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A estratégia de Putin

Global Research acaba de publicar um artigo de Pepe Escobar que convido a ler neste link (a ligação deveria abrir a versão já traduzida em Português).

O artigo de Escobar é sem dúvida válido, mas acho que ignora outros pontos que justificam o apelo da Administração ZomBiden contra a “ameaça russa” e para que os aliados europeus “cerrem as fileiras”.

Um facto é que a Rússia de Putin é hoje o maior obstáculo à Nova Ordem Mundial assim como entendida pelo World Economic Forum. O Presidente russo compreendeu muito bem que o avanço da NATO para leste (Ucrânia, Geórgia e outros Países) não se limita ao nível militar e económico, mas faz parte de uma campanha de agressão contra a integridade do Estado russo pela sua visão da ideologia liberalista. Putin está a opor-se à esta “nova” concepção do mundo através da defesa da identidade nacional, a rejeição do projecto globalista que nega os valores tradicionais, incluindo os da Igreja Ortodoxa Russa.

Todos os valores que no Ocidente, e em particular na União Europeia, estão a ser substituídos pelo relativismo moral. Graças também ao manifesto de apoio espiritual da Igreja Ortodoxa, Putin consegue contrariar a ofensiva ideológica desencadeada pelos agentes da NWO. Não acaso, no discurso público em Valdai (na Rússia), referindo-se ao Ocidente declarou:

Deixámos para trás a ideologia soviética sem retorno, mas ao mesmo tempo não estamos inspirados pelo liberalismo ocidental. […]. Um neobarbarianismo moral está a bater às portas e quer destruir as pátrias através da depravação moral, especialmente a destruição da família tradicional e natural com os casais homossexuais, a perda da fé em Deus e a crença em Satanás. Os valores naturais e tradicionais devem ser defendidos. […] Cada Estado deve ter forças militares, tecnológicas e económicas, mas o que conta acima de tudo é a força moral, intelectual e espiritual dos seus cidadãos. O passado trágico da URSS deveu-se sobretudo à falta de valores morais e espirituais. […] É necessário regressar à mentalidade de responsabilidade connosco, para com a sociedade e para com a lei; se não soubermos como sair da actual crise moral e espiritual, não nos recuperaremos.

Podemos concordar ou não com as ideias de Putin, mas uma coisa tem que ser reconhecida: estão em aberto contraste com a “fé” do Great Reset e, mais no geral, com as ideias” dos “progressistas” ocidentais. Isto explica também a agressão das forças globalistas contra o governo de Putin, que legisla a favor da família, contra as uniões homossexuais, pelo aumento da taxa de natalidade, contra o aborto e a pornografia. Não podemos ignorar a importância destes aspectos porque, além dos proclamas ideológicos (políticos, económicos, ambientalistas, etc.) são estes que mais podem reflectir o espírito dum cidadão, são estes que determinam os valores no meio dos quais um cidadão actua.

Contrariamente ao que acontece no Ocidente, onde o cidadão é voluntariamente desorientado com a repentina substituição de valores milenários com outros, frutos da vontade de minorias e desligados das efectivas exigências da sociedade, Putin oferece uma sociedade onde a continuidade dos valores é central: isso cria certeza, cria segurança, o exacto contrário do que acontece no Ocidente. Continuo convencido de que a questão dos valores numa sociedade seja de extrema importância: apesar de não concordar com alguns dos valores apresentados por Putin, reconheço nele uma estratégia capaz de apresentar dividendos no médio e longo prazo. Uma estratégia que também respeita a sociedade, vista não apenas como ovelhas desnorteadas mas como ovelhas unidas por algo mais do que o dinheiro (mas sempre ovelhas, claro: Putin não é um santo).

Perante esta estratégia, acontece que em Moscovo os diplomatas ocidentais são apanhados em flagrante delito enquanto instigam protestos sob o pretexto de “violação dos direitos humanos”: a Embaixada dos Estados Unidos na capital russa publicou uma lista de manifestações pró-Navalny que incluía reuniões desconhecidas até aos organizadores locais. Uma táctica que reforça ainda mais a posição de Putin que, neste caso, tem jogo simples em demonstrar a “barbaridade” e as contradições do Ocidente. Não acaso, Navalny foi citado pelo mesmo Ministro dos Negócios Estrangeiros de Putin (e cortado nas reportagens ocidentais) em paralelo aos dissidentes perseguido no Ocidente: Julian Assange no Reino Unido, os dissidentes catalães, o professor iraniano Kaveh L. Afrasiabi detido nos EUA pela FBI sob a acusação de “fazer propaganda a favor do Irão”. Não são pormenores: os diplomatas ocidentais que participaram nas manifestações de protesto violam as regras,em vigor em todo o mundo acerca do comportamento do pessoal diplomático.

Putin é neste momento o principal obstáculo ao projecto geopolítico do NWO, muito mais do que a China: a Rússia apoia o eixo de resistência no Médio Oriente (Síria-Irão-Hezbollah), apoia os Países que tentam libertar-se do domínio dos Estados Unidos na Ásia, bem como na América Latina. Os agentes da NWO estão furiosos com Putin porque este estragou os planos na Ucrânia, na Síria, agora na Venezuela e está a desafiar muitos dos princípios que compõem a ideologia de base da NWO. ZomBiden e Victoria Nuland (aquela que distribuía bolachas durante o golpe em Kiev em 2014) estão à espera de uma possível jogada errada de Putin. Mas este é um jogador navegado.

Como sempre: não é o caso de idolatrar nem Putin (cujo conceito de “democracia” é no mínimo singular) nem o regime dele. O Leitores de Informação Incorrecta bem sabem que não há Bons dum lado contra Maus do outro. Mas é sempre positivo, ao menos, reconhecer as facções em campo.

 

Ipse dixit.