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Líderes africanos: uma espécie em perigo

O site alemão Corona Transition notou algo e fez duas contas: os líderes africanos morrem de Covid-19 muito mais do que os cidadãos “normais”. Desde o início da “pandemia” até à data, 52/10.000 Ministros ou chefes de Estado africanos (vamos chamar-lhes genericamente “líderes”) morreram. Em contraste, apenas 3/10.000 “cidadãos comuns” morreram. A probabilidade de isto ocorrer por mero acaso é de 3 em 100.000.

Esta diferença (o Covid-19 mata 17 vezes mais líderes que cidadãos comuns) é tão macroscópica que já há meses atrás circulavam piadas humorísticas nas redes sociais, tais como: “Nós, pobres africanos, não morremos de Corona: só morrem os nossos líderes”… Mas esta diferença pode ser avaliada cientificamente, através de um teste estatístico muito simples: o Qui-quadrado.

Para explicar, partimos de uma experiência comum: se atirarmos para o ar uma moeda 10 vezes, em teoria esperamos 5 cruzes e 5 cabeças, mas se saírem 6 cruzes e 4 cabeças ou vice-versa continua a estar tudo bem. Mas quando a relação cruz/cabeça é 7 – 3? Ou 8 – 2? O Qui-quadrado ajuda a calcular a probabilidade estatística de que, por puro acaso, ocorra uma frequência observada em relação ao resultado teoricamente esperado. O Qui-quadrado diz que um resultado de 7 cruzes e 3 cabeças (ou vice-versa) pode ocorrer, por puro acaso, com uma probabilidade de 20%. Um resultado de 8 cruzes e 2 cabeças pode ocorrer com uma probabilidade de 6% (p = 0,06), 9 cruzes e 1 cabeça só 1 vez em 100 (p = 0,01)… e assim por diante.

Em qualquer disciplina científica, uma probabilidade de 5% ou menos (p =< 0,05) é reconhecida como “estatisticamente significativa”; uma probabilidade de 1% ou menos (p =< 0,01) é reconhecida como “estatisticamente altamente significativa”. Isto autoriza os investigadores a afirmarem que o resultado observado não é simplesmente uma variabilidade aleatória, mas é afectado por um “viés selectivo” e pressiona-os a procurar as possíveis causas de tais desvios notáveis.

Relativamente à Covid-19 em África, podemos calcular que a diferença de mortalidade entre líderes e cidadãos comuns pode ocorrer com uma probabilidade de 2 em cem mil milhões (p = 0,000000000002).

A seguir eis os critérios e os passos lógicos para que qualquer pessoa possa compreender e criticar:

Isso deixa 9 líderes entre 2500, ou 36/10.000 (falamos aqui de morte “com” Covid: para falar de morte “de” Covid seria precisa uma autopsia ou uma análise bastante aprofundada).

O número oficial de 0.84 mortos por 10.000 habitantes é quase certamente subestimado dada a precariedade dos registos demográficos em África. Vamos assumir 3 mortes “com” Covid por 10.000 habitantes (a taxa de mortalidade mais elevada é aquela da África do Sul: 887 óbitos por milhão de habitantes, o que significa 9/10.000; vice-versa, há Países onde a taxa é praticamente zero). Lembramos: taxa de mortalidade “com” Covid.

Neste momento, resta muito pouco a fazer a não ser voltar a discutir os parâmetros examinados. E assumir que na África o SARS-CoV-2 escolhe com muita atenção as suas vítimas. Se o Leitor for um líder africano, siga a dica: fique em casa, tome banho em álcool-gel várias vezes por dia, use sempre máscara e luvas, também enquanto estiver a dormir.

 

Ipse dixit.