Site icon

Deus existe, gosta da África mas não de mim

Para já, tal como prometido, a Prova das Provas:

Sim, estou positivo, tenho Covid!!! Qual? A Covid-19. Havia a 18 em promoção mas eu quis a última versão, manias minhas. E o que acontece agora? Sete dias de isolamento, passados os quais já não é preciso fazer mais nada: não há uma contra-análises final, é assumido que a pessoa deixe de ser infecciosa. O que me parece um pouco estranho, mas enfim, quem sou eu para contrariar a Ciência?

O relatório acima é automaticamente enviado para o Serviço Nacional de Saúde e logo à noite serei a primeira notícia do telejornal, ainda antes da crise na Ucrânia e do Benfica.

Passados uns 10 ou 15 dias, eis o certificado de sobrevivência, o verdadeiro passe de livre-trânsito com o qual posso entrar nos restaurantes, sentar-me e encomendar não um, não dois mas todos os pratos de arroz de pato que assim desejar. Um Paraíso.

E pronto, assim descobrimos o que acontece às pessoas uma vez atingidas pela bíblica praga. Ah, ia esquecer: sinto-me bem, obrigado. Nada mais a relatar além de algumas dores musculares e ardor nos olhos (por isso só um artigo hoje e nada de Telegram!). Mas agora vamos ao que interessa.

A anomalia

Como estou isolado, de manhã fui espreitar alguns dados. E continua uma anomalia já detectada no começo da “pandemia”. O assunto é: lembram-se do Ocidente mau e egoísta que fica com todas as vacinas para si sem nada enviar para lá onde seriam mais precisas? Ora bem: o bom Deus estendeu a Sua mão misericordiosa e decidiu proteger da praga covídica os mais pobres e necessitados. Que vivem na África.

No Continente Negro apenas 15% da população recebeu pelo menos uma dose da vacina, enquanto pouco mais de 10% são aqueles com a vacinação completa (duas doses). Vamos transformar estas percentagens em dígitos: na África vivem 1.275.920.972 pessoas, das quais apenas 130 milhões estão plenamente vacinadas. Eis os dados:

Tentamos imaginar: um continente com mais de um bilião de pessoas totalmente desprotegidas, no meio das quais a bíblica praga pode circular à vontade e ceifar vítimas inocentes. Assustador. Ou melhor: seria assustador se não houvesse a intervenção divina. Que funciona bem, melhor do que uma vacina:

Na tabela acima podemos observar o número de casos por cada milhão de pessoa. A diferença é óbvia: 157.000 na Europa, 7.700 na África.

“Ò Max,” pensará o sábio Leitor, “afinal és mesmo estúpido: mas não sabes que na África os sistemas de saúde são uma lástima? Acreditas mesmo que tenham a capacidade de testar todas as pessoas doentes? Se calhar morrem de Covid e nem se apercebem disso!”.

Correcto. Não acaso defini “sábio” o Leitor.

Então vamos ver outra tabela, aquela do excesso de mortalidade. Na África são miseráveis, mas para contar os mortos não é preciso ser rico e nem ter um bom sistema de saúde.

A tabela é bastante clara, tendo em conta que apresenta “a diferença acumulada entre o número reportado de mortes por todas as causas desde 1 de Janeiro de 2020 e o número projectado de mortes para o mesmo período baseado em anos anteriores” (dados do COVID-19 Data Repository by the Center for Systems Science and Engineering da Universidade Johns Hopkins). Em bom português: excesso de mortalidade entre os anos de 2020 e 2021.

“Ó Max, continuas a demonstrar a tua infinita pequenez. Nas sabes que o vírus da Covid tem medo do calor? E na África há leões e calor”.

Eu não sei se o SARS-CoV-2 tem medo do calor, mas tenho algumas dúvidas. Se assim fosse, em outros cantos “quentes” do planeta não haveria Covid. Exemplo, o Brasil com 70% com dupla dose, 9% com dose única.

106 mil casos por milhão de habitantes contra os 7.700 da África. Não, não deve ser do calor ou la latitude.

Uma questão de etnia? Neste ponto seria interessante uma comparação com a Ásia, mas temos a questão dos dados: aqueles da China não são de confiança. Não é uma posição política a minha, é uma evidência. Espreitem o número de casos por milhão de habitantes, na China e nos Países confinantes:

Um bocado ridículo. O problema é que na China vivem 1.443.615.491 de indivíduos e isso distorce os dados da Ásia toda.

Em qualquer caso a doença não parece estar ligada à etnia: lembramos que nas primeiras fases da “pandemia” a comunidade afro-americana dos EUA queixava-se de sofrer mais vítimas do que as outras comunidades. E na África a comunidade “afro” é bastante numerosa…

“Ó Max, pobre atrasado, não vês? Quanto mais evoluído for o sistema de saúde, tanto mais mortal é a infecção”.

Não, nem isso é verdade. Países ricos, com um válido sistema de saúde, registraram relativamente poucos casos e uma baixa mortalidade por milhão de habitantes também. Além dos minúsculos Monaco, Lichtenstein, Hong Kong e San Marino, onde uma obra de contenção é mais simples dadas as dimensões, temos também Islândia, Nova Zelândia, Taiwan, o Japão na Ásia…

Resumindo: fica a dúvida. O Leitor tem alguma ideia para explicar o mistério dum inteiro continente de não-vacinados poupado à prevista catástrofe?

“Ó Max, convenceste-me: foi obra de Deus”.

Eu sei, foi o que disse. Deus existe e esta é a prova definitiva. Quem duvidar vai direitinho para o Inferno. Com Covid-18.

 

Ipse dixit.