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Alleé de la Nakba: Ben Gurion era um criminoso

O prefeito de Bezons, um subúrbio do noroeste de Paris, inaugurou a placa Alleé de la Nakba (“Avenida de la Nakba”) na passada Segunda-feira para comemorar o 70º aniversário da Nakba.

O termo Nakba, lembramos, é uma palavra árabe (النكبة) que significa “catástrofe” ou “desastre” e designa o êxodo palestiniano de 1948, quando cerca de 800 mil palestinianos fugiram ou foram expulsos dos seus lares em razão da invasão israelita em 1947-1948 e da Guerra árabe-israelita de 1948. A Nakba marcou o início do problema dos refugiados palestiniano.

No sinal, escrito em francês e em árabe, era possível ler:

Em memória da expulsão de 800.000 palestinos e da destruição de 532 aldeias em 1948 por David Ben Gurion criminoso de guerra na criação do Estado de israel.

Disse o Presidente da Câmara da pequena localidade, Dominique Lesparre:

Nós podemos fazer duas coisas: condenar os massacres particularmente horrendos perpetrados pelo exército israelita na fronteira com a Faixa de Gaza e mostrar a nossa solidariedade aos nossos amigos palestinianos, simbolizando essa avenida. A nossa cidade tem orgulho de defender o direito do regresso [dos palestinianos, ndt], bem como o direito dos israelitas de pensar de forma diferente do governo deles.

A placa de Bezons foi removida apenas algumas horas após a instalação, por causa do pedido de um alto funcionário da região segundo o qual a placa poderia “perturbar seriamente a ordem pública”.

israel tinha feito pressão no subúrbio para que a placa fosse removida; o porta-voz do Ministro das Relações Exteriores de israel, Emmanuel Naasson, descreveu a placa como “um acto repugnante”; o Embaixador de israel na França, Aliza Bin-Noun, acusou o Presidente da Câmara de apoiar o “terrorismo palestiniano” e de incitar o ódio.

O cartel também foi criticado por muitos grupos pró-israel em toda a França, com o Presidente do Conseil Représentatif des Institutions juives de France, um grupo da comunidade judaica francesa, que definiu-o como “escandalosamente irresponsável e perigoso”.

Mas sejamos honestos: falta algo, não falta? Tranquilos, o Presidente da mesma comunidade judaica assim escreveu:

Eles encorajam a violência anti-semita, que agora está a receber uma justificação historicamente falsa.

Qualquer crítica feita contra israel é “antisemita”. Não poderia ser simplesmente “anti-israelita”? Não, não seria a mesma coisa. O anti-semitismo joga com as emoções, o anti-israelitismo é apenas racional. E o sionismo não tem vantagem nenhuma em ser racional, bem pelo contrário.

Invocar o anti-semitismo joga com os sentimentos a as memórias: é o regresso do Holocausto, das deportações, dos fornos crematórios, do nazifascismo, das culpas ocidentais. Não é politicamente correcto, é racista. E tem o dom da absolvição: à sombra da alegada violência anti-semita o Estado de israel consegue mexer-se com ampla liberdade e conforto. Por cada ataque contra Tel Avive haverá sempre alguém a dizer “Nós fomos os grandes injustiçados, sofremos o inenarrável, merecemos piedade e compaixão”. Auto-absolvição.

Só que o joguinho parece não funcionar como antigamente: é preciso invocar o anti-semitismo cada vez mais. Sinal de que as críticas contra israel estão a multiplicar-se: está a tornar-se mais complicado justificar as atitudes nazistas de israel com os mortos do passado.

A verdade é que não há sombra de anti-semitismo na decisão de Bezons: há simplesmente o reconhecimento de factos. A Nakba existiu, assim como continuam a existir ainda hoje a super-prisão de Gaza e o regime nazista de Tel Avive. Tudo o resto é só uma míseral tentativa de ocultar a História.

Ben Gurion foi um criminal de guerra, exactamente como escrito na plava, e acerca disso não pode haver dúvidas. Líder sionista entre 1919 e 1946, Gurion é considerado o pai do moderno Estado de israel. Tanto para ter uma ideia acerca do indivíduo, eis algumas das suas frases mais conhecidas:

Este era Ben Gurion, alguém que teria feito estremecer Himmler, porque aquele homem pronunciou aquelas palavras 20 anos antes do nascimento da OLP, mais de 30 anos antes do nascimento do Hamas, 50 anos antes da explosão do primeiro foguete palestiniano em israel.

As linhas-guia de Ben Gurion ainda são seguidas: há provas de que israel usa crianças como escudos humanos, que deixa os doentes morrerem nos postos de controle, que envia soldados para destruir máquinas nos desgraçados hospitais palestinianos. O governo de Tel Aviv viola todas as Convenções de Genebra e os Princípios de Nuremberg desde 1967, mata suspeitos sem julgamento e com eles centenas de inocentes, punem coletivamente 1.5 milhão de civis exatamente como Saddam Hussein fez com as minorias xiitas no Iraque. Vinte mil civis foram massacrados apenas no Líbano entre 1982 e 2006: depois israel reivindicou o status de “vítima do terrorismo”.

Podemos mudar as placas com os nomes das ruas, mas não podemos mudar a História e esconder os nossos erros para sempre.

 

Ipse dixit.

Fonte: The Time of Israel (versão francesa)

Imagem: Libération