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A Revolução: para uma mudança da nossa sociedade – Parte V

A acabamos com coisas bem práticas, tangíveis.
Por exemplo: trocas.

Trocas!

Porque utilizar o dinheiro? Porque não trocar?
Não se trata de fazer uma campanha contra o dinheiro, não é isso que está em causa (o dinheiro em si não é “mau”). O ponto é aplicar tudo o que vimos nas capítulos anteriores: reduzir a pegada ecológica, inserir-se numa comunidade, aprender a viver (pelo menos parcialmente) de forma diferente.

E sim, depois há as observações de Humberto: a ideia do dinheiro não é mal, mas: “Um órgão saudável não é um problema, mas quando ele está com um tumor, passa a ser parte do problema e vale o questionamento sobre continuar com ele ou não”. Absolutamente correcto: de instrumento “neutral”, como deveria ser, o dinheiro de hoje é o instrumento para o enriquecimento de poucos.

Por isso, vamos com as trocas.
O quê trocamos? Tudo.
Eis algumas sugestões, sem uma ordem específica mas tais como encontrada na internet:

Tudo isso após uma pesquisa na internet de 5 minutos, não mais.
Ou seja: não há desculpas.

Banco do Tempo

Gostava também de realçar um particular tipo de troca que está a ter um bom sucesso em Italia: é o baby sitter, jardinagem, electricidade, informática, etc.). Obviamente, há também a vertente da troca, que integra-se muito bem neste conceito.

Banco do Tempo. Nele, os inscritos põem à disposição dos outros algumas horas com uma certa competência. As horas são acumuladas na conta e podem ser convertidas em outros serviços, não existindo limites quanto à tipologia (cozinha,

Por enquanto, em Italia existem mais de uma centenas de Bancos do Tempo reunidos numa associação nacional, algumas reunidas também no portal Tempomat (onde há também um manual para a criação dum Banco do Tempo: se alguém entre os Leitores estiver interessado, peça de forma que eu possa fornecer-lhe gratuitamente o link para o Tradutor de Google….lololol….dizia: peça que vou enviar uma tradução).

Em Portugal encontrei o Banco do Tempo, mas os últimos sinais de vida do site são de 2012…
No Brasil há o Equilibrium e o Bliive.

Do Equilibrium eis o vídeo de apresentação que bem explica como funcionam as coisas:

Uma boa rede de nível mundial é o TimeRepublik, um projecto com 30.000 inscritos em 85 Países. Presente em Portugal e no Brasil também.

Também existe uma organização que mete a disposição espaço internet para criar a nossa própria página de Banco do Tempo local. É só clicar no link de Comunitats e começar. O site está em inglês e em espanhol mas, pelo que percebi, o projecto não está limitado geograficamente, dado que fala dum global network.

E se o Leitor for dos Estados Unidos? Coitado! Mas fique descansado: pode clicar no directório dos Bancos do Tempo dos EUA.

E se o Leitor for da Bielorrússia? Desculpe: é da Bielorrússia e está a ler um blog em português? Mas está a gozar comigo ou quê? Saia já, tenha juízo.

Outra moeda?

E porque não utilizar uma outra moeda? Não muitos sabem que em Portugal há dois projectos cujos nomes são Estrela Community Exchange e Dar A Volta.

O primeiro é dedicado aos que vivem na zona da Beira e encontra-se ainda na fase beta, mas já está activo.

O segundo, da Covilhã, está bem activo e integra-se na iniciativa Covilhã em Transição, que por sua vez faz parte do Transition Network, um projecto de nível mundial: temos assim Coimbra em Transição, Cascais em Transição, Gaia em Transição, etc.

No Brasil o projecto encontra-se numa fase inicial, como toda a América do Sul, mas já existem alguns pontos de referência. Particularmente difundido é o Transition Network no Reino Unido e nos Estados Unidos.

No geral, as moedas locais são muito menos difundidas, também porque o conceito “assusta”: existe o medo de pôr-se em concorrência com a moeda nacional, o que é ilegal como é óbvio, e há dificuldades objectivas, pois uma moeda alternativa implica uma estrutura muito mais complexa do que um simples troca.

Todavia algo há e se houver alguma coisa na zona de residência do Leitor, sugiro informar-se.
E não seria justo fechar este capítulo sem antes citar o banco Jak, o banco que não cobra juros.
Sim, existe um banco que não cobra juros. Aliás, já aprendemos que nenhum banco islâmico cobra juros, mas no ocidente encontramos o Jak.

E se o Jak não estiver disponível na área de residência do Leitor?
Neste caso, tente evitar na mesma os grandes bancos: não caiam com os chamariz, as super-ofertas, lembrem que não há almoços grátis. Melhor uma instituição local, uma cooperativa, algo assim.

Ecotudo & Internet

Coisas que não faltam na internet são páginas dedicadas aos assuntos “eco”, onde encontrar dicas e sugestões. Até é difícil escolher e nem vou fazer uma lista pois ficaria velho antes de tê-la publicada.

Podemos considerar o seguinte: sites e blogues ecologistas de carácter “geral”, podem ser uma boa fonte de recursos, como soluções que possam ser implementadas no local e também para saber o que se passa no resto do mundo na vertente “eco”. Mas para o dia-a-dia o melhor é algo com uma ligação ao território onde vivemos, também para encontrar soluções mais específicas e para poder entrar em contacto com pessoas com as quais “construir” algo, que não fiquem apenas como nicknames do mundo virtual.

Como? Não há nada disso na zona do Leitor? Magnífico! Eis a ocasião perfeita para começar já a vossa página internet. Não é preciso muito, graças à simplicidade das ferramentas que podemos encontrar na internet. Olhem para mim: praticamente analfabeta, com uma inteligência abaixo da média, moro em Portugal (este é outro handicap, sempre) e apesar disso consigo ter um blog há quatro anos, pois acreditem: ter uma página internet que possa tornar-se um ponto de encontro é muito mais simples do que muitos poderiam imaginar.

O Leitor não confia nas suas capacidades? Até há tutorias gratuitos para construir algo à medida e esta aqui Informação Incorrecta: se precisar de ajuda, pergunte. Pense nas possíveis vantagens: criação dum círculo de amizades (não apenas virtuais mas reais!), partilha de experiências, actividades ao ar livre, troca de produtos ou serviços…o limite é a sua imaginação. E tudo sem gastar um tostão, o Leitor já tem tudo o que for preciso: computador, ligação internet e cérebro.
Nada mais é preciso.

Voltando ao assunto “Eco”. É óbvio que as grandes “marcas” (como o WWF) estão actualizadas acerca dos últimos acontecimentos de nível mundial, podem contar com conjuntos de seguidores não indiferente e promover campanhas. Todavia o Leitor tem que perguntar a si mesmo: quem está atrás delas? É lícito supor que multinacionais como estas (apesar de serem “verdes”) sejam independentes dos poderes fortes? Ou tentarão direccionar os seus membros para argumentos que favorecem uma certa política? É normal que o Presidente Emérito do WWF seja um maçónico? Que Greenpeace apoie firmemente a luta contra o Aquecimento Global sem considerar as outras hipóteses?

O tamanho conta: e neste caso pequeno é melhor. E melhor ainda: local, ou pelo menos regional. Uma estrutura “eco” básica, que trate de assuntos relacionados com a nossa realidade, algo onde até nós podemos intervir de forma activa e concreta.

É claro que todos estamos preocupados com as baleias do Oceano Pacífico: mas alguns dos Leitores deslocou-se até lá para ralhar com os pescadores? Suponho que não e é normal. Para este tipo de assunto, bem venham as campanhas internacionais, as petições on-line e tudo o resto: para problemas locais, intervenções e soluções locais (nossas).

Animais

Nunca irei tentar convencer alguém a tornar-se vegetariano, sendo esta uma escolha pessoal. Mas sempre irei convidar para fazer algo em favor do animais, pois este é um dever.

Então aproveito para sugerir a participação em actividades para a protecção dos animais.
Pedem pouco e dão muito. São fiéis. Não cobram juros. O que o Leitor quer mais?

Não conheço ninguém que tenha dedicado tempo aos animais e ficasse arrependido.

Círculos

Se o Leitor estiver aqui, significa que entende o facto de internet poder ser um ponto de encontro acerca de vários assuntos, um lugar de debate, de troca de ideias e de informação.
Então pergunto: porque limitar esta potencialidade ao virtual? Porque não pensar internet como o primeiro passo para a criação duma comunidade real?

Como já dito, hoje em dia abrir um blog é algo muito simples. Agora, imagine que o Leitor goste de trocas, bancos do tempo, ecologia; ou que seja sensível perante certas temáticas, como a possibilidade de mudar a nossa sociedade. Então abra um blog, direccionado para a sua cidade ou região. Encontre pessoas, discuta, bebam uma cervejola, façam um churrasco, convivam e tentem implementar algo.

Provavelmente não irão mudar o mundo, mas podem sempre fazer algo para salvar aquele monumento que tem 300 anos de história e que está abandonado.

Porque digo isso? Porque aconteceu comigo, na altura do liceu. O meu professor de Arte era uma
pessoa especial, soube duma igreja no centro histórico de Genova onde entrava água pelo telhado, uma igreja de 1645. Então a turma foi aí, começou a tirar fotografias, esboços, desenhos, falar com os vizinhos, até com alguns responsáveis da Câmara. Conseguimos chamara a atenção. E os fundos apareceram.

Para que as coisas aconteçam, às vezes é só preciso dar o primeiro passo: depois, como por inércia, outras coisas surgem. Falta um poço? Há terra abandonada? A rede eléctrica está uma desgraça? E ninguém faz nada? Então fale com as pessoas. Não está sozinho no mundo com problemas únicos, há outras pessoas, com os mesmos problemas; algumas são estúpidas, outras não. É só escolher.

Não deixem que internet seja apenas um meio de controle. Explorem este meio, tornem a coisa útil para vocês e para a vossa comunidade, como forma de agregação e intervenção.

Com este sistema, o meu tio formou uma cooperativa: reuniu um grupo de pessoas (via internet), formaram uma cooperativa e agora fazem compras directamente nos fornecedores, não nas lojas, poupando muito dinheiro. Claro, depois têm que comer caixas de atum para um ano, pois o fornecedor não vende pequenas quantias. Mas poupam…

Ok, acaba aqui a saga da Revolução. Achei bem concluir com algo prático: nada daquilo que encontram nesta última parte ultrapassa as nossas capacidades; não há investimentos aqui; não há fórmulas misteriosas ou arcanos enigmas; quis manter tudo no nível da simplicidade, porque é com coisas simples que tem de ser combatida a nossa sociedade.

Talvez seja impossível mudar o mundo, mas alterar algo no nosso pequeno universo, isso sim, pode ser feito. Não haverá entre nós o próximo Che Guevara, mas eu troco de bom grau um herói para um grupo de pessoas que decidem o rumo das suas vidas, sem ser apenas engrenagens do sistema. É que os heróis acabam mal, cedo ou tarde, as pessoas, pelo contrário, aqui ainda estão.

Além disso, não se muda a sociedade sem antes mudar a nossa maneira de pensar. Shanerrai diz que para mudar é preciso mudar  a nossa espiritualidade. Chamem-a espiritualidade, chamem-a como quiser: mas temos que ser nós a mudar, só depois mudará o resto. Este é um processo que demora tempo e nem é simples. Mas prometo uma coisa: o blog vai estar atente nesta vertente. Notícias que podem ir no sentido duma mudança, grande ou pequena que seja, começarão a encontrar espaço aqui.

Agora, como é claro, espero para as Vossas sugestões.
Obrigado.

Ipse dixit.

Para os masoquistas que desejassem ler os capítulos anteriores:
A Revolução: para uma mudança da nossa sociedade – Parte I
A Revolução: para uma mudança da nossa sociedade – Parte II
A Revolução: para uma mudança da nossa sociedade – Parte III
A Revolução: para uma mudança da nossa sociedade – Parte IV