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A FDA no comércio de fetos abortados

Não tem ganho as primeiras páginas dos media nacionais, mas por aqui vamos relata-la: é a descoberta do envolvimento do governo dos EUA no tráfico de fetos abortados.

Antes de prosseguir será bem especificar que quem escreve é um apoiante do aborto, que encaro como direito inalienável duma mulher e, mais no geral, dum casal. Pelo que tranquilos, este é um artigo curto, bastante simples e sem implicações do tipo “aborto sim, aborto não”. O discurso aqui é diferente: é lícito que o mercado dos fetos seja deixado nas mãos dos privados? É o que acontece nos Estados Unidos.

Artigo simples, dizia: cada um dos seguintes pontos é acompanhado por um ou mais links que mostram documentos oficiais (tornados públicos por um pedido baseado na Lei da Liberdade de Informação FOIA), cabe depois ao Leitor verificar caso não esteja convencido do que é relatado.

Ponto de partida: o anúncio da Casa Branca segundo o qual, sob a direcção do Presidente Biden, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos inverteu a política da Administração Trump de proteger os fetos da colheita de órgãos em nome da investigação científica.


1. A FDA pagou 2.000 Dólares por feto

A U.S. Food and Drug Administration pagou cerca de 2.000 Dólares por feto, por vezes até 12.000 Dólares por contentor de órgãos colhidos. Uma espécie de “um tanto ao quilo”.

Os registos e-mail confirmam que a FDA tinha concordado em entregar à Advanced Bioscience Resources (ABR), a maior empresa dos EUA que comercializa tecido fetal, cerca de 2.000 Dólares por feto abortado, subindo para 12.000 Dólares no caso de cada contentor de órgãos, juntamente com os custos de embalagem e expedição.

2. A FDA comprou órgãos de fetos desmembrados

A FDA comprou órgãos como fígados, cérebros e globos oculares de fetos desmembrados por centenas de Dólares cada um, graças ao conluio da ABR com a Planned Parenthoods, uma organização sem fins lucrativos responsável por metade dos abortos realizados nos Estados Unidos. Por ano, a Planned Parenthoods realiza cerca de 324 mil abortos e consegue uma receita anual de 1.3 biliões de Dólares, incluindo aproximadamente 530 milhões de fundos governamentais

Os planos de preços da ABR obtidos durante uma investigação do Comité Judicial do Senado dos EUA permitem avaliar quanto valem as várias partes do corpo de um feto. Faz lembrar um talho? Pois faz.

3. A ABR vendeu a pele de um feto de 21 semanas com síndrome de Down

As compras da FDA foram calculadas de acordo com o actual “Programa de Taxas por Serviços” da ABR, que manteve os mesmos preços para todos os clientes. Um registo de compra mostra a venda de um feto de 21 semanas com síndrome de Down. Membros, órgãos e pele deste feto tinham sido vendidos por centenas de Dólares por cada amostra. No total, a ABR tinha ganho 2.600 Dólares com a venda deste feto.

Os preços no caso desta criatura:

4. A FDA queria fetos “frescos

A FDA exigiu que o tecido estivesse em perfeitas condições. As condições iniciais especificavam que o tecido tinha de ser “fresco, nunca congelado” e recolhido de fetos com 16-24 semanas “sem anomalias cromossómicas conhecidas”.

5. A FDA tinha exigido órgãos de fetos a prazo completo

A consciência de muitos pró-aborto historicamente sempre foi confortada pela garantia de que a maioria dos abortos ocorre quando o embrião ou feto ainda não é “vital”, portanto incapaz de viver fora do útero, e que os procedimentos bárbaros de desmembramento não são praticados. Mas os e-mails mostram que a FDA tinha comprado numerosas partes do corpo de fetos até 24 semanas, uma data em que muitos prematuros sobrevivem fora da mãe e são capazes de viver vidas normais.

6. A FDA tinha comprado crânios de fetos no segundo trimestre de gestação

Os recibos confirmam que a FDA tinha adquirido “abóbadas cranianas intactas” de fetos com 8-24 semanas de gestação para utilização em experiências. Qual exactamente a utilização destas abóbadas não é claro.

7. As clínicas de aborto mais populares produzem “amostras horríveis”

A FDA tinha expressado um pedido de tecido “fresco”, mas a ABR respondeu que as clínicas da Califórnia que mais trabalhavam produziam amostras “horríveis“, demasiado manchadas para serem utilizadas. O grande número de abortos realizados nestas clínicas teria tornado difícil para os operadores garantir que as amostras fossem perfeitamente preservadas.

8. A FDA tinha exigido órgãos fetais para a criação de ratos humanizados

A FDA tinha chegado ao ponto de solicitar que órgãos fetais fossem utilizados em operações “muito importantes e … desafiantes” para a criação de ratos humanizados. A ABR tinha respondido que faria o seu melhor, mas que não podia fazer quaisquer promessas devido à “natureza dos procedimentos de cessação” que desmembram o corpo fetal até ao ponto de torna-lo irreconhecível.

9. Os contribuintes pagaram pela participação da FDA num “Workshop de Ratos Humanizados” na Europa

Como se “investigação” não fosse suficiente, a leitura destes e-mails revela que alguns funcionários da FDA tinham assistido, juntamente com funcionários da ABR, a um “Workshop de Ratos Humanizados” realizado em Zurique, em Janeiro de 2016.


Pelo que, não admira que o governo federal manteve estes documentos em segredo durante tanto tempo. E não surpreende que os órgãos de informação oficial fiquem longes de histórias como estas.

Repito: uma coisa é o aborto (que pessoalmente apoio), outra coisa é a mercantilização dos fetos abortados, a venda dos vários órgãos como se dum talho se tratasse. Estamos perante práticas que correm o risco de ser um incentivo ao aborto que, pelo contrário, deveria ser uma intervenção reflectida e extremamente pessoal, ditada por razões exclusivamente íntimas e nunca monetárias. É este um dos maiores risco (mas nem o único) em deixar a prática do aborto nas mãos de privados. Cujos objectivos, como é óbvio, é sempre e só o lucro.

Não tenho objecções à pratica de utilizar partes do corpo humanos na experimentação médica: pelo contrário, acho correcto sobretudo considerando que a alternativa seria a experimentação em animais (claro que se depois os resultados forem os “ratos humanizados”…). Mas as implicações num mercado de corpos e órgãos gerido por privados (dos quais até o Estado costuma abastecer-se) são demasiado grandes para serem ignoradas.

 

Ipse dixit.