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O Mar de Azov. E os úteis idiotas. E o Atlantic Council.

Fonte: Trans

Nota: este artigo estreia um recurso incrível, filho duma tecnologia futurista: o Wiki Tooltip. Ao passar o rato por cima de determinados termos, magicamente irá abrir-se um pequeno [wiki]pop-up[/wiki] fornecido por Wikipedia. Ao clicar no pop-up, o Leitor será transferido (mas não fisicamente!) para a relativa página de Wikipedia.

Por enquanto está em uso Wikipedia em versão portuguesa, bastante escassa, mas nos próximos anos será introduzida também a versão inglesa, mais apetrechada. Usem com cautela, de preferência acompanhados, pois ainda não são conhecidos os possíveis efeitos adversos.

O incidente do [wiki]Mar de Azov[/wiki] entre Rússia e Ucrânia tem sido isso: um acidente, de proporções extremamente limitadas, perpetrado com estilo grosseiro, provocado por razões triviais. Pode merecer algumas linhas mas nada mais.

Infelizmente está a ser tratado como o anúncio do próximo Armageddon. O que é “normal” quando choros e gritos chegarem da frente ocidental, que tem muitas razões para manter elevada a tensão entre os dois Países. Menos normal é que toda a internet alternativa seja arrastada por este caminho de forma acrítica e que até observadores russos escrevam eméritos disparates.

É este o caso de Voltairenet (tristeza…) e do artigo de Valentin Vasilescu, perito militar e antigo comandante-adjunto da base aérea militar de Otopeni. Eis o artigo:

Os média internacionais informaram mal quanto ao incidente acontecido no Estreito de Kerch, tentando fazer crer que se tratava de uma limitação de tráfego marítimo internacional pela Rússia. A minha opinião é que este incidente pode ter graves consequências militares para a Rússia, as quais poderiam levar à perda da Crimeia.

As tropas terrestres nem sempre dispõem de suficientes informações sobre o inimigo e utilizam um processo de «reconhecimento» para fornecer dados suplementares. Por exemplo, um grupo de reconhecimento, embarcado em veículos altamente móveis, inicia o combate contra o inimigo durante alguns minutos e em seguida, se não for capturado, retira-se muito rapidamente.

Durante o incidente ocorrido no Estreito de Kerch, em 25 de Novembro de 2018, as duas pequenas vedetas blindadas ucranianas (Berdyansk e Nikopol), da classe Gyurza-M, efectuavam uma missão de reconhecimento. O seu objectivo não era atravessar o Estreito de Kerch, mas o de desencadear uma reacção do dispositivo de combate russo encarregue de defender a ponte sobre o Estreito. Os dois navios estavam idealmente adaptados a este tipo de missão, já que eles são mais rápidos e mais manobráveis do que os navios da Guarda Costeira e os da Marinha, fortemente armados.

Foi a parte visível do incidente. Houve um outro aspecto, invisível esse, muito mais importante do que aquele que os média apresentaram.

De facto, as informações resultantes da «operação de reconhecimento» não são coletadas pelo grupo de reconhecimento que estabelece o contacto com o inimigo, quer dizer, no caso presente, os pequenos navios Berdyansk e Nikopol da marinha militar ucraniana, antes uma outra estrutura de reconhecimento que age em segredo. Ela é especificamente posta em acção para vigiar a reacção do inimigo (quer dizer o dispositivo de defesa da ponte russa e do Estreito de Kerch) graças a pontos de observação terrestres, meios aéreos, meios navais, sistemas de intercepção de emissão em radiofrequências, sistemas de detecção de radar, infravermelhos, etc. O Exército ucraniano não montava um dispositivo de reconhecimento tão complexo perto do Estreito de Kerch, já que ele não dispõe dos meios para isso. Mas, como o havíamos mostrado num artigo precedente, um pouco antes do incidente, os Estados Unidos e Israel tinham estado muito activos na região.

A 5 de Novembro, um avião russo Su-27 interceptou um avião norte-americano, da série ELINT EP-3E 157316, indicativo AS17, que levantara da base de Souda, na ilha de Creta, voando na proximidade das águas territoriais da Crimeia. A 19 de Novembro, um avião de reconhecimento israelita Gulfstream G-550 Nachshon Aitam (indicativo de vôo 537) sobrevoou o Mar Negro à volta do Estreito de Kerch.

O incidente ocorrido no Estreito de Kerch foi vigiado, durante todo o dia, por aviões de reconhecimento norte-americanos US SIGINT. Um de entre eles, de tipo RC-135V, série 64-14841, indicativo JONAS 21, sediado na baía de Souda, na ilha de Creta, evoluiu na margem do Mar Negro, próximo à Crimeia. Uma segunda aeronave, um drone de alta altitude de tipo RQ-4B, série 11-2047, com o indicativo FORTE10, voou no Leste da Ucrânia perto do Mar de Azov. O RQ-4B é operado a partir da Base Naval americana de Sigonella, na ilha da Sicília.

A 27 de Novembro, outro avião de reconhecimento P-8A série 168859 P-8A, efectuou um vôo de reconhecimento no Estreito de Kerch e na Crimeia, a partir da base de Sigonella.

O SIGINT (Signals intelligence) é um sistema de vigilância compreendendo a intercepção de comunicações (rádio, telefone móvel, linha de dados, Internet), quer dizer o COMINT (Comunications Inteligence), e a intercepção de sinais de radar e outros dispositivos de navegação, de detecção ou empastelamento (infravermelho, laser, etc.) chamados ELINT (Electronic Intelligence).

Graças a estes equipamentos montados em aviões de reconhecimento, o incidente provocado pelos navios ucranianos no Estreito de Kerch permitiu aos Estados Unidos saber com detalhe : —A composição e a localização do dispositivo terrestre e marítimo russo destinado a proteger o Estreito —(a estrutura de gestão, as frequências de rádio utilizadas, as etapas do procedimento de intervenção e as responsabilidades das diferentes sub-unidades russas, a aérea, terrestre e a naval, de acordo com o plano de interligação operacional)— e as direções e sectores mal defendidos ou vulneráveis.

Assim, apesar de os pequenos navios ucranianos e as suas tripulações terem sido detidos pelas forças russas, eles fizeram o seu trabalho. Uma missão que só poderia ter sido ordenada pelos Estados Unidos.

…zzzzzzzzzz…: Voltairenet, volta em ti. Valentin, volta para Otopeni, com um pouco de sorte vão assumir-te outra vez. Mas tenta esconder este artigo, caso contrário mandam-te para a Sibéria.

As missões de reconhecimento são rotineiras, não precisam de acidentes para ser realizadas. Os russos não são totalmente obtusos: não é que com o aproximar-se de dois barquitos activem todo o sistema estratégico de defesa, atirando para o ar os segredos deles. Parece bastante ingénuo supor que as missões de reconhecimento dos EUA e de israel não tivessem sido detectadas. Como tão ingénuo é pensar que as informações recolhidas possam ser consideradas adequadas para uma invasão da Crimeia: os russos nem perturbaram a Marinha, mandaram os meios da Guarda Costeira.

A Rússia arrisca perder a [wiki]Crimeia[/wiki]? Nem pensar: além de [wiki]Tartous[/wiki], na Síria, esta é a única base de Moscovo com águas que não congelam. Para retirar-lhe a Crimeia é precisa uma guerra mundial, não menos do que isso. E nem passa pela cabeça de Trump algo assim. Já alguém em Tel Avive gostaria de um pouco de “movimento”, mas sozinhos não: é precisa muita, mas mesmo muita atenção porque os novos sistemas anti-mísseis de Moscovo não brincam em serviço. E os navios russos estão aí na Síria, de Jerusalém é um pulinho.

De facto a táctica deve ser outra. Qual? Provavelmente nenhuma: a Crimeia é russa e ponto final. Mas na zona há os úteis idiotas da Ucrânia, então porque não utiliza-los?

Kabooom!

Quando achamos já ter visto praticamente tudo sobre a propaganda anti-russa e o belicismo ocidental, eis que chega o Conselho do Atlântico par abrir novos tristíssimos horizontes. Este [wiki]think tank[/wiki] próximo da Nato e de Washington publicou um documento para pedir à Ucrânia (eis os úteis idiotas) que realize uma operação especial contra a ponte da Crimeia, no Estreito de Kerch. É a ponte sob a qual passam todos os navios de a para a Crimeia (e os portos ucranianos de Mariupol e Berdjans’k).

A Ucrânia deve avaliar cuidadosamente a execução de uma operação especial para explodir a ponte construída por Moscovo através do Estreito de Kerch que liga a Crimeia à Rússia.

E mais: a Ucrânia deve convidar os Estados Unidos e a Nato a enviar uma frota de navios armados para visitar Mariupol e garantir que a Rússia dispare contra os navios ou tente impedi-los de exercer o direito de visitar os portos ucranianos.

Ou seja: este think tank requer uma missão de sabotagem para destruir uma infraestrutura civil. Imaginem se esta ideia fosse pronunciada por alguém que não gozasse das simpatias do Ocidente: seria definido “terrorismo” e com razão. A ideia que fica na base destes cerebrinhos é que a implementação destas medidas exporia o “blefe” da Rússia, porque, afirmam, o povo russo não quer uma guerra e a Rússia não pode pagar uma guerra. Genial. Mas quem são estas mentes superiores?

O Atlantic Council é um think tank americano no campo dos assuntos internacionais. Fundado em 1961, fornece um ponto de encontro para líderes políticos, empresariais e intelectuais internacionais. Sediado em Washington, gere dez centros regionais e é membro da Associação do Tratado do Atlântico.

Sempre fieis às 5W do melhor jornalismo (“Who? Where? Wok? Wikipedia? Winona Ryder?”), vamos conhecer melhor alguns membros deste alegre grupo de livres pensadores:

Um grupo bonito, disso não há dúvida. Mas agora deixemos os bombardeiros de Washington e voltemos para a Crimeia. Quem ganhou com isso afinal?

…e o vencedor é:

O incidente é útil para a actual liderança ucraniana, que já estabeleceu a lei marcial para assim afastar o espectro das eleições.

Mas é uma “vitoria” muito cara: este tipo de operação é extremamente contraproducente para a Ucrânia, restringindo ainda mais o seu espaço de manobra política no plano internacional. Se alguém acha que pode utilizar estes números de circo para impulsionar ainda mais o processo de entrada na Nato, então é melhor que faça bem as contas.

Mais útil, sem dúvida, ao dono americano: aliás, a acção foi permitida ao útil idiota ucraniano para manter elevada a tensão na zona e utiliza-la primariamente como pretexto para evitar qualquer diálogo entre Trump e Putin na viagem até a Argentina. Não podemos esquecer que o Presidente [wiki]Petro Poroshenko[/wiki] é uma criatura de [wiki]George Soros[/wiki] com toda a escumalha progressista.

 

Ipse dixit.

Fontes: Voltairenet