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Origens: o Homem – Parte III

Enquanto os antigos macacos prosperavam,, um novo tipo de macaco surgiu: os Hominoidae.
Eram estes parecidos com os modernos homens? Na verdade não: sempre macacos eram. Só que cada vez mais afastavam-se da “macaquidade” para adquirir traços humanos.
O procônsul

25 ma de anos atrás surge o Proconsul que é, ao mesmo tempo o últimos dos Catarrhini e o primeiro dos Hominoidae: pode ser considerado o elo entre os macacos e as raças mais “humanas”.
Na imagem ao lado o Proconsul. O quê? Parece um macaco? Pois claro que parece um macaco, a estrada para chegar aos primeiros “humanoides” é ainda muito comprida.

Os Proconsules viveram na África do centro e do sul, a parte frontal do crânio era parecida com aquela dos homens, o cérebro era bem desenvolvido, não tinham cauda, apresentavam dentes molares grandes: mas além disso viviam principalmente nas árvores, pesavam uns 20 quilos, caminhavam só com as quatros patas e a alimentação era constituída por vegetais.

A partir daqui a reconstrução procede aos saltos, o primeiro dos quais não é nada pequeno: entre o Proconsul e o fóssil seguinte, o do Afropithecus turkanensis, passam algo como 9 milhões de anos. Nove milhões de anos ao longo dos quais ninguém sabe o que aconteceu.
Na mesma altura teria vivido também o Turkanapithecus kalakolensis, descoberto em 1986 no Kénia (tal como tinha acontecido pelo A. turkanensis. E a lista pode continuar comum longo elenco de espécie, por algumas das quais foram encontrados apenas fragmentos de ossos e cuja classificação é complexa.


Lembramos apenas os mais significativos, com o local da descoberta, a data da descoberta (entre parêntesis) e a data da presumível existência (estabelecida com a datação do radio-carbono): é importante lembrar que estamos perante não de macacos mas de nossos antepassados directos; e que cada espécie representou um avanço da direcção do resultado final, o Homo sapiens.

Sivapithecus indicus, Paquistão (1979), 10-12.5 ma
Oreopithecus bambolii, Italia (1872), 8 ma
Lufengpithecus lufengensis, China (1978), 8 ma
Sahelanthropus tchadensis, Chad (2001), 7 ma
Orrorin tugenensis, Kenia (2000), 6 ma

Depois, em 1976, uma descoberta destinada a fazer história, algo vivido 3.7 ma que mudou a maneira de ver a nossa história.

Lucy in the Sky

No dia 30 de Novembro de 1974, na localidade de Afar, Etiopia, Yves Coppens, Donald Johanson, Maurice Taïeb e Tom Gray encontraram os restos dum exemplar de Australopithecus afarensis. O exemplar era duma fêmea, da idade aparente de 25 anos, alta 107 cm e com um peso entre os 29 e os 45 kg; tinha vivido 3.2 ma atrás e que foi baptizada Lucy, da canção dos Beatles que os pesquisadores estavam a ouvir aquando da descoberta, Lucy in the Sky with Diamonds (LSD!).

Lucy tinha morrido perto duma pântano, talvez por cansaço; tinha uma aspecto bastante parecido com aquele dum macaco, mas apresentava algumas particularidades únicas. A mais importante das quais, provavelmente, era o facto de ser bípede, como intuído pela forma do fémur, tíbia e das respectivas articulações.

Dentes parecidos com os humanos (com capacidade omnívora), o crânio tinha um volume entre os 375 e os 500 cm3 (o homem moderno apresenta uma capacidade de 1.200-1.400 cm3), Lucy provavelmente conduzia uma existência divida entre as árvores (onde encontrava refugio) e o terreno.

Sucessivamente outros exemplares de Australopithecus afarensis foram encontrados: em particular, a descoberta em 2011 dum osso do quarto metatarso confirmou a capacidade de caminhar com duas pernas: de facto, os pés desta espécie era muito parecido com o pé do homem moderno. Provavelmente Lucy não podia correr, mas era capaz de caminhar com passos largos.

Lucy tinha um aspecto de macaco, sem dúvida (imagem à direita), mas nela é possível reconhecer algo de mais familiar e não é apenas uma impressão: a postura é sem dúvida mais humana quando comparada com os antecessores, a forma do peito é prova disso, e apresentava um dimorfismo sexual (diferença entre macho e fêmea) mais marcado, tal como acontece no homem moderno.

É difícil reconstruir os aspectos sociais da espécie de Lucy.
O que é possível observar é que o dimorfismo é acompanhado nos grandes macacos contemporâneos à existência duma vida em pequenos grupos familiares, com um exemplar macho dominante. Mas, claro, estamos no campo das puras especulações.

Só África?

Faixa vermelha: o Vale do Rift

Uma dúvida: mas porquê na África? Faz sentido pensar que o homem moderno possa ter evoluído num único lugar para depois ocupar os restantes continentes?

De facto existe uma teoria alternativa, segundo a qual a família dos homens poderia ter surgido em mais lugares ao mesmo tempo.

Eu gosto desta última hipótese, mas acho ser mais racional a primeira. Porquê?
É simples. Se aceitarmos a ideia de evolução, temos de admitir que os processos e as condições que levam até o nascimento duma espécie mais progredida podem ser coisas raras. E já não é fácil aceitar a ideia de evolução, pois até hoje ninguém viu evoluir algo.

Se observemos quanto ilustrado até aqui, podemos ver que:

  • os primeiros Primatas apareceram na América do Norte e na Europa (Purgatorius – 65 ma – e Plesiadapis – 58 ma);
  • as Esosimias, os primeiro Primatas com características de macaco, apareceram na Ásia, 45 ou 40 ma.

Isso significa que quando a evolução conseguir gerar um produto de sucesso, este tende a difundir-se. E esta “geração” pode acontecer em qualquer lugar, que depois identificamos como ponto de origem. Tal aconteceu com os exemplos acima, porquê não deveria ter acontecido em épocas sucessivas também?

É verdade que a “paranóia” dos cientistas com a África tem levado a que a maior parte da pesquisas acontecesse aí; e isto explica em parte a razão de muitas das descobertas fundamentais terem acontecido na África. Mas é verdade também que de facto os pesquisadores aí encontram o que procuram; e deve existir uma razão que justifique isso.

Não podemos comparar o nosso mundo com as condições de 5, 3, 1 milhões de anos atrás (ou ainda muito menos); não havia autoestradas que permitissem evoluir numa região para depois deslocar-se alguns milhares de quilómetros, talvez nas Bermudas pois o clima é melhor.

Faz sentido, no meu entender, que um restrito grupo de macacos tenha dado origem a um processo evolutivo que ao longo de muito tempo ficou confinado numa zona bem delimitada. Isso é, África cento-oriental: Etiópia, Chade, Kenia, Tanzânia,  as regiões atravessadas pelo Vale do Rift (um complexo de falhas tectónicas criado com a separação das placas tectónicas africana e arábica) 

Mas dos próximos passos vamos falar numa outra parte.

Ipse dixit.

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