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Bob Dylan, Neil Young e os outros: entre música, vírus e multinacionais

Bob Dylan vendeu o catálogo completo das suas canções à Universal Music: uma operação colossal, estimada em mais de 300 milhões de Dólares, a maior aquisição de direitos de autor da história para um único artista. Mais de 600 canções que cobrem 60 anos de carreira. E não é o único, há alguns dias atrás outro monstro dos palcos, Neil Young, levantou um cheque milionário: vendendo 50% dos seus direitos a uma sociedade de investimentos, encaixando mais de 50 milhões de Dólares. Mas o que leva os autores deste calibre a realizar tais operações? Simples: os tempos mudam.

O streaming tem reduzido as entradas dos artistas, atirando incertezas para o sector. Esquisito: mas não deveria ter sido a pirataria a matar o mundo da música? Pelo visto não foi, aliás, estão a ser empresas privadas que actuam no respeito das leis: Apple Music, Spotify, Soundcloud, Amazon Music, Youtube, Tune In… Pelo que: melhor uma galinha gorda hoje de que um pequeno ovo todos os dias.

Depois há razões fiscais: nos EUA estas operações pagam menos impostos quando comparadas às entradas dos direitos de autor. Eis uma boa maneira para matar a música: atira-la para os braços das grandes empresas privadas, possivelmente multinacionais. A Universal Music, por exemplo, é de propriedade da chinesa Tencent e da francesa Vivendi: gere um sem número de casas discográficas com nomes quais Capitol Music, Island Records, EMI Records, Decca, Deutsche Grammophon, Polydor Records, Virgin Recordas, Motown, Abbey Road Studios… mas a lista nunca parece ter fim. Por sua vez, a chinesa Tencent é um conglomerado de empresas, entre as quais a principal é a holandesa Prosus (dona também da OLX), que por sua vez é detida pela sul-africana Naspers etc., etc. O jogo da matriosca, como já sabemos.

Outra razão tem a ver com a “pandemia”: concertos ao vivos? Já forma ou, em qualquer caso, serão limitados em termos de afluência e periodicidade. E os espectáculos ao vivo representam um fatia privilegiada nas entradas dum artista.

E para acabar com as motivações: a recente eleição de Joe Biden acelerou este tipo de transacções porque é sabido que a nova Administração pretende aumentar os impostos.

Pelo que: nos próximos meses é lícito esperar outras operações como estas: do ponto de vista dos investidores é uma óptima altura pois inflação e taxas de juros estão em baixo, enquanto os artistas, privados dos concertos ao vivo, vêem na venda dos seus direitos um óptima ocasião para capitalizar já de forma segura contra as incertezas do futuro.

Calvin Harris e The Killers venderam os seus catálogos a empresas de investimento, enquanto que a antiga frontwoman da Fleetwood Mac Stevie Nicks vendeu a participação maioritária nas suas canções à Primary Wave Music por cem milhões de Dólares.

Como afirmado: os tempos mudam.

 

Ipse dixit.