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Covid: o falhanço das vacinas

Muitas vezes as informações estão aí, debaixo dos nossos olhos, mas não queremos vê-las.

O português Diário de Notícias publica um título alarmista, como do costume, acerca da nova e “terrível” versão da Covid-19: Avanço da variante Ómicron obriga governos europeus a novas restrições. Para apoiar o texto, o Diário foi buscar duas tabelas do site Our World In Data. A primeira é esta:

Gráfico claro: são os novos casos de Covid por milhão de habitantes. Nada a apontar.

A segunda tabela:

E aqui a coisa torna-se interessante porque deveria haver uma significativa relação entre doses de vacina administradas e novos casos de infecção. Nomeadamente:

mais doses de vacinas = menos casos de infecção.

Não foi por isso que foram introduzidas as vacinas, para travar a Covid? Não eram as vacinas que deveriam ter permitido o “regresso à normalidade”? Os Países que ocupam as posições de topo no primeiro gráfico deveriam ocupar as posições de fundo no segundo gráfico.

Mas, segundo os dados apresentados, acontece exactamente o contrário:

mais doses de vacinas = mais casos de infecção.

No geral podemos observar como os Países onde maior é o avanço da infecção são aqueles onde mais doses de vacina foram administradas. É o caso de Dinamarca, Irlanda, França, Espanha, Chipre, Bélgica. Significativo os casos de Roménia e Bulgária, que em ambas as tabelas ocupam os últimos lugares: estes Países, onde a taxa de vacinação é mínima, são também aqueles onde a propagação do vírus é menor. Discurso parecido no caso de Letónia, Estónia, Hungria ou Polónia, na metade inferior das tabelas.

É interessante realçar como todos os últimos citados sejam Países da Europa Oriental, onde até poucas semanas atrás era esperada uma desgraça de proporções bíblicas por causa da baixa taxa de vacinação.

Obviamente há excepções, a mais significativa das quais é a Eslováquia que vacinou pouco e agora ocupa a terceira posição entre os Países onde a Covid avança mais. Mas como não reparar numa Dinamarca que distribuiu 196.15 doses de vacina por cada 100 habitantes (a maior taxa no Velho Continente) e agora é o País onde a Covid avança mais? Ou a Irlanda (182.75 doses, o segundo País mais infectado)? E, no geral, todos os Países que ocupam a parte alta da classificação em ambos os gráficos?

Se o desejo é sermos bom, o máximo que podemos dizer é que não existe um correlação directa entre doses de vacinas administradas e contenção da infecção.

Existe depois uma terceira tabela, esta:

Aqui as coisas começas a fazer um pouco mais sentido: os Países que mais vacinaram são aqueles onde a mortalidade provocada pelo vírus é inferior. Sim, verdade: voltemos ao problema da forma como são contabilizados os alegados óbitos da Covid, mas vamos esquecer isso por enquanto.

No geral, é possível afirmar que os Países onde maior foi a administração de vacinas são aqueles onde a Covid menos mortes provoca. Na minha óptica isso pode fazer sentido: a Covid pode ser uma doença fatal no caso de pessoas idosas e/ou afectadas por patologias concomitantes e a vacina estimula o sistema imunitário a produzir anticorpos específicos. Isso pode representar a diferença entre a vida ou a morte dum paciente já fragilizado.

Mas há mais um aspecto que deve ser tomado em conta: a variante Ômicron não mata, de todo. Então, para poder avaliar de forma apropriada o papel das vacinas, seria preciso responder a esta pergunta: qual variante é a mais difundida entre os Países analisados?

Pegamos no caso de Portugal: segundo as tabelas, Portugal é o terceiro País na Europa que mais vacinas administrou, com uma média de 184.96 doses por 100 habitantes. Agora, o País registra 1.57 mortes diárias devidas à Covid por milhão de habitantes, o sétimo menor dado. Pelo que: as vacinas parecem funcionar. Ou talvez não: porque as autoridades confirmam agora que a variante predominante é a Ômicron. E acrescentamos a forma “alegre” como são contabilizadas as mortes “de Covid”. Pelo que: Portugal teria registrado uma queda das mortes em qualquer caso, com ou sem vacinas.

É certo que aquelas 1.57 mortes são devidas aos casos residuais da variante Delta e à forma “descontraída” com a qual são contabilizados os mortos “de Covid”. É certo porque se tivesse havido um único morto provocado pela variante Ômicron, os meios de comunicação por aqui teriam amplificado a notícia até a exaustão, tal como os diários de toda a Europa relataram a única pessoa morta “de Ômicron” no Reino Unido.

Aqueles “zero mortos” na Irlanda, Malta, Rep. Checa e Chipre testemunham o “sucesso” das vacinas ou a presença da variante inócua?

Em qualquer caso, o que estes dados demonstram claramente é o falhanço das vacinas na obra de contenção da infecção. As vacinas não impedem que o vírus se propague, não podem permitir o tal “regresso à normalidade”. Aqueles mesmos meios de comunicação que ao longo de dois anos impingiram as vacinas como meio para “derrotar a Covid”, agora são obrigados a publicar dados que demonstram o exacto contrário. E continuam a ignorar isso.

 

Ipse dixit.