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Operação Marquês: o sistema levanta a voz

José Sócrates, o antigo Primeiro Ministro de Portugal, foi liberto de mais de 20 crimes.

Só cinco dos 28 acusados na Operação Marquês vão a julgamento e dos 188 crimes sobraram apenas 17. Sócrates saiu do tribunal com tom vitorioso: dos 31 crimes de que era acusado vai a tribunal por seis, três de falsificação de documentos e três de branqueamento de capitais. Ricardo Salgado, antigo dono do banco Espírito Santo (um dos maiores do País, entretanto fechado), vai ser julgado por três crimes de abuso de confiança.

O que dizer? Pessoalmente sempre achei José Sócrates como um dos melhores políticos que vi em Portugal. Só que é um corrupto e como tal deveria ser julgado e condenado.

Em qualquer caso, a Justiça portuguesa sai de rastos. Se Sócrates for um corrupto (e é corrupto, não haja dúvidas), o Juiz Ivo Rosas acabou de ilibar um culpado. O que não é simpático, tendo também em conta os valores em jogo (fala-se aqui de dezenas de milhões de Euros). Se Sócrates não for corrupto (mas é corrupto), ao longo de sete anos a comunicação social jogou ao tiro ao alvo com um inocente, cúmplice um sistema judiciário que com as infinitas “fugas” de informação construiu e vendeu ao público a imagem dum culpado sem apelo.

O que estamos a ver aqui não é uma luta política mas o sistema a proteger-se. Espreitem a lista dos (ex) acusados: socialistas, jesuítas, hebreus, ligações com Merrill Lynch, Deutsche Morgan Grenfell, Warburg Dillon Read, contactos com a China, Wall Street, OCDE… nada falta. E acusar o Juiz Ivo Rosas (como curiosidade: ONU, Tribunal Central de Instrução Criminal) seria limitativo: Rosas falou especificamente em falhas no implante acusatório, em instrumentos que poderia ter sido activados e não foram. Hoje foi só o culminar de algo que foi trabalhado ao longo do tempo.

A partir de agora, a questão será rapidamente levada para a cena política. O Partido Socialista (aquele do Sócrates) a defender a legitimidade das instituições, inclusive a Justiça; a oposição (inclusive parte da Esquerda) a falar em pressões, ao realçar como esta sentença aconteça na altura em que o PS está no poder. Entretanto o amigo de Lula e outros arguidos ficarão livres, no processo continuam os peixes pequenos (o condutor de Sócrates).

Os cidadãos poderão entreter-se com as opiniões dos vários especialistas convidados, trocando as típicas acusações dos “-ismos” e, obviamente, não levantando um dedo. Depois, no Sábado jogam Porto e Benfica, no Domingo o Sporting e haverá muito para contar sobre penalidades não concedidas, fora de jogo duvidosos e outras coisas importantes na vida. Muito triste.

 

Ipse dixit.

Imagem: Marcos Borga via Visão