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Coronavirus I – ABC do contagio

Acabado de voltar de Italia, onde fiquei ao lado do meu pai doente, eis que encontro o terrível Coronavirus também em terra lusa. E já há casos de contagio também em outros Países do mundo. Portanto, a primeira coisa a fazer (esperando que possa ajudar) é um pouco de clareza: algo não simples, pois não apenas na internet mas também nos órgãos de comunicação social é possível encontrar tudo e o contrário de tudo.

Considerado que não tenho nenhuma formação médica, eis o que penso:

O Coronavirus é um vírus novo?

Não. O Coronavirus, na realidade, é uma família de vírus. O agente patogénico que está a causar a pandemia é um vírus que faz parte desta família e cujo nome oficial é SARS-CoV-2, que provoca a doença chamada CODIV-19.

Para sermos mais precisos:

Famiglia = Coronaviridae

Sottofamiglia = Orthocoronavirinae

Genere = Betacoronavirus

Sottogenere = Sarbecovirus

Sarbecovirus SARS-CoV-2 > Doença = CODIV-19

Então porque falam de “Novo Coronavirus”?

Seria mais correcto falar de “novo membro da família Coronavirus”, mas para simplificar utiliza-se “Novo Coronavirus” para indicar o vírus SARS-CoV-2, descoberto no final de 2019, que provoca a doença CODIV-19.

Quais são os sintomas da doença CODIV-19?

CODIV-19, como vimos, pertence à família dos Coronavirus que provoca síndromes influenciais (gripe). CODIV-19 não é uma excepção: febre, tosse seca, fadiga, falta de ar, dificuldade em respirar, com um tempo de incubação que pode ir até os 14 dias. Mas há muitos casos sem sintomas (o que pode acontecer também no caso duma gripe normal).

Nos casos mais graves, as complicações da CODIV-19 podem provocar pneumonia, insuficiência renal aguda, até morte.

Portanto a doença CODIV-19 é mortal?

Não: ninguém morre de gripe. Não se morre “de” CODIV-19 mas “com” CODIV-19. A diferença é substancial: o que acontece é que, quando o vírus encontra uma pessoa com um sistema imunitário fragilizado, pode desencadear as citadas complicações. Por exemplo, no caso da pneumonia, a CODIV-19 não “traz” a pneumonia para o corpo do doente; o que acontece é que o CODIV-19 enfraquece ainda mais as já débeis defesas imunitárias do indivíduo que, desta forma, não consegue combater infecções que normalmente seriam combatidas com sucesso.

É verdade que a taxa de mortalidade da CODIV-19 é superior àquelas das gripes normais?

Em medicina é mais correcto falar em “taxa de letalidade”, isso é, o número de óbito que acontecem no total das pessoas infectadas.

A taxa de letalidade da CODIV-19 é superior às da gripe comum?

Não é possível dar uma resposta por enquanto. As taxas de letalidades, para ser fidedignas, podem ser fornecidas só depois da epidemia (ou pandemia, como neste caso) ter acabado. Isso porque durante a fase aguda não há certeza acerca do efectivo número de contagiados.

Um exemplo: os últimos dados oficiais de Italia falam de 21.157 casos totais de CODIV-19 e 1.441 óbitos. Se assim fosse, a taxa de letalidade seria de 6.8%. Todavia, a suspeita é que os casos totais nesta altura ultrapassem já os 60.000, pelo que a taxa de letalidade real seria de 2.4%. Se, como apoiam alguns, os contagiados em Italia já ficam perto dos 100.000, a taxa cai ainda mais: 1.44%.

É verdade que a CODIV-19 é letal não apenas no caso de pessoas idosas?

Sempre segundo os últimos dados oficiais, a idade média das pessoas mortas é de 82 anos. E a grande maioria delas tinha graves patologias em andamento. Pelo que, não é suficiente ser idoso para morrer com a CODIV-19.

Obviamente, a chave de tudo este discurso é a condição do sistema imunitário: um sistema imunitário frágil pode falhar perante o CODIV-19 também no caso de pacientes bem mais jovens. Todavia o dado acerca da idade média é bastante significativo.

Mas é verdade que uma gripe normal não mata tanto assim?

Um país como Italia, com um dos sistemas sanitários mais evoluídos do Ocidente, registra anualmente entre 4.000 e 7.000 mortes relacionadas com a gripe. Em toda a Europa, os óbitos chegam anualmente aos 70.000 casos.

Mas então porque nos outros anos não se fala disso?

Este é um discurso muito mais complexo que será enfrentado no próximo artigo.

Dizem que este vírus é mais perigoso porque não há vacina.

A maior parte da população de qualquer País enfrenta as gripes sazonais sem vacinas e, mesmo assim, sobrevive alegremente: o importante é manter saudável o sistema imunitário e deixa-lo trabalhar. A vacina pode ser útil apenas nos casos das categorias de risco (idosos com patologias já presentes, diabetes severos, tumores, etc.).

Eu sou uma pessoa saudável de meia idade, pelo que posso ignorar a CODIV-19, justo?

Não, não é justo. Não podemos pensar apenas em nós, temos que pensar nos outros também. O que para nós pode ser mortal no caso de outras pessoas, em particular de pessoas idosas. Que também podem pertencer à nossa família (avós, pais, tios, etc.).

Então como posso evitar o contagio?

Seguindo as recomendações do Ministério da Saúde. Sobretudo: lavar ou desinfectar frequentemente as mãos.

Uma mascara ajuda?

Não. A máscara de tipo mono-uso não tem efeito contra o vírus, que é muito mais pequeno do enredo formado pelo tecido da máscara: o vírus passa tranquilamente através dela. A máscara é mais útil no caso de pessoas contagiadas: consegue reter a expectoração e, assim, uma parte da carga viral também.

Para ter uma máscara eficaz seria preciso utilizar um modelo mais evoluído, possivelmente com filtro contra os riscos biológicos. Mas a despesa não encontra justificação no caso de pessoas que não pertencem às categorias em risco.

Faz sentido fechar escolas, cinemas, lojas; evitar contactos físicos, ficar fechados em casa?

Faria sentido se esta fosse a normalidade, cada vez que se apresente uma vaga de gripe. Por qual razão no ano passado ninguém ficou fechado em casa e os mortos relacionados com as consequências da gripe foram ignorados? E no ano próximo como será? Todos em casa outra vez ou voltamos a fazer de conta que a gripe e os mortos não existem?

Dizes que esta é uma gripe normal mas os hospitais estão em crise.

Este é o ponto nevrálgico da CODIV-19: as estruturas não estão preparadas para enfrentar a crise. Além disso, outro factor (mas não o único que deve ser considerado) é que ao longo dos anos passados, em nome da economia, foram cortados fundos para a saúde. É uma situação que costuma repetir-se anos após ano, com estruturas de apoio sobre-lotadas. O verdadeiro perigo é o colapso das estruturas de apoio aos doentes.

Tu como te comportas?

Faço a minha vida normal, no limite do possível. Saio sem problemas, tento trabalhar, vou às compras, faço a minha vida: tento não cair na psicose da CODIV-19. Tenho mais atenção em relação à limpeza das mãos, que lavo com mais frequência, isso sim. E, por enquanto, evito contactar pessoas idosas e doentes apesar de não ter CODIV-19 (acho).

Não ficas em auto-isolamento?

Nem me passa pela cabeça.

E se começasses a ter sintomas de gripe?

Vou trata-la como uma gripe normal: fico em casa, não vou às urgências, tomo antipiréticos contra a febre, sumo de laranja, vejo alguns velhos filmes em DVD, volto a escrever no blog.

Fizeste estoques de água e comida?

Não estamos em guerra.

Mas enfim, não estás preocupado nem um pouco?

Comigo nem um pouco. Com as pessoas idosas e doentes sim.

 

 

Ipse dixit.