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Em louvor de Nicolas Sarkozy

O antigo Presidente francês Nicolas Sarkozy e marido de Carla Bruni foi preso. Isso é muito triste. Triste e injusto: porque o simpático Nicolas é o protótipo do político perfeito. Além de que foi eleito com os votos do povo. O povo não erra e não tem culpas: as culpas são sempre dos outros.

Sarkozy financiou a sua campanha presidencial (2007) com o dinheiro do Coronel líbio Muhammar Khadafi; sempre Sarkozy, alguns anos depois (2011), declarou guerra e fez assassinar o mesmo Khadafi. Culpa do Coronel, que evidentemente não sabia escolher os seus amigos. Sarkozy actuou segundo os padrões da política ocidental, nada para apontar.

O Ocidente embutiu de armas o Iraque de Saddam Hussein quando este estava empenhado na guerra contra o Irão. Em 2003, Tony Blair, em associação com o criminoso George Bush
junior, invadiu o Iraque para trazer no longínquo País oriental a “Democracia”, palavrinha mágica que tem o condão de justificar tudo, até as acções mais revoltantes. O simpático Saddam já não era útil, de repente tinha-se tornado um tirano: até tinha feito construir armas de destruição em massa que nunca existiram. A brincadeira custou pelo menos 200 mil vítimas civis, mas nada que possa assustar as democracias ocidentais: afinal alguém tem que pagar a conta.

As investigações jornalísticas do The Guardian revelaram que desde 2001 até 2007 (durante a governação de Blair) os serviços secretos britânicos entretinham uma cordial colaboração com os homólogos do Coronel Khadafi. Depois, em 2011, o Primeiro-Ministro David Cameron, que não tinha a maioria absoluta no Parlamento e estava à procura de consenso, decidiu atacar a Líbia e certificar-se de que o Coronel não pudesse testemunhar em nenhum tribunal.

Dos Estados Unidos nem vale a pena falar. É como disparar contra a Cruz Vermelha. Iraque em 2003. Líbia em 2011 (quando Barack Obama disse: “Não vai
acabar como o Iraque”). O apoio desavergonhado de Al Qaeda, de Al Nusra, aos apoiantes do Isis. O silêncio acerca das criminosas actividades das monarquias do Golfo. Cereja no topo do bolo: o “esquecimento” dos curdos, antes cobertos de promessas, agora abandonados contra o exército turco (mas aqui não ficaria mal um mea culpa curdo: quem pode ser tão ingénuo ao ponto de confiar nas promessas de Washington?). Não há palavras.

Sarkozy pertence à mesma linhagem e, politicamente falando, é um de nós. Um daqueles que choram o Ghouta, condenam a Rússia pelo apoio a Assad e depois enchem de armas o Isis, Al Qaeda e Al Nusra. O seu digno sucessor, Emmanuel Macron, enquanto Ministro da Indústria e das  Finanças do governo de Valls foi para a Arábia Saudita para assinar contratos para a venda de armas. Era 2015 e todos já sabiam que as monarquias do Golfo Pérsico apoiavam os terroristas com armas e dinheiro. Macron hoje chora, tal como Sarkozy chora, e tem o coração partido só em pensar nos 70 mil civis massacrados com as armas que ele também vendeu.

É um de nós simplesmente porque foi eleito pelo povo. Tal como foram eleitos Macron, Blair, Cameron, Trump, Obama… nenhum dele “caiu do céu”: todas enfrentaram uma regular campanha eleitoral, todos obtiveram votos. Foram comparados, foram avaliados e foram escolhidos porque representavam a melhor opção enquanto políticos. Palavra do povo, porque as nossas são autênticas democracias, não brincadeiras.

“Ah, mas isso é porque os americanos são parvos. Também os ingleses. E os franceses. Nós não, nós aqui nunca. Nós votamos em pessoas diferentes”. Com certeza. Mas com certeza absoluta. Nós aqui votamos por pessoas honestas, que lutam para um mundo melhor, contra este sistema nojento. Nós somos muito mais inteligentes, não é?

Saudações com Carla Bruni que estraga uma boa canção dos Depeche Mode:

Ipse dixit.