha de dados – que muitos destes utilizadores inferem como uma falta de honestidade – corrói a confiança destes utilizadores tanto nas instituições governamentais como nos conjuntos de dados que divulgam.

Há também espaço para uma comparação: os cépticos e os no mask podem ser comparados aos apoiantes de Donald Trump, na medida em que os apoiantes do Presidente não foram “enganados por notícias falsas”, mas antes favoreceram “o estudo pessoal de fontes primárias e encontraram inconsistências lógicas não nas palavras de Trump, mas nos retratos do Presidente nos principais meios de comunicação social”.

Trata-se duma observação interessante tendo em conta que os apoiantes de Trump costumam ser descritos como uma cambada de brutos saídos directamente do Paleolítico. Ao que parece não é bem assim.

Surpresa? Na verdade não muita: já no ano passado a Dra. Emily Brunson da Texas State University observou que as pessoas mais susceptíveis de escolherem intencionalmente não ser vacinadas “são altamente instruídas” e leram a literatura primária sobre as vacinas.

Da mesma forma, conclui o novo estudo, os no mask “procuram a libertação do que vêem como um estado cada vez mais autoritário que arma a ciência para exacerbar relações de poder persistentes e assimétricas”. Vêm de uma base semelhante, constituída pelo ressentimento contra a elite e acrescentam “uma ênfase particular na usurpação do conhecimento científico por parte duma elite paternalista e condescendente que espera a submissão intelectual e não o pensamento crítico por parte do público leigo”.

Ao contrário dos seus opositores políticos, os investigadores observam que os no mask “acreditam que a ciência seja um processo e não uma instituição”.

Sintetizando, o MIT anuncia ao mundo: “Ehi, ainda há alguém que usa o cérebro!”. E por aqui sabemos que alguns destes cérebros pensantes costumam frequentar Informação Incorrecta. Por isso: parabéns aos Leitores!

 

Ipse dixit.