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Coronavirus II – O briefing

Meus senhores, obrigado por participarem neste nosso breve encontro. Antes de focar a atenção acerca dos mais recentes acontecimentos, gostaria de apresentar uma síntese da nossa actividade decorrida ao longo das últimas décadas.

Após as experiências preliminares conduzidas nos anos de ‘60 e ‘70, em 1980 decidimos avançar com o primeiro projecto de amplo alcance e foi assim que nasceu a crise do AIDS, com a qual aprendemos muito e que permitiu aprimorar as técnicas tanto de propagação quanto de promoção mediática.

Os cada vez melhores conhecimentos sobre a genética, se dum lado permitiram também evitar alguns dos anteriores erros, doutro lado viabilizaram o acesso a um amplo leque de organismos patogénicos que representaram um enorme salto qualitativo. Já não era suficiente atirar para as multidões uma doença e observar os resultados: agora era possível controlar o espaço e o tempo, criando um calendário estruturado para que fosse possível atingir determinadas zonas segundo uma sequência pré-estabelecida. Zonas e sequências controladas permitiram plasmar a opinião das multidões duma forma gradual e sem dor.

Que me seja permita uma metáfora, não de minha autoria, para exemplificar as últimas frases. Imaginem uma panela cheia de água fria na qual um sapo nada calmamente. O fogo é aceso debaixo da panela, a água aquece lentamente. Logo se torna morna. O sapo acha isso bastante agradável e continua a nadar. A temperatura sobe. Agora a água está quente. Um pouco mais do que o sapo gosta. Ele fica um pouco cansado, mas não se assusta. Agora a água está realmente muito quente. O sapo acha isso muito desagradável, mas enfraqueceu, não tem forças para reagir. Então aguenta-se e não faz nada. Enquanto isso, a temperatura sobe novamente, até o momento em que o sapo termina simplesmente fervido. Se o mesmo sapo tivesse sido imerso directamente na água a 50°C teria dado um forte salto, teria pulado imediatamente da panela.

Foi isso que aconteceu com as massas. Vaca Louca em 2001, SARS em 2002, Gripe Aviaria em 2005, H1N1 em 2009, Escherichia coli em 2011, MERS em 2012, Ébola em 2013, Zika em 2015… ano após ano, com intensidade crescente, as multidões foram induzidas a pensar que as infecções são uma coisa normal, assustadora mas inevitável. Quem não tiver memória do passado é forçado a repeti-lo no futuro: quantos se deram ao luxo de controlar, verificar, medir, perguntar? Poucos, ninguém. Então o subtil trabalho dos órgãos de comunicação, as comedidas palavras dos especialistas, a informação e a desinformação: tudo provocou uma lenta mas constante e controlada mudança nos ânimos do comum cidadão que já não pergunta “Como é possível?” mas antes “O que tenho que fazer para me proteger a mim e a minha família?”. Nisso, meus senhores, reside o maior êxito do nosso trabalho.

E chegamos assim aos nossos dias. A obsessiva campanha mediática teve jogo fácil em tornar o Coronavirus na nova e, tudo somado, esperada pandemia, porque o ser humano é um animal de hábitos. O que criou as melhores condições para que os nossos analistas possam estudar as respostas perante os vários estímulos submetidos. Mas não é preciso esperar pelo relatório final, pois podemos já agora avançar algumas conclusões que são evidentes.

Os cidadãos uniram-se em volta das instituições, únicos faróis de salvação no meio do caos gerado. Estas não tiveram nenhuma dificuldade em implementar grandes restrições das liberdades individuais: proibição em reunir-se, manifestar, passear ou até em simples gestos quais cumprimentar-se. Mais: onde as medidas não foram logo implementadas, os mesmos cidadãos fizeram questão de pedi-las. Este aspecto tem que ser devidamente realçado sendo, como é evidente, a verdadeira chave de volta de toda a experiência: é a vítima que pede mais ao carrasco. Fecha-se voluntariamente em casa, fecha toda a família com ele, porque o homem é o animal mais doméstico e mais estúpido que há. Até recusa encontrar amigos ou parentes. Esse terror espalha-se e induz as populações a aceitarem “leis de emergência” cada vez mais extremas que estão a demolir o Estado de Direito. Não há por aqui direitos constitucionais, não há direito ao estudo, não há direito ao trabalho; não há palavras vazias como “liberdade” pois o medo fala mais alto e chega lá onde nenhuma força política poderia chegar em condições normais. E, reparem por favor, tudo isso obtido com um inimigo invisível.

Mais: o controle é total e vai muito além das massas. Conseguimos criar as condições ideais para adiantar a próxima e incumbente crise dos mercados de forma que as instituições públicas poderão agora intervir com fundos públicos em ajuda do sector privado, sem que isso determine protestos. E continuando com a economia: a nova pandemia permitiu exercer um controlo directo sobre o preço do petróleo. Já não é a OPEC que determina a cotação do ouro negro, é o mercado, ou melhor, o pânico dele: os produtores árabes são agora obrigados a vender o produto com os preços de 1991, a mesma organização que reúne os maiores produtores encontra-se desintegrada.

Temos fornecido à OCDE uma previsão que considera dois cenários, um básico que corresponde a uma redução limitada do crescimento mundial, e um menos optimista no qual é assumido um efeito dominó do contágio em todos os Países do mundo. Será feito prevalecer o primeiro, no qual podemos considerar uma mudança nas preferências dos investidores, à medida que se tornam cada vez mais avessos ao risco, com um aumento na demanda por activos seguros, uma contracção da oferta de emprego, um grande esforço de coordenação internacional para a adopção de medidas capazes de responder à emergência de saúde e à contracção económica. Haverá certamente uma continuação dos estímulos fiscais, por exemplo através de intervenções de apoio às empresas, uma política de flexibilidade no âmbito do trabalho e aumentos nos níveis de dívida gerados pela crise financeira.

Além disso, serão reduzidas as taxas de juros para aumentar a procura e serão também facilitados os investimentos dos consumidores para garantir liquidez ao sistema.

Será espalhada a ideia, baseada na actual experiência do COVID-19, de que é preciso inovar a cultura do trabalho com a adopção de formas alternativas de emprego, o que traz vantagens em termos de produtividade, economia, inovação e, como não podia deixar de ser, redução do trânsito e da poluição. Em poucas palavras: uma maior eficiência e uma significativa redução dos actuais custos sem esquecer a tão útil vertente ambiental.

Em termos financeiros, os mercados irão ganhar com um redimensionamento do número dos accionistas e uma maior centralização do capital: há 19 triliões de Dólares em risco, o que significa milhares de pequenos e médios investidores fragilizados. Pilhas de acções corporativas que só esperam para novos adquirentes. Ao mesmo tempo, a crise irá empurrar os investidores para os abrigos seguros: acções sólidas no meio dum mercado em queda. E será também tempo de integrações: os efeitos económicos obrigarão muitos jogadores menores a fundir-se com os maiores. Energia, hotelaria, automóveis: são estes os sectores em foco.

Meus senhores, estes em extrema síntese os resultados da nossa experiência: um autentico stress-test de alcance global, cujas recaídas trazem oportunidades de crescimento para quem estiver na posição de pude-las explorar. Oportunidades económicas? Talvez financeiras? Há mais, meus senhores, há mais. Como reza o Deuteronômio: “o homem não vive apenas de pão”. E sabemos que o nosso objectivo é outro.

Então gostaria de concluir satisfazendo a vossa pergunta que sei ser breve e muito simples: “Quando?”. Porque, perante resultados tão reconfortantes, por qual razão deveríamos adiar a fase seguinte? Quem pode travar as nossas acções? Quais forças podem opor-se ao nosso desenho? A resposta à vossa, à nossa pergunta, só pode ser, por sua vez, breve e muito simples: cedo, meus senhores, muito cedo.

 

Ipse dixit.