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Enfrentado a perigosa pandemia com o máximo cuidado

Acabo de falar com um casal amigo que mora em Italia e vou relatar os acontecimentos porque significativos.

Eis os factos: a amiga Cristina (50 anos) trabalha num hospital, repara em alguns sintomas (fraqueza, tosse) pelo que é submetida ao teste para a detecção do vírus da Covid-19. A zaragatoa confirma: positiva. Começa assim o confinamento em casa.

O marido dela (56 anos) começa com sintomas parecidos (mais febre) uns dias depois, pelo que também ele é submetido à zaragatoa que confirma: positivo. E começa o confinamento dele também.

Tanto Cristina quanto o marido passam três dias na cama naquela que tem todo o aspecto duma gripe. Depois disso os sintomas desaparecem, permanecendo apenas uma pouco de fraqueza que se vai embora passados mais uns dias.

Sábado dia 5 de Dezembro, nova zaragatoa para Cristina e mesmo resultado: positiva. Mas, explica o governo italiano, mesmo que a segunda zaragatoa seja positiva, a carga viral é inferior pelo que o confinamento pode acabar. Todavia, para sair de casa, é precisa a autorização definitiva do médico de família (caso contrário multa de 4.000 Euros mais uma queixa crime por “difusão de pandemia”). Obviamente os médicos de família nesta altura estão sobrecarregados de trabalho, portanto, mesmo tendo recebido o resultado do exame ao mesmo tempo de que Cristina, conseguirá enviar a certidão via e-mail só nos próximos dias.

Não é um grave problema, porque nesta semana acabam 21 dias desde o começo da doença, termo após o qual, segundo o Governo italiano, o sujeito deixa de ser “infectante”. Pelo que Cristina estará autorizada a sair de casa e voltar ao trabalho. E aqui começa a parte divertida.

Mesmo que tenham passados os 21 dias, mesmo que o sujeito tenha recebido a autorização do médico dele, em algumas empresas podem ser efectuados novos testes (sempre zaragatoas). No caso de Cristina, que faz parte do pessoal sanitário dum hospital, este novo exame será obrigatório e, caso o resultado seja uma vez mais “positivo”, terá que voltar ao confinamento doméstico porque considerada “infectante”. E todo o processo recomeçaria.

Então, qual a parte divertida? É que o último novo teste não é obrigatório em todos os lugares de trabalho, apenas em algumas repartições do Estado: nas empresas privadas fica ao critério do empregador. Portanto, se um sujeito for ainda positivo e, segundo as definições, “infectante” mas o empregador não achar oportuno testar os funcionários, o doente terá todas as possibilidades de continuar a espalhar a terrível “pandemia” entre colegas, amigos, familiares… Isso deveria sugerir algo acerca da real intenção de travar a terrível “pandemia”: o Estado afirma que um sujeito que tenha enfrentado a doença pode continuar a espalhar a mesma também após o período pré-determinado de 21 dias (é por isso que obriga o pessoal sanitário ao novo teste), mas não obriga todos os possíveis “infectantes” a testarem-se.

Entretanto em Portugal…

Agora um salto até “o jardim à beira mar plantado”. Uma creche, umas educadoras (todas entre 40 e 60 anos de idade) e, entre elas, uma que descobre ter sintomas de Covid-19. Faz o teste (sempre a zaragatoa) que confirma: é vítima da “pandemia”. Pelo que fica em isolamento enquanto a noticia é logo comunicada ao Ministério da Saúde.

O raciocínio deveria sugerir: e que tal fazer o teste também aos meninos que passam os dias ao cuidado da educadora? Afinal não é esta uma pandemia que mata? É, sem dúvida que é. E o resultado é que as crianças não são submetidas aos testes. Nada de nada.

O marido da educadora positiva fica com dúvida: sendo que nenhum outro membro da família está doente, não será o caso de fazerem um teste? Afinal não é esta uma pandemia que tem uma capacidade de infectar maior do que uma simples gripe? Liga ao seu médico e a resposta é algo como “nem pense gastar recursos numa coisa assim”. O marido fica zangado perante uma resposta que acha ser estúpida (e é: estamos ou não no meio duma pandemia?), decide assim pagar do seu bolso o teste, que dá resultado negativo. Normal: sabemos que a Covid-19 é transmitida com extrema facilidade…

Comentar para quê?

 

Ipse dixit.