Site icon

As sanções? Um sucesso

Como estão as coisas do ponto de vista das sanções? Não muito bem. E este é um eufemismo.

O Ocidente parece ter-se convencido de que pode continuar sem as matérias-primas da Rússia. Sem dúvida é verdade no caso dos EUA, que têm pouco comércio com Moscovo: mais complicado no caso da União NEuropeia, que importa energia russa e nem pouca. Ao mesmo tempo Washington, que agora pode contar com a total submissão de Bruxelas, tem que criar as condições para que o Velho Continente sofra mas não de forma exagerada (se possível), pois sempre dum mercado de centenas de milhões de pessoas estamos a falar.

A UE está convencida de que pode tranquilamente prescindir do gás russo, com os EUA prontos a vender gás e petróleo do seu fracking. Mas, além destes terem um preço elevado, não é suficiente. Se a UE não entrar em colapso dentro de algumas semanas, e se a guerra comercial declarada pelo Ocidente contra a Rússia se estender ao petróleo e ao gás, então os substitutos energéticos terão de ser encontrados algures e com uma certa pressa. Lembramos que a UE recebe da Rússia 40% do seu gás e 30% do seu petróleo: e Moscovo poderia também decidir autonomamente fechar a torneira (a “pequena atómica” russa), vozes neste sentido não faltam.

Por isso, os EUA e a UE estão a mexer-se em todas as direcções nos últimos dias.

China

O Ocidente não pode contar com a China. Em princípio não seria um grande problema, pois Pequim não vende mas importa energia (e muita). Mas a China, como grande adquirente energético, tem laços cada vez mais estreitos com os maiores produtores globais. E isso sim que pode complicar porque, como os EUA já declararam guerra comercial à China, não podem agora esperar que Pequim ponha uma boa palavra, por exemplo perto dos árabes.

Além disso, Washington está a exercer pressão sobre a China e até ameaça duras sanções se esta ajudar a Rússia.

Países do Golfo

O Qatar parece estar disposto a fornecer mais gás, mas as suas condições são difíceis: a UE deveria comprometer-se a comprar um combustível caro e com um contrato de longo prazo. Mesmo que Bruxelas aceitasse, o gás do Qatar por si só não seria suficiente para salvar o Velho Continente.

Neste momento, os Países árabes do Golfo recusaram-se a aumentar a produção de petróleo e, de acordo com os relatos da imprensa, os reis e os sultões não tencionam discutir do assunto com os americanos.

Deve também ser salientado que estes Países nem sequer aderiram às sanções anti-russas e não querem prejudicar os seus já citados laços com os chineses, um cliente fundamental já agora e no futuro ainda mais.

Irão

Estão actualmente em curso negociações com o Irão sobre o acordo nuclear. Se fossem bem sucedidas, as sanções ocidentais contra o Irão seriam levantadas e o País poderia fornecer petróleo. Isso em teoria.

Mas a Rússia pediu aos EUA que as sanções não incluíssem o relacionamento comercial entre Moscovo e Teherão, e Washington recusou. O resultado é que os EUA ofereceram ao Irão a conclusão de um acordo nuclear, retirando Moscovo do contexto: mas é difícil que os iranianos confiem e nem podemos esquecer que durante as sanções americana, tanto a Rússia quanto a China continuaram a fornecer comercialmente o Irão.

Portanto, o Irão não tem razões para confiar nos EUA e ir contra os Países que o apoiaram quando foi sancionado pelo Ocidente.

Venezuela

Os EUA abandonaram rapidamente Juan Guaidó e tornaram-se subitamente conciliantes com a Venezuela, rica em petróleo, afirmando que a intenção é aquela de normalizar as relações através do levantamento do embargo petrolífero. Quando se diz a generosidade… pequeno pormenor: Caracas deveria juntar-se à política do Ocidente contra a Rússia.

Em resposta, o Presidente venezuelano Maduro disse aos EUA que a Rússia é um parceiro estratégico da Venezuela. Ou seja: “não, obrigado”.

Irão e Venezuela habituaram-se a viver sob as sanções e parece improvável que possam virar as costas aos Países que os mantiveram vivos em tempos de dificuldades, nomeadamente a Rússia e a China. Sabem muito bem que uma normalização das relações com os EUA seria apenas temporária e que, ao abandonar Moscovo e Pequim, no futuro ficariam sozinhos contra os norte-americanos.

Leitura paralela: aquela que segundo os órgãos de informação deveria ser uma espécie de compacta cruzada universal contra Moscovo, mais parece um quebra-cabeça à procura de possíveis soluções. Que, por enquanto, não estão no horizonte.

Paciência. Como disse Christine Lagarde já em 2007 perante o aumento dos preços dos combustíveis: “De vez em quando, deves esquecer o teu carro em benefício das tuas duas pernas e das tuas duas rodas”. Na altura era Ministro da Economia em França, hoje é Presidente do Banco Central Europeu.

 

Ipse dixit.