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A Ponerologia – Parte I

Primeira parte do artigo dedicado ao tema da Ponerologia. Por aqui vamos dar uma vista de olho geral, tentando delinear as principais características da disciplina. Boa leitura!

 

A Ponerologia, também chamada de “ciência do mal” (do grego πονηρός = “mal” e -λογία, -logia = “estudo”) é o nome duma teoria multidisciplinar desenvolvida pelo psiquiatra polaco Andrzej Łobaczewski e usada para definir o estudo derivado da conjunção de psiquiatria, psicologia e sociologia, cujo objectivo é a identificação e a identificação das dinâmicas de injustiça social, partindo de considerações mais amplas de evidência social e terminando com a classificação clínica das dinâmicas psicopatológicas. Portanto, a ponerologia é um ramo da psicologia social e pode ser plicada a todas as estruturas hierárquicas de poder.

Para sermos ainda mais claros, a Ponerologia utiliza os instrumentos da psicologia, da psicopatologia, da sociologia, da filosofia e da historiografia para explicar fenómenos tais como as guerras de agressão, a limpeza étnica, o genocídio e o estado policial.

Segundo Łobaczewski, cada sociedade passa por fases alternadas definidas como “tempos felizes”, ou tempos de prosperidade, em que, partindo de um estado de equilíbrio psicológico, ético e moral substancial da população, as condições deixam lentamente de representar os valores dominantes da sociedade, cedendo gradualmente o lugar para atitudes anti-sociais perpetradas por indivíduos com certas características psicopatológicas; estes indivíduos são capazes de catalisar e orientar o consenso de acordo com modos socialmente prejudiciais e destrutivos, até atingirem uma condição definida como “tempos infelizes” que são a causa do mal no homem com extremos culturais e sociais e características quais uma emergente estupidez e ignorância.

Durante esta última fase, alguns indivíduos conseguem ter uma imagem daquilo que se está a passar e, desejando um renovado e construtivo equilíbrio social, começam a distinguir-se no seio da sociedade civil, tornando-se sujeitos activos de um conhecimento generalizado e específico para o restabelecimento da ordem social e de uma conduta mental saudável: uma acção baseada em renovados valores sociais, propensões à empatia, colaboração, afirmação do conceito de Bem, conduzindo em última análise a repercussões positivas a nível moral e a uma reorientação construtiva de toda a sociedade.

É importante notar que o termo “tempos felizes” não implica o conceito de avanço moral ou tecnológico de uma sociedade, assim como acontece no Positivismo: os “tempos felizes” podem ser estáticos, sem “progressos” significativos. E o mesmo Łobaczewski esclarece explicitamente que a prosperidade dos “tempos felizes” pode de facto ser o precursor da sucessiva opressão.

Łobaczewski resume os numerosos e específicos transtornos da personalidade (que ele chama de characteropathies) que caracterizam a Ponerologia: a psicologia e a psiquiatria ocidentais contemporâneas encontraram e confirmaram tais transtornos de personalidade anti-sociais, embora com nomes e nomenclatura diferentes como por exemplo o termo “psicopatia”. Os sujeitos do tipo psicopata são aqueles que, em última análise, catalisam e materializam a condição de patocracia (a fase degenerativa e terminal de um ciclo ponerológico) e quando ao mesmo tempo a maioria da sociedade atinge níveis mínimos de guarda contra a propagação de perturbações de conduta e da imoralidade.

Do ponto de vista sociológico, isso é equivalente à redução generalizada da moralidade em favor do aumento progressivo dos efeitos da conduta dos indivíduos afectados por perturbações do comportamento; os indivíduos psicopatas (0.6% da população humana: acerca disso é possível ler Prevalence and correlates of psychopathic traits in the household population of Great Britain na Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos) catalisam a conduta geral de forma negativa e rodeiam-se de outros indivíduos que amplificam os comportamentos socialmente desviantes. Estes têm a capacidade de catalisar uma população com perturbações psicológicas mais leves e/ou transitórias: os sociopatas, até 5.5 – 6% da população. Quando este limiar é atingido, toda a sociedade em questão (cerca de 85%) sofre um desvio patocrático decisivo: os indivíduos psicopatas e sociopatas infiltram-se nas instituições, subvertem os valores morais prevalecentes através dos seus opostos (por exemplo, missões de guerra em vez de paz). É nesta fase que aparecem os neologismos na comunicação política e pública (necessários para tornar mais aceitáveis conceitos que até então eram não aceitáveis) e o uso constante e repetido do paralogismo (um argumento ou raciocínio falso, embora possa ter a forma de um silogismo e a aparência de verdade) e do paramoralismo em vez da lógica e da moralidade autênticas e genuínas (acerca disso é possível lembrar os conceitos de Duplopensar e de Neolingua no romance 1984 de George Orwell).

Interessante a observação da Wikipedia versão portuguesa:

Um sistema de governo forjado por uma minoria psicopata que assume o controle da vida de pessoas normais. Ocupam não só cargos políticos, mas posições de referência moral e intelectual — incluindo-se aí as salas de aula e cátedras universitárias, como os “pedagogos da sociedade”: pessoas fascinadas por suas ideias grandiosas, frequentemente limitadas e com alguma mácula derivada de processos de pensamento patológico, que se esforçam para impor suas teses e métodos, empobrecendo a cultura e deformando o caráter das pessoas

Existem várias condições patocráticas descritas por Łobaczewski. Quando a progressão patocrática atinge a última fase, ela própria perece devido às forças estabilizadoras implícitas no tecido social da maioria da população: embora uma minoria seja susceptível à influência patocrática, a maioria tende espontaneamente a resistir-lhe. Os primeiros sujeitos que serão induzidos a resistir são, segundo Łobaczewski, os primeiros a ter sofrido o trauma psicológico resultante da exposição aos efeitos da conduta patocrática, desenvolvendo primeiro uma forma de imunidade instintiva (aumento do desenvolvimento empático) e, subsequentemente, através da criação de redes informais entre os sujeitos gradualmente menos danificados em favor do apoio mútuo e da cooperação (com base nos efeitos da comunicação empática, dos quais os sujeitos psicopatas são total ou quase totalmente desprovidos por razões quase exclusivamente genéticas; nos sujeitos sociopatas esta função é alterada).

Outra vez, Łobaczewski oferece um limiar: 5.75% da população “imunes” à patocracía, para além do qual o restante 85% da população sofre um realinhamento dos valores e de atitudes de colaboração. A conclusão de um ciclo patocrático pode ter lugar ao longo de três gerações humanas, o que equivale aproximadamente a 70 anos. Este é um fenómeno que parece ter sido confirmado (2010), em particular pelo trabalho de Nicholas A. Christakis (médico e cientista social conhecido pelas suas pesquisas sobre redes sociais e variáveis socioeconómicas e biossociais) e James H. Fowler (cientista social especializado em redes sociais, cooperação, participação política e estudo da base genética do comportamento político).

Łobaczewski argumenta que a origem da patocracia é quase inteiramente bio-genética.

Extrema síntese: o trabalho de Łobaczewski implica que para a humanidade sobreviver e florescer, tem de aprender a identificar e gerir a psicopatia e as sociopatias, juntamente com os seus fundamentos ponerológicos e destrutivos. Pelo que: cooperação positiva e sincera, altruísmo, generosidade, empatia, perdão, tolerância, fé, espírito de auto-sacrifício em benefício da comunidade são os elementos idos quais a sociedade precisa como autodefesa e base das evolução futura.

Problema: na Ponerologia não existe o conceito de livre arbítrio. Por qual razão? Porque os sujeitos patológicos e a população actuam de forma inconsciente (lembramos a componente genética) enquanto os sujeitos “imunes” ou “imunizados” não têm outra escolha a não ser a protecção e o cuidado da sociedade.

Até aqui as bases da teoria conhecida como Ponerologia. No próximo artigo vamos observar melhor os pormenores e também pensar um pouco acerca disso tudo.

 

Ipse dixit.