Site icon

Covid: três milhões de máscaras por minuto

Enquanto os cientistas do Centro Nacional de Investigação Gamaleya de Epidemiologia e Microbiologia em Moscovo, onde foi criada a primeira vacina contra o coronavírus (a Sputnik V), estão a desenvolver uma nova vacina sob a forma de spray nasal que (dizem) não terá efeitos secundários, por aqui continuamos com o distanciamento social, álcool-gel e máscaras.

Para já: não gastem dinheiro em álcool-gel pois o comum sabão é suficiente para destruir a camada lipídica do Coronavírus. E as máscaras? Pois, as máscaras… Como sabemos, passamos das máscaras “que dão uma falsa sensação de segurança” para as máscaras obrigatórias. Porque o importante é ter as ideias claras.

Mas agora a situação começa a preocupar: a elevada procura de máscaras faciais levou à produção de milhares de milhões de máscaras descartáveis, sem fornecer soluções para as elimina-las devidamente. As máscaras estão a invadir as cidades, entupindo os esgotos, viajam até os rios e os mares. Não falamos só de algumas máscaras: estudos recentes estimam que, a nível mundial, os seres humanos utilizam 129 mil milhões de máscaras faciais por mês, cerca de 3 milhões por minuto. A maioria são máscaras descartáveis feitas de microfibras plásticas não-biodegradáveis que, por suas vez, decompõem-se em partículas plásticas mais pequenas, micro e nanoplásticos, que se espalham alegremente pelos ecossistemas.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que são necessárias cerca de 89 milhões de máscaras cirúrgicas por mês para a emergência Covid, mas é preciso considerar o desperdício e uma tendência que provavelmente persistirá durante algum tempo.

No início do surto, os funcionários norte-americanos estimaram que o País teria precisado de 300 milhões de máscaras para lidar com a pandemia só em 2020. O fabricante norte-americano 3M preparou 550 milhões de máscaras em 2019 e planeia produzir 2 mil milhões ainda este ano.

O toxicologista ambiental Elvis Genbo Xu da Universidade do Sul da Dinamarca no estudo Preventing masks from becoming the next plastic problem:

A enorme produção de máscaras descartáveis é numa escala semelhante à das garrafas de plástico, que está estimada em 43 mil milhões por mês.

No mesmo documento, o Professor Zhiyong Jason Ren, especialista em engenharia ambiental e civil da Universidade de Princeton:

Mas ao contrário das garrafas de plástico, não há forma de reciclar as máscaras, o que torna mais provável a sua eliminação de forma inadequada

As máscaras cirúrgicas comuns têm três camadas: uma camada exterior feita de material fibroso não absorvente (como o poliéster) que protege contra salpicos de líquidos; uma camada intermédia com tecidos-não tecidos (como o polipropileno e o poliestireno) criada utilizando um processo que evita gotículas e aerossóis através de um efeito electrostático; e uma camada interior feita de material absorvente como o algodão para absorver o vapor.

As máscaras contêm numerosos polímeros, incluindo tecido de polipropileno. O polipropileno é um dos plásticos mais utilizados e não se decompõe facilmente. O passar do tempo, a radiação solar e o calor fazem com que o polipropileno gere um grande número de partículas de polipropileno de tamanho microscópico e nanopartículas. As máscaras descartáveis são feitas directamente de fibras plásticas microscópicas que libertam partículas plásticas mais facilmente e mais rapidamente do que o plástico “normal” (tal como aquele dos sacos de plástico). Uma nova geração de máscaras, chamadas nanomáscaras, libertam partículas ainda mais pequenas criando uma nova fonte de poluição nanoplástica, de acordo com a Universidade do Sul da Dinamarca.

Tal como outros resíduos plásticos, de acordo com a Xu e Ren:

As máscaras descartáveis podem acumular e libertar substâncias químicas e biológicas nocivas, tais como bisfenol A, metais pesados e microrganismos patogénicos

Alguns dos químicos tóxicos libertados durante a degradação dos polímeros plásticos incluem ftalatos, compostos organoestânicos, nonilfenol, éter bifenílico polibromado e triclosan (ao qual já foi dedicado um artigo).

Os impactos dos plásticos como resíduos sólidos e na contaminação por microplásticos no ambiente foram estudados, validados e demonstrados por vários investigadores em muitas publicações: as máscaras entram no ambiente quando são depositadas em aterros ou espalhadas em espaços públicos. Depois, entram em lagos, rios e oceanos, decompondo-se em partículas de plástico no prazo de algumas semanas.

Nos anos que antecederam a pandemia, os ambientalistas tinham alertado para o elevado nível de poluição plástica e para a ameaça que esta representa para os oceanos e a vida marinha. De acordo com uma estimativa de 2018 feita pela UN Environment, até 13 milhões de toneladas de plástico vão parar aos nossos oceanos todos os anos. De acordo com um relatório da OceanAsia, já agora 1.56 mil milhões de máscaras entraram no oceano, resultando em 4.680 a 6.240 toneladas métricas de máscaras. Estas máscaras levam até 450 anos a decompor-se completamente, transformando-se lentamente em microplásticos que têm um impacto muito sério na vida selvagem marinha e nos ecossistemas.

Os investigadores Xu e Ren propuseram o seguinte:

Dúvida: mas todas aquelas coisas, os polímeros, o polipropileno… temos isso colado ao nariz o dia todo, estamos a respira-las? Exacto. É o caso para preocupar-se? Olhem, façam isso: peguem num espelho e repitam doze vezes em voz alta e com tom convencido “Se fossem perigosas a OMS já teria avisado, ora essa”. Depois vão sentir-se melhor.

Portanto, até aqui falámos sobre as máscaras. Depois haveria as luvas, as garrafas de álcool-gel… e não se esqueçam que o problema é sempre e só o dióxido de carbono.

 

Ipse dixit.

 

Fonte: Children’s Health Defens

Imagem: Picture Alliance/dpa/W.Steinberg via DW