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Covid-19: continua o mistério da origem

Incrível. Mas não inesperado.

Peritos da Organização Mundial de Saúde (OMS), uma agência da ONU frequentemente acusada de ser demasiado amigável com a China, foram em Wuhan e concluíram que a teoria de que o vírus se propagou acidentalmente de um dos laboratórios locais de pesquisa de vírus não é credível.

Enquanto os peritos não chineses que argumentam que a teoria do laboratório não pode ser descartada (incluindo os especialistas do influente Centro Nacional de Investigação Científica da França) e baseiam as suas descobertas numa análise do vírus, os alegres viajantes da OMS simplesmente acreditaram no que os chineses lhes disseram.

O Dr. Peter Ben Embarek, o perito dinamarquês que lidera a equipa da OMS, disse numa conferência de imprensa que tinha chegado às suas conclusões através de entrevistas com os gestores e os cientistas chineses que trabalham nos laboratórios de Wuhan. Estas discussões, disse Ben Embarek, foram “longas, francas, abertas”. Os chineses contaram-lhe a história “presente e passada de todos os projectos envolvendo morcegos e coronavírus e projectos mais avançados”, acrescentando que “questionou extensivamente os funcionários do Instituto de Virologia de Wuhan sobre o que pensavam acerca da hipótese de fuga do laboratório” e negaram-na, dizendo que a segurança nos seus laboratórios funciona perfeitamente e que “eles são os melhores a refutar reclamações e a dar respostas a todas as perguntas”.

Honestamente, isto é ridículo. E ainda mais ridículo é que os meios de comunicação internacionais levem Ben Embarek a sério. Resumindo: Embarek visitou uma possível cena de crime mais de um ano depois do crime ter sido (eventualmente) cometido; perguntou aos suspeitos se tivessem cometido o crime e, dado que a resposta foi “não”, estabeleceu que não tinham sido eles.

Imaginem se a polícia trabalhasse desta forma: as prisões estariam sempre vazias. Por qual razão não é aplicado o mesmo método em outros casos também? Por exemplo, porque não ter uma “longa, franca, aberta” discussão em Moscovo acerca do caso Navalny e aceitar as declarações como prova da inocência dos russos?

Cereja no topo do bolo: Ben Embarek não é um virólogo, é um perito em segurança alimentar. Isso indica claramente que foi nomeado para confirmar um resultado já predeterminado. A OMS já tinha concordado em apoiar a alegação chinesa de que o vírus provinha de alimentos, ou de animais selvagens vendidos no mercado de Wuhan ou, como o PCC prefere, de alimentos congelados que chegaram em Wuhan provenientes dos EUA, Noruega ou Itália.

Para acabar em beleza, Ben Embarek realizou a sua conferência de imprensa com Liang Wannian, líder do lado chinês da equipa conjunta China-OMS (ah, pois: a equipa da OMS encarregada de estabelecer a verdade incluia também a presença da parte investigada), que, sem contestação do representante da OMS, continuou a propaganda do PCC sobre “alimentos contaminados” vindos do estrangeiro.

Ao mesmo tempo, Zeng Guang, um cientista chefe do Centro Chinês de Controlo e Prevenção de Doenças, disse que afinal o vírus pode ter tido origem num laboratório americano. Zeng acusou os Estados Unidos de múltiplos “crimes” na produção e utilização de armas biológicas, implicando que podem também ter criado o vírus responsável pela Covid-19.

Acabou? Não. Porque enquanto o chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirma que a missão em Wuhan teria “acrescentado informações importantes”, notícia logo amplificada por todos os meios de informação ocidentais segundo os quais “o vírus não teria fugido do laboratório de Wuhan“. Mas agora são os mesmos peritos da Organização que acusam a China de falta de colaboração: “Queremos mais dados, pedimos mais dados”, diz Peter Ben Embarek, o especialista em comida que liderou a missão na China, segundo o qual Pequim recusou fornecer “alguns dados-chave”.

Antes da missão, os cientistas chineses tinham identificado 72.000 casos de Covid-19 entre Outubro e Dezembro. Mas, após uma análise minuciosa dos casos, concluíram que apenas 92 pacientes mostravam sintomas de Covid-19. Desses 92, 67 deram positivos nos testes serológicos, todos outras foram negativos.

Ben Embarek explicou à AFP (via Swiss Info) que a equipa não tinha, contudo, acesso aos critérios específicos que foram utilizados:

Estamos a tentar compreender como seja possível passar de 72.000 para 92 casos.

Isso porque a China recusa entregar os dados em bruto e explicar qual a metodologia utilizada na verificação.

Morcegos? Pangolins? Esqueçam: a origem do coronavírus ainda não é clara, nem foi identificado o animal que “hospedou(“o vírus. Se é que existe. “Ainda não há um candidato como intermediário” explicou a viróloga Marion Koopmans, um membro da equipa da OMS.

E há quem, mesmo na Administração de Zombiden, agora comece a ter dúvidas. É o caso do Conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, que expressou “profunda preocupação” com as conclusões da missão da OMS em Wuhan, manifestando receios de que os delegados da missão foram forçados pelas autoridades chinesas a manipular os dados sem terem tido acesso à informação necessária. O quer justifica o pedido de Embarek para a obtenção de mais dados. E Sullivan vai além disso, lançando um aviso à OMS: “profundo respeito” pela instituição, mas proteger a credibilidade da Organização é uma “prioridade chave”. Tradução: “ao menos tentem não cair no ridículo”.

Eu não sei se o vírus fugiu ou não do laboratório: ninguém nesta altura pode legitimamente provar esta versão ou a contrária. Impossível nesta altura falar da eventual origem. Mas seria fundamental fazer clareza porque, caso tenha havido responsabilidades, os protagonistas deveriam pagar por ter causado, de forma voluntária ou não, mortes e miséria numa escala global. Uma investigação conduzida nestes moldes é um insulto à inteligência de todos. E o facto que alguém como a OMS tenha organizado esta opereta em colaboração com a China não faz que alimentar as suspeitas: passou um mais de um ano desde o começo da “pandemia” e ainda estamos na estaca zero.

 

Ipse dixit.