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Olaf, a raposa do Norte

Provavelmente estamos no ponto mais baixo alcançado pelo Velho Continente. Dizem que depois só é possível voltar a subir, mas com gente como esta o mais certo é começar a cavar. Até mete dó falar de certas coisas.

Pegamos no caso da Alemanha. Já lá vão os tempos em que em Berlim havia um político, Frau Merkel: agora a “locomotiva da Europa” está a ser conduzida por Olaf Scholz. Tanto para ter uma ideia, é aquele indivíduo que durante a campanha eleitoral de 2021 estava contra a vacinação anti-Covid obrigatória e que depois de ter sido eleito declarou o seu apoio em favor da vacinação obrigatória. Porque a coerência é importante. Agora, o antigo membro do Fundo Monetário Internacional, do banco alemão KfW e ainda participante do German Council on Foreign Relations tem o problema do gás. E até aqui nada de anormal: todos os governos europeus têm o mesmo problema nesta altura. Todavia…

Todavia, sobre a questão do gás russo a ser pago em Rublos (ou melhor: a ser pago na sede russa da Gazprombank e não nas sucursais europeias), estamos a assistir a um verdadeiro horror. Pago pelos cidadãos, claro está.

Após dias de sussurros e gritos, depois de anunciar que o gás nunca seria pago em Rublos, depois da Rússia ter explicado à Scholz que o mecanismo era um pouco diferente (a Alemanha teria pago em Euros e a Gazprom teria convertido os valores em Rublos), o governo alemão descobriu que o contrato de importação de gás não era com a Gazprom mas com a sua subsidiária Gazprom Germania Gmbh. Sucursal que a empresa-mãe agora abandonou. Portanto, não há mais contratos para o gás russo.

Parece que as autoridades alemãs desconheciam que Gazprom e Gazprom Germania Gmbh fossem duas organizações diferentes. A Gazprom Alemanha é a sede de um conglomerado composto por 40 empresas que operam em mais de 20 Países na Europa, Ásia e América do Norte, até a semana passada uma filial 100% da Gazprom russa. Depois, a empresa-mãe retirou-se e a filial de Berlim perdeu qualquer ligação com o gás russo e, portanto, com todas as actividades económicas relacionadas. Pior ainda: a Gazprom Germania Gmbh está em graves dificuldades, fala-se de insolvência e do perigo que entre em falência dentro de algumas semanas, altura em que será liquidada.

Resultados: todos os clientes da Gazprom Germania Gmbh serão agora forçados a comprar gás directamente à Gazprom Rússia. E agora sim, a pagar em Rublos. Sem Rublos? Sem gás.

Tendo aderido às sanções anti-russas, tal como exigido por Washington, a Alemanha já congelou as reservas de moeda russa. A maior instalação de armazenamento de gás do País em Rehden (Baixa Saxónia) está no mínimo histórico: 0.5%. Até Sexta-feira, este autêntico cofre de energia, bem como uma série de outras instalações localizadas em pontos-chave da infra-estrutura energética da Alemanha, pertenciam indirectamente à Gazprom da Rússia. Mas já não pertencem. Embora o governo alemão tivesse anteriormente ameaçado nacionalizar as companhias de gás russas no seu território, agora estas ameaças tornaram-se inúteis. A Alemanha não tem mais ameaças e nem tem contacto para o gás.

Isso significa que se Berlim desejar gás, terá que ir até São Petersburgo e negociar um novo acordo directamente com a Gazprom, em Rublos. Mas não pode. A Alemanha subscreveu a Carta da Energia e o terceiro pacote energético da União Europeia, segundo a qual todos os fornecedores de energia da UE são obrigados a fazer parte do sistema jurídico europeu, mesmo que seja através de filiais. Como era o caso da Gazprom Germania GmbH. É exactamente o que acontece com os contractos entre Países europeus e o outro gigante energético russo, a Rosneft.

Como é que a situação pode ser resolvida? Na verdade, Moscovo tinha proposto um esquema que teria poupado esforços: os clientes europeus pagariam em Euros ao banco Gazprombank russo (que é gerido pela Gazprom e que foi excluído das sanções), que depois converteria tudo em Rublos, como explicado acima. Mas a oportunidade não foi aproveitada e Berlim, na sua obtusidade, ameaçou tomar posse das empresas filiadas pensando que esta seria uma jogada vencedora. Ficando com as mãos vazias. Porque, como é tradição, os aposentos dos criados nunca são aquecidos.

 

Ipse dixit.