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Em que acreditar e porquê?

Ao ler os comentários de alguns Leitores (que agradeço, como é claro), deparei-me com um ponto importante: os documentos podem ser falsificados e a História reescrita. Justo e não faltam exemplos disso. Mas isso cria um problema e é mesmo aqui que peço a intervenção dos Leitores. Sigam-me mas metaforicamente, por favor.

A Bíblia, por exemplo, foi profundamente revista ao longo dos séculos e a versão que temos hoje é só um reflexo da original. Isso aconteceu ou pode ter acontecido com virtualmente qualquer documento histórico ou recente.

Pensa o inteligente Leitor: “Seria possível cruzar as informações contidas em vários documentos compilados ao longo dos séculos e comparar os resultados”. Mas isso nem sempre é possível e não pode ser excluída a hipótese de que não uma mas toda uma série de documentos possam ter sido alterados intencionalmente para criar uma nova versão.

Portanto, se a nossa intenção for encontrar a verdade, ou ao menos tentar isso, então temos que usar um outro instrumento: a coerência. O que significa isso? Muito simples: significa que temos que partir do princípio que todos os documentos possam ter sofrido alterações intencionais, possam até ter sido criados, independentemente da época. Todos, sem excepção nenhuma.

Pegamos num documento entre aqueles publicados mais recentemente: The Great Reset, redigido e disponibilizado online pelo World Economic Forum. O que sabemos dele? Sabemos que foi escrito por várias pessoas, nenhuma delas simpáticas; pessoas ricas, muito ricas, entre as mais ricas do planeta. Sabemos que tudo tem a aprovação das maiores multinacionais do mundo e que até recebeu os parabéns do (falso) Papa. Há formas de estabelecer, além de qualquer dúvida, que The Great Reset seja de verdade o que aparenta ser? O programa da elite para os próximos tempos? A resposta só pode ser uma: não, não estamos em condições de pensar isso.

Podemos pensar que The Great Reset seja verdadeiro porque insere-se perfeitamente num quadro geral onde todas as peças formam um conjunto homogéneo? Dito de outra forma: The Great Reset é verdadeiro porque todas as provas disponíveis, directas e indirectas, apontam na mesma direcção do documento? Também neste caso a resposta é só uma: não, não podemos pensar desta forma porque uma eventual conspiração não deixaria de construir uma cenografia que apoie as suas intenções ocultas. E construir uma cenografia significa criar provas, doutrinar as pessoas, falsificar a percepção do presente e do passado também.

Somos obrigados a raciocinar desta forma pelo princípio de coerência. E a coerência diz-nos que não podemos confiar no The Great Reset, tal como em princípio não podemos confiar em documento nenhum. E, no caso de The Great Reset, as coisas estão ainda piores: estamos perante um documento redigido por um conjunto de pessoas e empresas que sabemos terem todo o interesse em mentir, pois isso é algo que fazem de forma constante e porque é suposto terem objectivos “ocultos”.

É também claro que, sempre pelo princípio de coerência, não podemos decidir de forma arbitrária em quais documentos acreditar e em quais não: a coerência tem que falar mais alto, sempre. Uma situação complicada, não é?

Tentamos encontrar uma saída desfrutando a teoria suportada por Chaplin, segundo a qual atrás de todos os grandes acontecimentos da História sempre houve e ainda há a mão dos judeus. Apliquemos esta ideia ao The Great Reset e perguntamos: por qual razão este bando de criminosos deveria tornar públicas as suas intenções para as próximas décadas ou até séculos? Sabendo que qualquer documento pode ser falso, sabendo que os conspiradores judeus costumam actuar nos bastidores para alcançar os seus objectivos, sabendo que os mesmos utilizam muitas vezes os não judeus como marionetas e seguindo o princípio da coerência segundo o qual não pode haver excepções, o resultado é que não podemos confiar no The Great Reset e nas previsões nele contidas. Bem pelo contrário: temos o dever de desconfiar, de pensar que seja uma mentira.

Consequência: quando o autor Klaus Schwab fala numa sociedade onde até o nosso pensamento é disponibilizado online, quando afirma que terá de ser implementado um sistema de credito social, quando lembra dos princípios malthusianos (a diminuição da população mundial), está a mentir. E sabendo que o Schwab trabalha no Peres Center For Peace de Tel Aviv (israel) e que foi distinguido várias vezes por instituições judaicas (Doutoramento Honorário em Filosofia na Universidade Ben-Gurion – da qual é também Professor -, Doutoramento Honorário em Filosofia na Universidade de Haifa, Dan David Prize da Universidade de Tel Aviv), é evidente a profunda ligação entre o autor e a lobby judaica. Mas isso só pode significar uma coisa: a lobby judaica, que trabalha numa conspiração milenária recheada de astutas mentiras, quer fazer passar uma ideia errada da verdade. O que está apresentado no The Great Reset não pode de forma nenhuma ser verdade.

Utilizando o mesmo processo de coerência (que é um processo baseado na lógica), temos o dever de desconfiar de todos os documentos publicados por pessoas judaicas, que viram o envolvimento de indivíduos daquela etnia ou que tinham ligações com a mesma. A intenção deles, enquanto judaicos, só pode ter sido uma: falsificar a realidade e apresentar um mundo mais em conformidade aos interesses judaicos. E isso tem que valer no caso de todas aquelas instituições próximas da lobby também: a Comissão Trilateral, o Council on Foreing Relations, Chatham House… Todos os escritos que costumam ser utilizados por parte da informação alternativa como “demonstração” da conspiração judaica (ou duma suposta elite supranacional) não podem ser abraçados de forma acrítica, ao contrário: temos o preciso dever de desconfiar deles, pois é óbvio que numa pesquisa séria não é possível considerar como válidos apenas os textos que comprovam as nossas ideias. Demasiado cómodo e, sobretudo, não coerente.

Reflictam: como podemos provar que The Great Reset oferece um vislumbre do futuro? Porque foi escrito por um conjunto de pessoas ricas, próximas dos conspiradores judaicos? Obviamente não, os conspiradores mantêm a conspiração oculta, se não que raio de conspiração é? Porque descreve um mundo que parece ser a lógica consequência do nosso actual? Mas sabemos que vivemos em regimes democráticos que democráticos não são, sabemos que as ideologias políticas são fruto da conspiração judaico-maçónica, sabemos que o mesmo conceito de Estado ou Nação é uma derivação judaico-maçónica; sabemos que a luta de classe não existe, ou melhor, que foi implementada segundo o princípio divide et impera. Na verdade, nada do que podemos observar é realidade, tudo pode fazer parte da cenografia criada pela conspiração judaico-maçónica. E agora teríamos de acreditar que o Fórum Económico Mundial apresenta a verdade? E por qual razão deveria fazer uma coisa assim? Não tem lógica nenhuma.

Repito: citei a conspiração judaico-maçónica porque apoiada pelo Leitor Chaplin, mas é possível aplicar o mesmo método no caso de qualquer conspiração. E mais: o discurso não pode ser limitado ao presente, tem ainda mais razões de ser quando referido ao passado, porque, como é intuitivo, é mais simples falsificar documentos antigos, muitas vezes publicados num número limitado de cópias ou até em exemplares únicos. Ou totalmente inventados. Isso cria uma situação embaraçosa porque, até excluindo a milenária actividade da lobby judaica, temos um sem número de teorias que pretendem explicar o mundo duma forma diferente. A coerência obriga a desconfiar de tudo, sem excepções. Um exemplo? Aqui vai ele.

O Império Romano existiu? Provavelmente não. Os escritos latinos nada provam, pois podem ter sido criados a posteriori. As ruínas? Também uma criação, por qual razões exclui-las dos desenhos conspiratórios? Tudo isso parece um paradoxo? Nada disso.

Como alguns entre os Leitores sabem, o matemático russo Anatoli Fomenko, em colaboração com vários outros matemáticos russos entre os quais Gleb Nosovski, utilizou como base a História oficial (que evidentemente foi falsificada) para criar a Nova Cronologia, segundo a qual a cronologia mundial como a conhecemos hoje é fundamentalmente errada. Até o famoso jogador de xadrez Garry Kasparov pertence ao grupo de notáveis que apoiam a teoria. E esta, na realidade, nem é nova: o jesuíta francês do século XVII Jean Hardouin tinha a mesma opinião. No seu Chronologiae ex Nummis Antiquis Restitutae (de 1696) ele considera falsos quase todos os clássicos da literatura grega e romana antiga:

Não só a literatura, mas também a maioria das obras de arte antigas são falsas: o Apolo do Belvedere, o Doriforus do Polyclitus, a Coluna de Trajano: todas criadas artisticamente no século XIII por um certo Severus Arcontius, que com essa celebração do paganismo teve a intenção de apagar o nome de Cristo do mundo.

Hardouin negava a veracidade da maioria das obras de arte antigas, das moedas, das inscrições e afirmava que o Novo Testamento tivesse sido originalmente escrito em latim em vez de grego.

Sir Isaac Newton, examinando a cronologia da Grécia Antiga, do Antigo Egipto e do Antigo Médio Oriente, expressou descontentamento com as teorias predominantes e no livro The Chronology of Ancient Kingdoms Amended alterou tanto a Guerra de Tróia quanto a Fundação de Roma. Em 1887, o historiador Edwin Johnson expressou a opinião de que a história cristã inicial foi em grande parte inventada ou corrompida nos séculos II e III. E já em 1909 o Otto Rank, durante 20 anos colega de Sigmond Freud, escreveu:

Quase todos os importantes povos civilizados teceram mitos e glorificaram em poesia os seus heróis, Reis e príncipes, fundadores de religiões, de dinastias, impérios e cidades – em suma, os seus heróis nacionais. Especialmente a história dos seus nascimentos e dos seus primeiros anos é fornecida com traços fantásticos; a surpreendente semelhança, quase literal, desses contos, mesmo que referidos a povos diferentes, completamente independentes, por vezes geograficamente distantes uns dos outros, é bem conhecida e impressionou muitos pesquisadores.

Problema: Otto Rank era judeu, pelo que, retomando a teoria conspiratória judaica, é quase certo que tudo o que ele escreveu era falso. Mas Fomenko, Hardouin ou Newton não eram judeus. Podemos acreditar neles? Na verdade não: os livros de Hardouin e Newton podem ter sido alterados ao longo dos séculos, pelo que é lícito duvidar das ideias deles.

Discurso diferente no caso de Fomenko e do colega Nosovski, que são nossos contemporâneos, pelo que, em princípio, a confiança poderia ser concedida. Mas Garry Kasparov é judaico, vive num País governado por oligarcas judaicos e apoia a Nova Cronologia: isso não sugere algo? Claro que sugere: Kasparov, enquanto judeu num País regido por judeus, tem todo o interesse em esconder a verdade, em falsificar a nossa visão do mundo e com ela a nossa História. Pelo que, a Nova Cronologia é um falso, a versão oficial da nossa História deve ser verdadeira. Mas não pode, pois sabemos que os documentos antigos foram falsificados ou até inventados para justificar o mundo de hoje. Então a História é verdadeira e falsa ao mesmo tempo.

Nesta altura o Leitor estará a pensar: “O Max está numa de gozar….”. Errado: o discurso é sério e particularmente actual porque tem implicações na forma como lidamos com os acontecimentos presentes. Agora, façam o favor de esquecer tanto o caso da Nova Cronologia e quanto a conspiração judaico-maçônica que utilizei apenas como exemplos (não quero ler justificações acerca duma ou da outra, aviso já que eventuais comentários neste sentido serão apagados porque não são o foco deste artigo). Esqueçam isso e, tendo em conta quanto dito acerca do princípio da coerência (não podemos assumir como válida nenhuma prova porque tudo pode ter sido falsificado no passado e a visão do presente também pode ser “induzida”), eis a minha pergunta: em quê basear-se para estabelecer o que é credível e o que não é? Como separar o trigo do joio? Com base em quê o Leitor abraça algumas teorias (com relativas “provas”) enquanto recusa outras?

O quê? São três perguntas e não uma? Não se queixem, é dia de oferta. Obrigado pela participação e fiquem bem.

 

Ipse dixit.