Criança hiperactiva? E que tal acorrentá-la à cadeira? Ou seria melhor um colar elétrico? São todas soluções que merecem atenção, mas na Alemanha, por enquanto, escolheram outro caminho: coletes de 6 quilos cheios de areia. Já são populares em 200 escolas: os professores gostam, as crianças gostam, os pais gostam… talvez a solução ideal?
“As crianças adoram usar os coletes e ninguém é forçado a usa-los contra a sua vontade” afirma Gerhild de Wall, chefe da unidade de inclusão na escola Grumbrechtstrasse, no distrito de Harburg, em Hamburgo, que foi uma das pioneiras neste âmbito.
Barbara Truller-Voigt, cujo filho de nove anos, Frederick, usou um colete de areia de 2 kg numa escola de Hamburgo nos últimos três anos, diz estar convencida de que isso influenciou positivamente a criatura: “Ele coloca-o voluntariamente e tem a sensação de que isso o ajuda. Pode concentrar-se melhor e é mais capaz de participar activamente nas aulas, porque não passa o tempo todo tentando manter os braços e as pernas sob controle.”
E a criatura Frederick confirma: “O colete me ajuda a acalma, quando tenho-o a minha caligrafia não é tão assustadora”. Dois quilos de areia e a caligrafia fica melhor. Notável.
A chefe De Wall encontrou os coletes pela primeira vez quando lecionava nos Estados Unidos, onde às vezes são usados para crianças com autismo e são chamados de “coletes de compressão”. Ela afirma que, longe de constranger a criança, podem ajudá-las a sentir-se concentrada. “As crianças incomodadas ou que têm um distúrbio sensorial, muitas vezes têm problemas em distinguir um estímulo de outro. Os coletes ajudam a ter um melhor sentido deles mesmos, e isso ajuda a concentrar-se”. E disso não temos dúvidas: não deve ser simples para uma criança distrair-se com quilos de areia nas costas.
Os coletes nunca devem ser usados por mais de 30 minutos de cada vez, mas De Wall afirma que o peso não é um problema para a maioria das crianças, porque é espalhado uniformemente pela parte superior do corpo (como diziam os soldados romanos enquanto olhavam para Jesus que carregava a cruz).
Também diz que há uma grande competição na escola para usar o colete. “Os alunos aproveitam as oportunidades para usá-lo, então nos certificamos de fazer que sejam vestidos também por crianças que na verdade nem precisam dele, o que ajuda a garantir que não haja nenhum estigma associado a ter um”. Claro: quilos de areia nas costas de todas as crianças, porquê só em algumas?
Uma professora, que não quer ser identificada (mas quem sabe qual a razão?), disse que a experiência de usar os coletes é como “colocar uma mão no ombro de uma criança… ou dar-lhes um abraço do qual as crianças frequentemente precisam”. A doçura duma mão com vários quílos de peso.
A maior parte dos psicólogos acha a ideia péssima. Doutro lado é este o resultado após ver crianças hiperactivas em todos os lados. Nem alguns dos pais estão muito convencidos: talvez seria melhor continuar com os tais comprimidos que o simpático médico receita sempre.
Se o Leitor gosta da ideia do colete, tem que saber que o custo ronda os 140 – 170 Euros. Não é pouco. Uma corrente custa muito menos, até um colar eléctrico é mais económico. O colete consegue competir só com a gaiola. E as crianças adoram a gaiola também.
Ipse dixit.
Fotografias: The Guardian