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O Ucraingate e as 10 regras de Chomsky

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Antes de começar: Fiquem descansados, o artigo acerca de Epstein não está esquecido e, aliás, estou a tentar contactar a jornalista que tratou da pesquisa toda e que fez um trabalho enorme. E não, o artigo na verdade não é sobre Epstein, do qual afinal já dissemos o essencial: Epstein é apenas o ponto de partida, o artigo é muito mais amplo, parte desde o período da Lei da Seca, nos Estados Unidos dos anos ‘30 do século passado, para reconstruir o emaranhado de máfias, homens de negócios, políticos, serviços secretos, chantagens e, obviamente, pedofilia. Uma história feia e comprida que está a dar-me bastante trabalho.

Mas é tempo do primeiro assunto: Donald Trump, o seu processo de impeachment com anexos e conexos. Assunto antipático porque o risco é aquele de passar a imagem de defensor do Presidente dos Estados Unidos. Deus me valha! Na verdade, o caso Ucrânia mostra algo um pouco diferente. Vamos ver.

Ucraingate

Antes: os factos.

Donald Trump teria telefonado ao novo presidente ucraniano, Zelensky, para que este fornecesse informações para tramar Joe Biden, o candidato democrático nas eleições presidenciais de 2020. Uma atitude profundamente incorrecta, merecedora do processo de impeachment porque, se assim fosse, Trump teria tentado sabotar o seu rival exigindo a reabertura duma investigação contra Biden. Daí o pedido de impeachment: o Ucraingate.

O problema qual é? O problema é que este processo, com as relativas investigações, está a mostrar algo de ainda mais sujo. E as acusações dos democratas arriscam ter em pesado efeito boomerang.

O filho de Joe Biden, cujo nome é Hunter Biden, ficou no topo de uma empresa de gás ucraniana, a Burisma Holdings, pertencente a um oligarca ucraniano: na Burishima Holdings, Biden recebia um salário de 50.000 Dólares por mês, isso sem ter nenhuma experiência no sector.

Na Ucrânia, o Procurador-Geral tinha aberto um inquérito sobre a Burisma Holdings. Joe Biden é agora acusado de pedir ao Presidente ucraniano da altura, Poroshenko, a cabeça do Procurador, ameaçando que, caso contrário, não teria desbloqueado a “ajuda” de 1 bilião de Dólares que o governo dos EUA tinha decidido em favor do amigável governo de Kiev. Tudo isso aconteceu enquanto o pai de Biden era vice-Presidente dos Estados Unidos e na Casa Branca ficava o simpático Obama, o Democrata Nobel da Paz.

Tudo isso está provado: está provado que o filho de Biden recebia 50 mil Dólares por mês. Está provado que o Procurador-geral, Victor Shokin, estava a investigar a Burisma Holdings, uma empresa ucraniana mas com sede em Chipre, pertencente ao oligarca Zlochevsy. Verdadeiro e comprovado é que o governo Obama, através do deputado Biden a quem Obama tinha entregue o dossier da nova Ucrânia “pró-ocidental”, pressionou Kiev para que o Procurador Shokin fosse despedido.

A impressão pessoal é a seguinte: o impeachment dará em nada porque quanto mais investiga-se tanto mais levanta-se o véu sobre o que fez à Ucrânia e aos ucranianos o Presidente dos Estados Unidos e Nobel da Paz com os seus acólitos. A atitude criminosa do Partido Democrático emergiria por completo. Assim como emergiria o total silêncio dos republicanos, que falam só agora, quando Trump está a ser acusado.

Isso explica os vários actos de desespero com os quais, juntamente com o Deep State e os media complacentes, os Democratas prepararam a acusação contra Trump. Acusação feita através de um “acusador” que não foi testemunha ocular do telefonema de Trump ao neo-Presidente ucraniano, e dum deputado democrata, tal Adam Schiff, que é figura bem interessante: Adam Schiff está em negócio com um traficante de armas ucraniano, Igor Pasternak, ligado a Georges Soros. E mais: a irmã do mesmo Adam Schiff casou-se com um dos filhos de George Soros.

Agora, Donald Trump não pode ser definido como uma pessoa inteligente, acerca disso temos poucas dúvidas, mas alguém da sua Administração deve ter uma cabecinha um pouco mais evoluída. Então eis que a Casa Branca decidiu publicar um documento confidencial, a transcrição do telefonema entre Trump e o Presidente ucraniano, Zelensky. Deixo o link para o documento no fundo do artigo escrito nas páginas do blog. E surpresa: no documento não há nada. A única referência ao caso Biden é a seguinte:

Outra coisa, há muita conversa sobre o filho de Biden e o facto de Biden ter bloqueado a investigação e muitas pessoas gostariam de entender melhor; portanto, se você puder fazer algo com o Procurador-Geral, seria óptimo. Biden gabou-se de interromper a investigação, então se você puder dar uma olhada à coisa… a mim parece horrível.

E Zelenskyj nem responde ao pedido de Trump.

Nestes dias, Trump está a mexer-se como o costume, como se o processo estivesse naturalmente destinado a falhar. Assumiu a sua clássica postura de valentão que não tem medo de nada e vira a ameaça contra os seus opositores, seguindo o roteiro clássico dos filmes western. Um contra todos, seguro de si e, em última análise, bem-sucedido devido à pequenez dos inimigos.

Mas o que interessa realçar aqui é outra coisa: mais uma vez estamos perante da atitude tirânica dum País, os Estados Unidos, que atropela alegremente a soberania de outros Estados. O problema em Washington não parece ser a forma horrível como a Ucrânia foi tratada, não é o facto da Casa Branca ter apoiado a implementação dum regime fascista como era aquele de Poroshenko; ninguém no meio desta história parece preocupado por ter literalmente partido um País e provocado milhares de vítimas.

A Ucrânia é apenas utilizada como um campo de batalha entre as varias facções do poder estadounidense. E quando não há batalhas, a Ucrânia é uma mina para os políticos de Washington que podem posicionar os seus amigos ou parentes nas posições de topo para influenciar tanto a política, quanto a economia locais; e obter lucros pessoais. Algo que já vimos demasiadas vezes em outras parte do globo.

Portanto, nada de novo debaixo do sol.

As 10 regras de Chomsky

Noam Chomsky, pai da criatividade da linguagem, definido pelo New York Times como “o maior intelectual vivo”, explica através de dez regras como é possível mistificar a realidade.

A premissa necessária é que os maiores meios de comunicação estão nas mãos dos grandes potentados económico-financeiros, interessados ​​em filtrar apenas determinadas mensagens.

1. A estratégia de distracção

Fundamental para os grandes grupos de poder, com o fim de manter a atenção do público focada em questões de pouca importância, de modo a levar o cidadão comum a interessar-se por factos insignificantes. Por exemplo, a concentração exagerada acerca de algumas notícias de crónica.

2. O princípio do problema-solução-problema

Um problema é inventado à mesa para causar uma certa reacção do público, com o objectivo de que o mesmo público seja a invocar as medidas que o poder deseja que sejam aceites. Um exemplo? Provocar ansiedade entre a população, enfatizando a existência de epidemias como a febre aviária, criando um alarmismo injustificado com o objectivo de vender medicamentos que, de outra forma, permaneceriam sem utilização.

3. A estratégia da gradualidade

Para fazer aceitar uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradualmente, com o conta-gotas, durante anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconómicas radicalmente novas (filhas do neoliberalismo) foram impostas durante as décadas dos anos ’80 e ’90: um Estado reduzido, privatização, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que não garantem rendimentos decentes. Mudanças que teriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas duma vez só.

4. A estratégia de diferimento.

Outra maneira de fazer com que uma decisão impopular seja aceite é apresentá-la como “dolorosa mas necessária”, obtendo a aceitação pública para uma aplicação futura. Por exemplo: falar continuamente sobre o spread para obter medidas de austeridade “necessárias”, como se uma política económica diferente não existisse.

5. Entrar em contacto com o público como se estivéssemos a conversar com uma criança.

Quanto mais tentamos enganar um espectador, mais tendemos a usar um tom infantil. É isso que acontece em vários programas de televisivos generalistas. O motivo? Se alguém fala com uma pessoa como se esta tivesse 12 anos, com base na sugestionabilidade ela tenderá a uma resposta que provavelmente está a faltar em um sentido crítico, como uma criança de 12 anos.

6. Concentrar-se muito mais no aspecto emocional do que na reflexão.

A emoção, de facto, geralmente provoca o corto-circuito da parte racional do indivíduo, tornando-o mais facilmente influenciado.

7. Manter o público na ignorância e na mediocridade.

Poucos, por exemplo, sabem o que são o grupo Bilderberg ou a Comissão Trilateral. E muitos continuarão a ignorá-los, a menos que procurem directamente na Internet.

8. Impor padrões de comportamento.

Controlar indivíduos homologados é muito mais fácil do que gerir indivíduos que pensam de forma autónoma. Os modelos impostos pela publicidade são funcionais a este projecto.

9. Auto-culpabilidade.

Na prática, com esta técnica tendemos a fazer o indivíduo acreditar que ele próprio é a única causa dos seus fracassos e da sua própria desgraça. Então, em vez de provocar uma rebelião contra um sistema económico que o reduziu às margens, o indivíduo subestima-se, desvaloriza-se e até autoflagela-se. Os jovens, por exemplo, que não encontram trabalho, são definidos como “perdedores”, “demasiado exigentes”. Na prática, é culpa deles se não conseguem encontrar trabalho, não é culpa do sistema.

10. Os media tem como objectivo conhecer pessoas.

Os media, por meio de pesquisas, estudos comportamentais, operações de feedback cientificamente programadas sem que o usuário-leitor ou espectador tenha noção isso, sabem muito acerca das pessoas e isso significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um grande poder sobre o público, superior ao que o próprio cidadão exerce sobre si mesmo.

Um decálogo muito útil. Sugiro te-lo em mente, especialmente em tempos difíceis como estes.

 

Ipse dixit.

Fontes: Memorandum of Telephone Conversation with PresidentZelenskyy of Ukraine, Noam Chomsky Tumblr

Música: Piano Rock Instrumental by Hyde – Free Instrumentals | https://soundcloud.com/davidhydemusic, Music promoted by https://www.free-stock-music.com, Creative Commons Attribution 3.0 Unported License, https://creativecommons.org/licenses/by/3.0/deed.en_US