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Distracção das massas: as raízes – Parte II

Antes de analisar como as técnicas de desinformação podem destruir a realidade, é necessário estabelecer qual seja a realidade, o melhor: o que é a realidade. Ludwig Wittgenstein, um neopositivista lógico hebraico, afirmava que “o mundo é tudo o que acontece”. Uma definição correcta em termos absolutos, mas redutora porque desligada do que acontece no nosso sistema. Aqui, a realidade é aquela que os órgãos de comunicação deixam transparecer de forma a manipular a opinião pública. Uma opinião manipulada exclusivamente para conduzi-la até uma Nova Ordem Mundial? Para satisfazer os desejos dos Illuminati? Não necessariamente.

Na verdade, a opinião pública é fundamental para a estabilidade de um sistema, qualquer sistema. Portanto, no nosso, a estabilidade é obtida com o bombardeio dos media. Para manter a estabilidade, na actual configuração político-económica, a opinião pública deve estar virada para o que é funcional ao sistema e não aprender a verdade (“aquilo que acontece”, como diria Wittgenstein). Isso faz com que o poder dos media seja consideravelmente importante. O controle por parte do poder ocorre hoje nas nossas casas, através da televisão ou da Internet; a manipulação da informação é cada vez mais sistemática, concebida para ser eficaz e permanecer escondida aos olhos dos cidadãos. As agências internacionais que fornecem as notícias são apoiadas por agências de propaganda que planeiam não apenas o que divulgar, mas acima de tudo “como” fornecer as informações. A quantidade das notícias é reduzida, reduzida ou manipulada para manter a estabilidade de um sistema. Ou, se for precisos, para subvertê-lo no caso de sistemas não nossos (vejam-se as várias “revoluções coloridas” eclodidas ao redor do mundo).

Tudo isso faz sentido porque o ser humano cria representações dos factos que são um modelo de realidade e toda a representação, para poder ser representada, deve ter em comum com a realidade a forma lógica. Portanto, a lógica é a forma da realidade. O que significa isso? Na verdade significa algo bastante simples: quanto mais os media determinam os factos, tanto mais a nossa visão do mundo é determinada pelos media. O que os media fazem é também fornecer a estrutura lógica dos factos e, portanto, é razoável dizer que o mundo é tudo o que acontece nos media.

Um exemplo banal: a frase “A Rússia é má”. Se for má, a Rússia deverá fazer coisas más, caso contrário a afirmação “A Rússia é má” não teria lógica nenhuma. Eis portanto que os órgãos de informação passam a seleccionar as notícias (transformando-as se for o caso) para que a nossa visão da Rússia seja má. A Rússia que faz coisas más (verdadeiras ou falsas que sejam) tem uma correspondência lógica com a afirmação de que “A Rússia é má”: e é exactamente isso que se torna realidade aos nossos olhos, porque aparentemente lógico.

A consequência óbvia dessa afirmação é que, para modificar a nossa visão de mundo, é suficiente modificar a forma lógica na qual o mundo é descrito através dos media. Isso significa que, sempre através dos media, não somente informações falsas podem ser disseminadas, mas também e sobretudo são espalhadas ferramentas para construir ou modificar a visão do mundo.

A poderosa e omnipresente informação dos media de hoje, que cancelou as distâncias e quase apagou os tempos de divulgação das notícias, serve, como é evidente, como uma caixa de ressonância, ouvida em todo o mundo, que distribui e amplifica e as posições do establishment dominante, sufocando, de facto, qualquer informação “descontrolada”.

Como? Duma forma simples e experimentada: apresentar continuamente uma série de notícias que trazem à luz todos os tipos de informações, úteis e inúteis. Desta forma, cria-se uma espécie de ininterrupto ruído de fundo capaz de esconder a informação real e importante, acessível apenas àqueles que têm a chave para descodifica-la.

John Swinton, editor-chefe do New York Times, pronunciou estas palavras no banquete em sua homenagem, em 1914:

Que loucura fazer um brinde à imprensa independente! Todos os presentes aqui esta noite sabem que a imprensa independente não existe. Vocês sabem disso e eu sei: não há ninguém entre vocês que se atreva a publicar as suas verdadeiras opiniões e, se o fizessem, vocês sabem já que nunca seriam publicadas. Eu sou pago 250 Dólares por semana para manter as minhas verdadeiras opiniões fora do jornal para o qual trabalho.

Outros entre nós recebem a mesma soma por um trabalho semelhante. Se autorizasse a publicação de uma opinião honesta em qualquer número do meu jornal, eu perderia o meu emprego em menos de 24 horas […]. A função de um jornalista é destruir a Verdade, mentir radicalmente, perverter, humilhar, rastejar aos pés de Mamon e vender-se, vender o seu país e o seu povo para o pão de cada dia ou, mas a coisa não muda, pelo seu salário. Vocês sabem isso e eu também, que loucura fazer um brinde à imprensa independente! Nós somos as ferramentas e os vassalos de homens ricos que governam nos bastidores. Nós somos os seus fantoches; eles puxam as suas cordas e nós dançamos. O nosso tempo, os nossos talentos, as nossas possibilidades e as nossas vidas são de propriedade desses homens. Somos prostitutas intelectuais.

É superficial, no entanto, pensar que a desinformação consista simplesmente em fornecer “informação incompleta”; pode manifestar-se, por exemplo, sabotando sistematicamente o modo de transmissão e o modo como a mensagem é recebida, até o ponto de controlar como ela será processada. Neste último caso, o terreno está a ser preparado com o fornecimento de ferramentas para interpretar a informação de maneira deformada: formas erróneas de raciocínio, aquelas que são definidas como “sofismas” na retórica.

É principalmente por essa razão que as várias formas de sofisma, pontualmente ensinadas durante séculos nas universidades como parte integrante da lógica e da retórica, quase desapareceram, mesmo na altura em que a extensão e disseminação dos canais de persuasão aumentaram enormemente.

O maior dano causado pelas formas erradas de raciocínio não está tanto na capacidade de induzir ao erro que recebe uma mensagem destas, mas em levar as pessoas a pensar de uma maneira distorcida. Isso significa criar dispositivos que permitam ao público desenvolver desinformação independentemente. Nesta altura, não haverá mais a necessidade de produzir desinformação em grandes quantidades, serão as próprias pessoas que irão gerá-la e reproduzi-la.

 

A desinformação

Precisamos multiplicar as ideias para que não haja guardiões suficientes para controlá-las.
Stanislaw Lec

Imaginemos que os ataques de 11 de Setembro de 2001 tenham sido uma operação false flag, um pretexto para executar um programa de longa data, contido num documento intitulado Rebuilding America’s Defenses (“Reconstruindo as Defesas da América”), publicado pela organização chamada Project for the New American Century (“Projecto para o Novo Século Americano”), conhecida pela sigla PNAC e formada, entre outros, por Jeb Bush (segundo filho do antigo Presidente George H. W. Bush), Dick Cheney, Steve Forbes, os antigos vice-Presidentes Aaron Friedberg e Dan Quayle, Donald Rumsfeld(antigo Vice-Presidente), Paul Wolfowitz (10º Presidente do Banco Mundial). estas pessoas:

Imaginemos que, apesar da propaganda para a entrada em guerra e dos cépticos serem apontados como antipatrióticos, há alguém que duvida dos ataques.

Imaginemos que, para manter o terror em todo o País e, ao mesmo tempo, desencorajar o início de perigosas comissões de investigação, comece a circular o alarme do antraz.

Imaginemos que o único verdadeiro inimigo potencial da aliança Bush-Pentágono-CIA seja o Senado dos Estados Unidos, devido aos seus poderes de investigação e que o senador Tom Daschle, líder da maioria democrática, seja um dos poucos homens capazes de criar uma comissão de inquérito.

Imaginamos que a análise da sequência de antraz demonstre que esta foi produzido por laboratórios militares norte-americanos e que a Universidade da Califórnia, numa análise meticulosa, mostre que a fonte do antraz não é senão um programa do governo dos próprios Estados Unidos.

Imaginemos que nos Estados Unidos haja apenas uma pessoa capaz de ter acesso a essa tipologia específica de antraz, um tal Dr. Hatfill que, naturalmente, teria trabalhado extensivamente com a CIA e teria sido uma das poucas pessoas nos Estados Unidos capaz de manipular os esporos do antraz.

Imaginemos que, após uma rápida análise da situação, cheguemos à conclusão de que a difusão de notícias sobre os biólogos envolvidos no “alarme do antraz”, como culpados ou potenciais descobridores de culpados, será imparável e que uma cobertura total deve ser criada com a desinformação.

Imaginemos, portanto, que os biólogos implicados no “alarme do antraz”, pelo menos 15, morram em condições “estranhas” entre 2002 e 2003 e que, para o Dr. Hatfill, chegamos a supor uma “solução do tipo Lee Oswald” (entretanto não necessária: o novo e único culpado é.Bruce Edwards Ivins, morto num “suicídio” que não mereceu autopsia).

Imaginemos, finalmente, que o “alarme do antraz” se torne um negócio incrível para a indústria farmacêutica e que a única empresa com licença para produzir a vacina seja uma certa BioPort Inc., que operando no até então inexistente mercado para a vacinação em massa contra o antraz e liderado pelo fundo de investimento Carlyle Group, um grupo que lida com os interesses conjuntos das famílias Bush e Bin Laden.

Esta é a nossa imaginação. Agora vamos ver a versão oficial segundo a prestigiada Wikipedia:

Os ataques com carbúnculo nos EUA em 2001 consistiram numa sequência de envelopes contaminados com o carbúnculo (antraz, às vezes erroneamente denominado antrax) nos Estados Unidos. Cinco pessoas morreram. O início do envio foi uma semana após os ataques de 11 de Setembro de 2001. O caso permanece sem solução, embora saiba-se que a bactéria foi manipulada por um cientista americano. Em meados de 2008, o FBI estreitou seu foco para Edwards Bruce Ivins, um cientista que trabalhou em laboratórios do governo de biodefesa. Ivins teria sido informado acerca de iminente indiciamento e morreu de uma overdose de “Tylenol com Codeína,” o que foi relatado como um suicídio em 1 de agosto de 2008.

Os ataques ocorreram em duas ondas. A primeira série de cartas tinham um selo postal de Trenton, Nova Jersey, datado de 18 de setembro de 2001, exactamente uma semana após os Atentados do 11 de setembro de 2001. Acha-se que cinco cartas tinham sido enviadas, até esse momento, a ABC News, CBS News, NBC News e o New York Post, todos localizados em Nova York; e ao National Enquirer em Boca Rato (Flórida). Outras duas cartas com o mesmo selo de Trenton estavam datadas de 9 de outubro, três semanas após o primeiro envio. As cartas estavam dirigidas a dois senadores democratas: Tom Daschle de Dakota do Sul e Patrick Leahy de Vermont. Daschle era, então, o líder da maioria do Senado e Leahy, o Presidente do Comité judicial do Senado. Mais potente que as primeiras cartas, o material nas cartas do Senado era um pó seco altamente refinado que consistia em ao redor de um grama de esporas quase puras. O processo foi posteriormente arquivado antes da conclusão das investigações.

Pelo que: nada se sabe e afinal o que importa? O principal suspeito foi suicidado. E, se é possível modificar o presente, é igualmente possível modificar o passado. Na construção do engano, avança-se para trás, partindo do objectivo final que é a ilusão. A ilusão, no entanto, não é o objectivo final do planeador do engano mas apenas a sua estratégia.

A questão da ilusão é deveras importante e foi tratada várias vezes neste blog ao falar do papel da assim chamada “informação alternativa”. Neste caso, a ilusão é aquela de existir um espaço na internet onde seja realmente possível fazer circular notícias verdadeiras, que este espaço esteja “descontrolado” e que isso possa combater de alguma forma o poder. Na verdade, nada disso é real: a informação alternativa é parte integrante daquele “ruído de fundo” acerca do qual se falava antes. Aliás, a proliferação de diferentes versões acerca dum facto tem o efeito oposto: o público, desorientado pela falta de homogeneidade da massa informativa à disposição, volta para aquelas fontes que, ao contrário, fornecem em coro uma versão unívoca. E estas fontes são os media mainstream.

Por esta razão, é irónico realçar como o mundo da informação alternativa, com as milhares de opiniões contrastantes, seja por sua vez uma fábrica desinformação, mesmo ao publicar notícias verdadeiras.

Depois desta desinformação há outra, criada por diferentes objectivos. Mesmo nestes meses prolifera a teoria da Terra Plana. Mas antes da Terra Plana tinha havido Nibiru, um cometa do qual não lembro o nome, o fim do mundo em 2012… Alguma vez perguntaram-se a razão destas vagas de idiotice periódica? A razão é diferente da anterior: neste caso a desinformação é espalhada sob forma de psy-op (do Inglês psychological warfare), um conjunto de várias técnicas usadas para influenciar sem uso da força os valores, as crenças, as moções, o raciocínio ou comportamento das pessoas visando objectivos estratégicos policiais, políticos ou até de guerra. Desta forma, são canalizadas de forma inócua as energias que, ao contrário, poderiam ser utilizadas para objectivos incómodos.

Inútil acrescentar que estas psy-op encontram na internet um terreno particularmente fértil e que são por sua vez utilizadas por indivíduos que pretendem lucrar com isso (por exemplo com a publicação de livros), num círculo vicioso capaz de auto-alimentar-se até a próxima idiotice (e depois da Terra Plana, sinceramente, não sei mesmo o que poderão inventar).

Obviamente, a guerra psicológica é utilizada pelos vários exércitos do mundo contra inimigos há séculos e de várias formas: no sexto século a.C., o grego Bias de Priene resistiu com sucesso ao cerco do rei da Lídia, Aliates, engordando um casal de mulas e expulsando-as da cidade sitiada para dar a impressão de que os cercados tivessem abundância de recursos. Mas seria ingénuo pensar que um sistema complexo como o nosso não possa recorrer a estas soluções contra os seus próprios cidadãos para a manutenção da ordem estabelecida…

 

Ipse dixit.

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Fonte: La Teoria del Complotto