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Mulheres?

Igualdade de género. Homens, mulheres, gays: todos iguais, todos com os mesmos direitos e os mesmos deveres. Parece uma coisa bonita, mas não é. Aliás: é péssima. Mais uma vez, estamos perante um processo de homogeneização, de achatamento, no qual as diferenças não são exaltadas mas sim reprimidas e por fim apagadas. E já isso é mau, muito mau: porque a riqueza está na diversidade, sempre.

Imaginem um País onde todos vivem da mesma forma, pensam da mesma forma: qual a capacidade de evoluir num lugar como este? Zero ou quase. As possibilidades deste País entrar num círculo de empobrecimento ou até de auto-destruição são enormes.

Mas não é só isso. Vamos falar da figura da mulher. A identidade de género das mulheres na sua substância não pode ignorar o carácter generativo: é este aspecto que deve regressar à linha da frente do debate público, como um facto da cultura de massa que deve ser repensado e protegido e que não pode ter um sentido neutro. Não há verdadeira emancipação das mulheres se nesta emancipação a sua identidade de género não preserva o traço materno e generativo que é absolutamente decisivo na nossa como na maioria das espécies viventes. Não sei o quanto nos damos conta de que a invocada “igualdade de género” (o sacrossanto direito das mulheres de não sofrerem discriminação social de qualquer tipo, tal como igualdade de oportunidades de acesso e sustentabilidade aos papéis e funções sociais) transbordou, em muitos aspectos, para uma “crise de género”. Uma crise do género feminino e, consequentemente, do mesmo conceito de género.

O que é um género se não existirem diferenças entre os vários géneros? O que é o “género feminino” se o esforço parece aquele de eliminar qualquer diferença com o género masculino ou gay?

Esta é a grande mentira social da “identidade de género”: é isso que está a levar ao fim da identidade de género através de políticas que negam a diferença de género como diferença, como algo que existe e tem que existir porque é natural e é riqueza.

Mas há algo ainda mais perverso neste processo: a alegada emancipação do género feminino está a ser moldada sobre um outro género, aquele masculino. As mulheres parecem não entender ou ignorar que todo o processo de “emancipação” está a ter como fim o anulamento da ideia de feminilidade (sobra apenas a vertente estética, a mais frívola) para alcançar um padrão socialmente especializado que tem como características primárias as capacidades de consumir e de produzir por parte dos indivíduos.

Ou seja, a emancipação da mulher não passa pela criação dum novo modelo feminino mas pela mera adopção dum padrão que já existe e que é aquele masculino. Um padrão que não pode satisfazer (e que, de facto, não satisfaz) mas que parece ser o supremo desejo nesta cruzada da “igualdade”. É óbvio que tal padrão não é nem pode ser o derradeiro desejo das mulheres: mas é apresentado e imposto como tal porque trata-se dum objectivo útil na óptica consumista/produtiva da nossa sociedade.

A igualdade, tal como está a ser interpretada, implica o fim do “género”: este é o inevitável desfecho dum processo que confunde, não de forma inocente, discriminação de género com diversidade de género. São duas coisas bem diferentes: enquanto a discriminação tem que ser eliminada sem hesitação, a diversidade tem que ser não apenas preservada mas defendida e fortalecida.

A mentira que estamos a viver faz uso de uma distorção da “igualdade de género” que é cada vez mais traduzida como “igualdade de oportunidades”: não, não é a mesma coisa. Assim como está a ser interpretada, esta igualdade tem como único objectivo garantir igualdade de tarefas e papéis sociais, igualdade na acessibilidade. Mas isso confirma quanto afirmado acima: a mulher está a deslocar-se (ou melhor: a ser deslocada) na direcção do padrão masculino, não dum seu próprio e inovador padrão. Esta “igualdade de oportunidades” traduz-se não na realização do próprio género (neste caso do género feminino com as suas especificidades) mas em alcançar um género único exigido por um mercado de trabalho que, graças à tecnologia, pode fazer com que todos façam tudo de uma forma indiferenciada.

Mas desta forma, através desta falsa “igualdade”, o resultado alcançado só será o nivelamento entre os géneros e a perda das relativas diversidades. E isso é assustador: nascidos como sendo complementares, são obrigados a “caber” num único género que pode ser indiferentemente utilizado em cada papel social, económico e produtivo.

Quais devem ser as características valorizadas no universo feminino? Não sei, eu sou rapazito, não cabe a mim decidir isso: este é um percurso que só pode ser escolhido por mulheres. Pode haver alguns pontos de partida partilhados: ninguém quer um regresso à figura da mulher como máquina para criar filhos, que cozinha, limpa a casa e remenda as meias. Ninguém pode desejar uma mulher submissa à figura masculina, parece-me óbvio. Mas ninguém, acho, pode desejar a mulher simplesmente como “novo homem”. E, neste sentido, só as mulheres podem definir qual deveria ser o novo e inovador padrão feminino no seio desta sociedade.

Trata-se dum novo padrão necessário porque, actualmente, a alegada “libertação” da identidade de género parece passar apenas pela esfera sexual ou pouco mais. Ao novo “monogénero” é deixada a liberdade de escolher o género com o qual ir para a cama: a orientação sexual parece ser o ponto mais alto desta “libertação”. Mais alto é único porque é silêncio absoluto acerca de todos os outros aspectos. Faz sentido na nossa sociedade, como vimos, porque interessada em tornar neutros os géneros, que devem ser funcionais numa óptica exclusivamente económico-produtiva; não pode fazer sentido para pessoas com dois dedos de cérebro, que tencionem defender os valores oferecidos pelas diferenças quais meios para uma autentica evolução.

Esta falsa “”igualdade de género” é na realidade o mesmo processo actuado para a “libertação as etnias”. Também neste caso mais do mesmo: todos iguais, todos uniformizados segundo um único padrão, neste caso a padrão do homem branco. É o achatamento cujo fim é a criação duma sociedade uniforme, indiferenciada e terrivelmente monótona: um exército global constituído por uma mão de obra rendida perante as vontades do mercado.

Um nivelamento que valoriza a mediocridade. Voltando ao universo feminino, óptimo exemplo disso são as “quotas rosas”: partidos políticos e governos obrigados a inserir nas suas fileiras uma determinada percentagem de mulheres. O que, dito por outras palavras, significa “não importa quão competente for aquela pessoa, o lugar tem que ser dela porque mulher”. É o definitivo enterro do mérito em prol do politicamente correcto: a mulher tratada como deficiente, que consegue o lugar não porque forem reconhecidas as suas competências mas porque pertencente a uma categoria “desfavorecida”.

O que acontece é que a actual sociedade está a explorar o estado de espírito daqueles que sofrem discriminação para obter consenso político e fazer esquecer outros factores. A falsa emancipação das mulheres baseada no padrão masculino acaba por politizar a questão disfarçando o verdadeiro conflito que fica na base: o conflito entre todos nós, a massa (heterossexuais, homossexuais, etc.) e as elites. Desta forma, não apenas são amplificados e alimentados conflitos inteiramente políticos, como também são criadas divisões de opinião que antes não existiam, alimentando um clima de “guerra dos pobres” aí onde antes nada havia.

Portanto, a definição dum novo padrão-mulher segundo as especificidades femininas não pode passar ao lado da luta contra a sociedade que oprime. Não é uma visão alternativa mas complementar: sem ultrapassar a actual concepção económica e social será impossível alcançar aquelas condições que para viabilizar uma autêntica liberdade do género, com todas as consequências positivas que isso iria acarretar.

 

Ipse dixit.