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Ensaios de guerra

Diz o simpático Obama em Paris:

Deixe-me ser claro: a Turquia é membro da NATO e nossa aliada.

Moscovo acaba de apresentar as provas de quanto todos já sabem: a Turquia faz negócios com o Isis, o primeiro ministro Erdogan e família compram o petróleo do Califado.

Como reage Washington?
Steve Warren, porta-voz do Pentágono:

Totalmente absurdo.

Falta a prova-rainha: Erdogan em fato macaco enquanto descarrega um barril. Sem isso, são apenas boatos.

Mas os EUA vão além: colocam baterias de mísseis Patriot na fronteira entre a Síria e Turquia, como Erdogan queria e não tinha conseguido até agora. Ao mesmo tempo, a Nato convida uma potência militar como o Montenegro (630.000 habitantes) para realizar exercícios militares na Ucrânia com o regime em Kiev.

A Ucrânia está falida: a guerra civil secou os cofres do Estado, é mantida de pé só com o dinheiro do FMI e os fundos europeus. Mesmo assim, encontra tempo e alguns trocos para realizar exercícios militares com a Nato e oferecer ajuda à Turquia para lutar contra a Rússia: milho e óleo de girassol. Enviasse também um pouco de manteiga, em Ankara poderiam consolar-se com algumas maçarocas quentes.

David Cameron obteve do parlamento britânico luz verde para “bombardear as bases do Isis” na Síria “sem coordenação com os Russos”. Portanto, teremos os Russos contra o Isis, a França que colabora com os Russos contra o Isis, o Reino Unido contra o Isis mas sem os Russos. Nos céus da Síria haverá mais trânsito do que num centro comercial antes do Natal e, em teoria, num par de semanas o Isis deveria desaparecer do mapa. Na prática aí irá ficar, continuando a vender petróleo à Turquia.

Entretanto, a simpática Angela Merkel obrigou o parlamento europeu a discutir a portas fechadas o alargamento das sanções contra Moscovo. O escândalo Volkswagen tem ensinado algo à chancelera: não se pode ser escravo a meio serviço. E dado que ainda tem que tratar duma Deutsche Bank em avançado de decomposição, melhor prevenir-se: seja feita a vontade do dono. Não fica bem clara a razão destas novas sanções. Mas o que importa isso? A União Europeia é uma sólida democracia, a decisão foi tomada em segredo e sem explicações, portanto tudo funciona segundo as regras.

A mesma Alemanha comprometeu-se a enviar os seus Tornado para bombardear Síria. Berlim tinha
originariamente 93 Tornado, mas são aviões obsoletos, com 34 anos de idade e apenas 29 ainda estão operativos. Pode ser que na última hora consigam juntar um par de Junkers do Terceiro Reich, tanto para assustar ainda mais o Isis.

Isso também dá a ideia do empenho ocidental contra o Califado. Ah: obviamente nem Berlim vai cooperar com a Rússia.

A fraqueza miserável com que os europeus se posicionam nestas provocações anti-Putin é demonstrada pelo facto de que, desde Moscovo ter colocado o seus S-400 para contrastar os aviões turcos, a porta-aviões francesa Charles De Gaulle parou as operações contra o Isis.

Lembram-se das imagens dos aviões de Hollande que descolavam do navio com ar feroz? Esqueçam. Há oito dias que os Franceses nada fazem. Porque Hollande precisa da autorização de Assad para bombardear na Síria mas não quer pedi-la: e a Síria tem os aviões russos no ar, pelo que a Charles De Gaulle foi-se. Aliás, ao longo dalguns dias nem se sabia onde raio estivesse. Afinal tinha deixado o Mediterrâneo Oriental para refugiar-se atrás do Patrios na Turquia.

Mas em tudo isso há tambores de guerra e são tambores à sério. Agora sabe-se que quando os aviões turcos abateram o Sukhoi russo eram apoiados por caças F-16 americanos. E nestes dias dois submarinos turcos (o Dolunay e o Burakreis) estão a escoltar o cruzador USS Carney, com mísseis balístico Aegis, que segue de perto o navio russo Moskva, armado com mísseis S-300 e que se encontra perto de Chipre, em águas internacionais.

Qual o futuro? Há uma maneira para descobri-lo e passa mais uma vez pela Turquia.
Desde os tempos do czar existe uma ameaça que pode ser uma verdadeira declaração de guerra: fechar a passagem dos navios russos no Bósforo e nos Dardanelos.

Não são as sanções que preocupam e nem o caos nos céus da Síria: tudo isso não passa duma encenação, boa para ocupar as capas dos diários com propaganda barata. Mas fechar o Bósforo seria o sinal de que a guerra estaria bem próxima.

Em princípio a Turquia não pode fazer isso, sendo que a navegação é regulamentada pela Convenção de Montreaux de 1936 (pensada mesmo para prevenir situações conflituosas).

Se Erdogan fechasse os estreitos, significaria cometer um acto de criminalidade internacional com poucos precedentes, uma violação da liberdade de navegação. Mas vivemos em tempos nos quais nem a apresentação de provas consegue travar a Nato, como no caso do petróleo do Isis. E Moscovo precisa que os seus navios atravessem o Bósforo: é assim que a Rússia refornece as suas tropas na Síria, isso sem falar das mercadorias que a partir daí conseguem entrar no Mediterrâneo.

Parece que Erdogan já está a atrasar o
tráfego dos navios russos nos estreitos. Mas atrasar é uma coisa, bloquear é outra. Se os estreitos fossem fechados, a Rússia poderia apelar-se à Convenção de Montreaux. E quem encontraria do outro lado? A ONU. Boa noite.

Previsões dignas de ficção científica? Pode ser.
Roosevelt deixou o Japão sem petróleo ao longo de oito meses. O Japão convenceu-se de que a guerra era uma necessidade, caso contrário teria sido economicamente estrangulado. Os EUA esperavam Pearl Harbor, era só uma questão de tempo e de lógica.

A História está aí, à disposição de todos.
Até a que ponto estes psicopatas estão dispostos a arriscar?

Ipse dixit.

Fontes: no texto