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Das armas (actualizado)

E voltamos para um assunto que atraiu vários comentários: armas e massacres nos Estados Unidos.

O blogueiro coitado, após o artigo EUA: 24 mortos na escola. Azar., parece em minoria: será que a elite americana quer tirar as armas aos cidadãos? Será que o Projecto MK-Ultra é utilizado para provocar massacres que justifiquem um menor número de armas nas mãos dos cidadãos?

Bom, sendo este um lugar de troca de opiniões, vamos aprofundar os nossos pontos de vista. E vou utilizar alguns comentários, como fosse uma conversa.
Por exemplo:

Max
Discordo

Pronto, já este é um erro grave.
Ok, ok, um pouco de seriedade.

Você sabe muito bem que as elites que controlam os EUA querem desarmar o povo

Na verdade eu sei exactamente o contrário. Os Estados Unidos são o maior produtor de armas do planeta. Não apenas isso, mas o número de armas presentes nos EUA e nas mãos dos cidadãos ultrapassa aquele de quase todos os exércitos do planeta (não em conjunto, um exército de cada vez entendo). Esta é uma elite que deseja desarmar o povo? A mim dá a impressão oposta: quer armar o povo.

Hollywood farta-se de produzir filmes que representam a apoteose da violência, com justiceiro armados como se tivessem que rebentar o planeta. É uma mensagem cujos reflexos podemos encontrar também nas nossas televisões, com filmes e séries nos quais nem acabou o genérico e já morreram 7 pessoas.

Por qual razão continuar a espalhar esta mensagem? Sabem quem está atrás das grandes produtoras de Hollywwod?

Um povo armado é indesejável para qualquer ditador que se preze.

Depende dos objectivos. Aqui não estamos perante uma elite que deseja controlar o próprio quintal: os objectivos não são tão básicos, a aposta é bem maior do que isso.

[…] pela mídia sedenta por sangue que dá amplíssima divulgação a cada uma delas. por dias e dias. no mundo todo […] não deveriam dar nenhuma divulgação. nenhum maluco iria estragar a sua própria vida por nada.

Exacto. Mas quem controla os media dos Estados Unidos?
Então, meus amigos, algo não bate certo: porque dum lado é dito que as elites querem desarmar o povo, depois podemos ver as estatísticas das últimas três décadas e descobrimos que os massacres nas escolas não são coisas tão recentes. Já haveria mortos suficientes para apertar o cerco, mas ainda não foi feito e podem ficar descansados, pois nem Obama impedirá a “livre” venda das armas. No máximo, o que acontecerá será o seguinte: Obama apresentará uma proposta que será fortemente contrariada pelos Republicanos, e tudo continará como antes (será que os Republicanos, tradicionalmente em favor das “armas livres”, não fazem parte da elite? Isso não faz muito sentido, não é?).

então não se trata de retirar as armas do povo, mas sim de cuidar dos donos dos dedos.   

Exacto também: mas se as armas não forem retiradas e os donos não forem “cuidados”, a qual conclusão podemos chegar? Que na realidade não existe a intenção de retirar as armas e nem de parar a violência, porque o objectivo é outro. E é esta a minha convicção.

O que quero dizer é que a sociedade americana vive numa realidade de competitividade, consumismo exagerado e muito uso de drogas. O juventude americana é totalmente superficial, com forte bullying e muito segregada com formacao de grupos panelinhas. Vem de la o conceito de “popular” nas escolas. Se vc nao é “popular” voce é humilhado mesmo. 

Verdade. Mas isso não significa que seja preciso um programa MK-Ultra para convencer uma pessoa a entrar numa escola armada, pois ocasiões para encontrar uma motivação não faltam na sociedade: é a mesma sociedade que empurra para que tudo isso aconteça, até disponibiliza as armas. Não diz nada tudo isso?

Sugerir que a elite provoque os massacres para retirar as armas aos cidadãos é um pouco como sugerir que em Portugal o governo provoque a violência dos adeptos para abolir o futebol.
Nada disso, o governo deseja o futebol, porque isso permite distrair as pessoas (Portugal: 10 milhões de habitantes e 3 diários desportivos).

Pensem nos seguintes aspectos:

  • O último massacre ocupa as primeiras páginas dos noticiários há três dias nos EUA, as pessoas não falam de outra coisa. Não é uma maravilha? E a elite deseja que isso mude? Nem pensar, meus senhores, a elite pagaria para ter um massacre uma semana sim e a outra também (como o campeonato de futebol por aqui).
  • As crianças mortas significam que a sociedade é violenta. Consequência? A melhor cura é confiar nas autoridades, conceder-lhes mais poderes, colaborar com elas. Esta é a principal mensagem, o discurso das armas é secundário.
  • As crianças mortas representaram a ocasião para o presidente aparecer nas televisões de todo o mundo com as lágrimas nos olhos; algo que os seus predecessores já tinham feito sem que isso tivesse alguma recaída prática. Mas a imagem do presidente emocionado fica na memória colectiva e é isso que interessa. Demasiado cínica esta afirmação? Não, demasiado cínica a atitude: se a Administração quisesse realmente fazer alguma coisa, nem falaria das armas, começaria com o observar que a sociedade americana está mergulhada num clima de violência que é constantemente alimentado pela comunicação social e a industria do divertimento. A discussão acerca das armas serve aqui apenas para esconder os problemas de base, que são criados para determinados propósitos.

Depois: desarmar por qual razão? Mas seriamente achamos que a elite precisa de armas para controlar os cidadãos? Ou que uma eventual repressão poderia ser travada com uma espingarda?

Segundo muitos Leitores, os EUA dispõem de armas avançadas como o Haarp: então um dia falamos duma elite que usa o Haarp para criar o furacão Sandy e condicionar as votações, para provocar terremotos em Haiti e tsunami no Japão, e depois pensamos que o mesmo governo possa estar preocupado por causa da espingarda nas mãos dum vaqueiro? Mas não é apenas o Haarp, pois segundo muitos Leitores, os EUA estão na posse de tecnologia alienígena, enchem os céus de substancias para o controle da população, tem programas para o controle mental. E depois estariam preocupados com o revolver do vizinho?
Não há uma contradição em tudo isso?

Haarp ou não Haarp, a sociedade americana é controlada como acontece com as nossas: com a comunicação social, a mais poderosas de todas as armas. É com a utilização da televisão, das rádios, dos diários, das revistas, da publicidade que uma sociedade pode ser controlada da melhor forma, não com as armas. Estas servem apenas para alimentar o clima de violência e medo que poderá justificar mais restrições da liberdade pessoal. Ou será que já esquecemos o 9/11?

E agora, espaço para as opiniões dos Leitores.

Actualização

Após ter publicado o artigo apareceu esta notícia:

O Presidente Barack Obama pediu ideias a vários membros da sua
Administração para controlar o uso de armas de fogo nos Estados Unidos, e
encarregou o vice-presidente Joe Biden de coordenar os trabalhos para
encontrar uma resposta ampla para este problema. É o primeiro sinal de
que está a fazer um esforço sério , notam os media norte-americanos,
aproveitando o choque com o massacre na escola de Sandy Hook.

“Pediu ideias”. É escrito mesmo assim. Esta é a melhor demonstração da total falta de vontade no controlo das armas. Ideias? O mundo esta repleto de ideias: é só pegar na legislação dos Países onde estas coisas não acontecem e implementa-las. Não é preciso encarregar Joe Biden ou outra figura qualquer para sobrecarregar as células neuronais, as soluções já existem e estão disponíveis.

Há uma emenda na Constituição que impede isso? Então não há muitas opções, a primeira proposta deverá necessariamente ser uma emenda constitucional, caso contrário qualquer cidadão poderá sempre apelar-se ao Segundo Artigo e toda as medidas serão apenas areia nos olhos dos cidadãos (que é exactamente o que acontecerá).

Mas acabo com um pedido.

Um Anónimo (que agradeço) publicou o seguinte comentário:

“Isso significa que lutar para reduzir as armas nucleares… centrais
nucleares… cancro… Gostei mesmo: esta técnica permite explorar novos
territórios”.
Max, apesar de sua ironia, o que mata é a estupidez
humana. Isto é como uma doença, um vírus que nunca poderá ser
exterminado. O problema nos EUA é que existe uma cultura de exaltação às
armas… Como já foi dito aqui, no Brasil a venda é controlada e as
mortes atingem níveis inigualáveis.
Agora, o que significa “controlar
a venda de armas?” Sinceramente não entendo, tomando por base a
experiência brasileira, o que isto significa. “Controlar?” Seria melhor
proibir. Proibir a fabricação (para que sevem?). Afinal, poderíamos
proibir também as usinas nucleares, armas atômicas… mas o cancro e a
estupidez humana será impossível… estão além de qualquer vontade
humana!

Parto do segundo ponto.
Ninguém quer proibir a venda de armas, eu estou contra esta ideia porque, no mínimo, teria efeitos colaterais como no caso da droga: surgiria um mercado negro e tudo passaria para as mãos de organizações criminais. Mesmo nos Estados Unidos tiveram a experiência fracassada da Lei Seca com os alcoólicos.

Em Portugal ou em Italia, onde ninguém morreu alguma vez nas escolas, a venda de armas não é proibida. Só que para ter uma arma é necessário demonstrar ter determinados requisitos, como a maior idade, não ter sofrido condenações penais, não ser um doente mental e outras coisas que nem lembro. Não me parece uma ideia tão descabida.

Quem viu a reportagem de Micheal Moore acerca do massacre de Columbine (Bowling for Columbine), sabe que abrir uma conta num banco significa poder receber uma caçadeira como prenda. Mas os Leitores seriamente acham isso normal?

“Controlar” as armas não significa “proibir as armas”: significa, eventualmente, evitar que possam ser vendidas como rebuçados.

Quanto ao segundo ponto:

“Max, apesar de sua ironia…”

Eu sei que pode parecer esquisito, mas não há ironia na minha afirmação. É uma questão de simples lógica.

Quem
partilha a ideia de que as armas não sejam responsáveis pelas mortes,
faz um discurso racional. Nesta óptica é verdade: as armas em si nunca
mataram alguém.
Eu aceito um discurso baseado na lógica, quero só que o mesmo princípio seja válido em outros casos também.

O
cancro em si não mata ninguém, todos sabemos disso. Mas então por qual
razão tentamos encontrar uma cura? Não será por acaso pelas
consequências que o cancro implica?

Porque este raciocínio é válido no caso do cancro, das armas nucleares, das centrais nucleares e não é válido no caso das armas?

Gostaria que alguém explicasse isso. E gostaria mesmo, sem ironia nenhuma. Portanto deixo aqui a pergunta. E agora as palavras aos Leitores.

Ipse dixit.