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As bolsas e o salva-vida

Quando a situação é dura os duros entram em jogo. E o Correio da Manhã não foge perante o desafio.

Numa altura tão complicada para o País, com a bolsa que queima milhões de Euros portugueses, o diário aposta no jornalismo de investigação e na qualidade.
Eis os títulos da primeira página da edição online:

Misseis protegem Papa em Fátima
Jovem violada durante assalto
Esventrado por 20 Euros
Amy Winehouse caiu e magoou os seios

E a economia? Duas linhas num cantinho:

Pânico. Pacto de regime contra a austeridade.

Isto, repetimos, no jornal mais lido do País.
A esperança é que Standard & Poor’s não consiga um cópia, caso contrário o rating cairia até o ZZZ- causa manifesta incapacidade.

Antes duma vista de olhos nos outros diários (mais prosaicos, verdade seja dita), actualizamos a situação:

Outro dia dramático nos mercados das acções europeus após a queda de ontem. Vendas generalizadas no Velho Continente Hoje a lanterna vermelha é a Bolsa de Lisboa com uma queda de 5,90%. Depois da Grécia, Portugal é indicado como o próximo País que poderia acabar na mira da especulação internacional.
“Pesada” também a Bolsa de Madrid, com o Ibex a -3,40%. Em Milão o indicador Ftse all share cai 2,80, Bruxelas marca -3,50%. Baixas mais leves em Londres, com o Ftse 100 que perde 1% enquanto Paris e Frankfurt deixam o 2%.(Fonte: Asca)

Uma autêntica chuva de vendas. Em Portugal, mais em pormenor:

Continua a queda dos títulos de Estado dos Países financeiramente mais fracos da Eurozona. Sofrem em particular Grécia e Portugal. […] Esta manhã os rendimentos dos bonds helénicos a dez anos viajam ao 9,54%, para títulos a dois anos subiu até 23%.[…]
O rendimento dos títulos a 10 anos de Lisboa subiu até 5,57%, o dos títulos a 2 anos 5,51%. A curva das taxas da dívida pública de Lisboa fica cada vez mais horizontal com taxas iguais a curto e longo prazo. É uma situação sintomática  dum forte aumento do risco de insolvibilidade de Lisboa. Se a curva ficasse invertida, com taxas curtas maiores das longas, Portugal entraria na mesma espiral da Grécia e para Lisboa o capitulation day estaria atrás da esquina. (Fonte: Asca)

Situação perigosa. No entanto os economistas querem distinguir as várias situações. A crise não é a mesma em todos os Países.

Explica Jean Pisani-Ferri do Instituto Bruegel de estudos europeus:
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“Há efeitos de contágio, mas a situação grega é realmente de uma natureza diferente”

Além disso, “o problema central da Grécia é orçamentário”, enquanto o da Espanha, por exemplo, “afecta principalmente a competitividade” de sua economia e procede directamente à explosão da bolha imobiliária.
Portugal, por outro lado, enfrenta problemas tanto orçamentário como de competitividade, enquanto a Irlanda “correu riscos importantes ao desenvolver sua esfera financeira” antes da crise económica mundial.

No entanto, esses países também estão vinculados de certa forma: as decisões “para gerir a crise grega terá efeito nos outros países”, segundo esse especialista.

Para Jesus Castillo, economista do banco francês Natixis, os “mercados questionam actualmente a reestruturação da dívida grega”, ou seja, a possibilidade de modificação de seus vencimentos, suscitando “questões sobre os países que poderão vir depois”.

Contudo, a deflagração grega tem também efeitos virtuosos sobre os países mais afretados pela crise económica da zona do euro, ao empurra-los – assim como Atenas – a tomar medidas para reduzir seus deficits e realizar reformas para resolver problemas estruturais de sua economia.

“Até agora, desde o lançamento do euro, não se tinha feito uma diferenciação significativa no mercado entre bons e maus alunos (na zona do euro). Mas a partir do momento em que se estabelece” uma primeira comparação, cada país “se vê forçado a empreender esforços”, observa Pisani-Ferry.(Fonte: JBOnline)

E a Europa? Que acontece com a ajuda?

Os governos da zona do euro disseram estar prontos para fornecer à Grécia 30 bilhões de euros no plano de emergência de três anos, em empréstimos, enquanto o Fundo Monetário Internacional pode fornecer entre 10 bilhões e 15 bilhões de euros a mais

Ainda bem. É que Atenas tem uma certa pressa…

Mas o quão rápido a Grécia receberá o dinheiro dependerá dos procedimentos legais em cada um dos 15 outros países da zona do euro e do FMI. O tempo da Grécia é limitado, porque precisa pagar 8,5 bilhões em dívidas que vencem no dia 19 de maio.
Por isso, pode ser que a Grécia tenha que sair da Zona do Euro por um tempo, se não conseguir apertar o cinto o suficiente para se qualificar para receber o pacote de ajuda, disse um especialista orçamentário de um partido da coligação alemã nesta terça-feira.

Um alemão? Mmmhhh, isto é suspeito…

Uma saída temporária do euro poderia beneficiar Atenas se for acompanhada por uma desvalorização, disse Juergen Koppelin, dos Democratas Lives (FDP) à rádio Deutschlandfunk. 

Pois. Caso não tivesse ainda ficado claro, a Alemanha não tem muita vontade de entregar o dinheiro. Desconfia. E se calhar com razão. Mas é esta a altura certa para um debate? Ficamos com o salva-vidas na mão e perguntamos ao homem que afoga: “Vais portar-te bem?”.

O problema é que há mais pessoas na água: além da Grécia, Portugal e Espanha não estão muito bem e o Euro está em sofrimento.

Mas os Teutónicos não brincam. Não acaso são Teutónicos:

O ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, afirmou em entrevista ao jornal económico “Handelsblatt” que o país quer oferecer ajuda à Grécia, mas insiste que, para activar o plano de auxílio europeu, é necessário esperar o projecto de ajuste do FMI.

“Se o pacote do FMI for convincente, e eu não espero outra coisa, podemos adoptar na segunda-feira uma resolução no Conselho de Ministros”, diz Schäuble. Com isso, teria início o processo para aprovação parlamentar.
Schäuble rejeita, além disso, a impressão de que a Alemanha está frenando a activação do plano de ajuda à Grécia.
“O Governo alemão não está pisando o freio. Queremos decisões rápidas. Mas nossa meta é um plano de saneamento sustentável para que Grécia possa voltar a se sustentar nos mercados a médio e longo prazo”, assinala o ministro. (Fonte: EFE)

Tradução: sim, de facto travamos. Vamos tentar perceber a razão desta atitude? Em parte, já vimos, motivos eleitorais. Mas há mais:

Se além da Grécia, também Portugal e Espanha precisarem de programas de apoio europeu, “o valor será astronómico”, diz Piero Ghezzi, do Barclays Capital: 480 mil milhões de euros no mercado. “Agora estamos a falar de dinheiro a sério”.

Piero Ghezzi é economista do Barclays Capital e explica hoje na edição do “The New York Times” que o problema grego passou a ser português e pode passar a ser espanhol: os três países precisam de refinanciar muita dívida este ano e, se entrarem em colapso de crédito, poderão precisar de fortes programas de apoio internacional: “90 mil milhões de euros para a Grécia, 40 mil milhões para Portugal e 350 mil milhões para Espanha”, contabiliza Ghezzi. (Fonte: Jornal de Negócios)

 480 mil milhões de Euros? Por isso os Alemães não têm vontade de brincar…

Ipse dixit.