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O Satanismo – Parte III

E vamos acabar esta série dedicada ao Satanismo com a pergunta: qual o relacionamento entre Poder e Satanismo? Existe um relacionamento assim? Sim, existe. Quanto profundo? Diria “pouco profundo”, bastante fracote até. Leitor desiludido? Estava à espera de Missas Negras bilionárias com orgias entre montes de moedas? Não parece esta a realidade.

O principal problema neste âmbito reside nas fontes das informações que é possível recolher. Não há quase nada além dum conjunto de publicações internet que são tudo menos que “de confiança”. Mas vamos com calma: comecemos pelo que é conhecido.

Por exemplo, Bohemian Grove, o lugar de encontro dos membros do Bohemian Club desde 1872: é aqui que as personalidades mais ricas e mais influentes dos Estados Unidos e do mundo costumam relaxar entre procissões, fogos de artifícios, rituais e imagens do diabólico. O que há por aqui do Satanismo que encontrámos na segunda parte desta série? Provavelmente pouco ou nada: Bohemian Grove parece baseado num simbolismo cuja função é lembrar aos participantes a sua função alternativa ao poder institucional e “democraticamente” eleito. O equivalente ao Satanismo Ácido mas na versão mais “culta”, para a Elite.

Mesma linha no caso de Skull and Bones, organização da Universidade de Yale, entre cujos membros podemos encontrar:

Nome “de peso”, sem dúvida. O que fazem na Skull and Bones? Ron Rosenbaum, repórter de New York Observer, na noite de 23 de Abril de 2001 esteve com algum pessoal no telhado de um edifício com vista para o pátio interior duma das reuniões e filmou, com a ajuda de câmaras de visão nocturna, parte da cerimónia; o vídeo foi também retransmitido pela cadeia ABC.

Entre gritos, ossos e mortes simuladas, o repórter distinguiu um imitador do ex-Presidente George W. Bush (que tinha acabado de ganhar as eleições presidenciais) que gritava “Vou cortar-te como cortei Al Gore”, o candidato derrotado. O ritual costuma continuar no interior do “templo” onde o iniciado é feito sentar num caixão para renascer do mundo dos “bárbaros”. O iniciado recebe um novo nome, um apelido pelo qual serão conhecidos pelos membros da Skull and Bones para o resto das suas vidas. Este “baptismo” acontece de acordo com regras e costumes precisos: o mais alto do grupo, por exemplo, será chamado Long Devil e Boaz (abreviatura de Belzebu); outros nomes são retirados da literatura (Hamlet) ou da mitologia, especialmente nórdica (Odin, Thor e Baal). Magog, por outro lado, é o iniciado com a experiência mais sexual (Gog é, no oposto, o que tem menos).

Uma espécie de encontro entre Harry Potter, Drácula e um atrasado mental. O que preocupa aqui não é tanto o eventual Satanismo quanto o facto destes serem homens poderosos e, ao mesmo tempo, terem evidentes problemas.

Se Bohemian Grove e Skull and Bones parecem não oferecer muitos argumentos em relação ao Satanismo, vice-versa a procura do simbolismo mais ou menos ocultos não deixa desiludidos. O site americano The Vigilant Citizen é uma autêntica mina neste aspecto: o problema é a confiança que inspira o site em si, a mesma de dezenas de outras publicações online que tratam do assunto.

Além disso, o simbolismo é um campo minado: é extremamente simples interpretar imagens segundo os nossos pré-conceitos, “encontrando” coisas que nem existem. Um exemplo directamente do citado The Vigilant Citizen: uma inteira página dedicada aos símbolos satânicos durante a cerimónia de abertura do mais comprido túnel do mundo, o Túnel de São Gotardo. Consultei esta página porque atravessei o túnel (uma experiência muito aborrecida) e fiquei curioso ao encontrar a aproximação feita entre a obra e o Satanismo. De facto, as imagens fazem lembrar Satanás, nomeadamente na versão do demónio-cabra:

O demónio-cabra da cerimónia

Mas esta era exactamente a intenção dos organizadores: a cerimónia foi inspirada num conto popular local acerca da Ponte do Diabo, que passa pelo Passo de Gotardo, uma lenda na qual uma das protagonistas é uma cabra (de propriedade dum pastor). Além disso, o demónio-cabra é uma óbvia reminiscência de Pan, o Deus dos bosques, alguém não particularmente simpático (o termo “pânico” deriva do nome do Deus).

A bem ver, a cerimónia celebrava o triunfo da capacidade humana sobra as superstições pagãs e religiosas: uma direcção que é exactamente oposta ao sentido do relato feito pelas páginas americanas.

Outro exemplo, desta vez mais recente, é aquele da rapper Azealia Banks, que alegadamente desenterrou o seu defunto gato (o que sobrava dele) e pus tudo a ferver em água quente para doar-lhe a vida. O nome do gato era Lúcifer, obviamente. Os resultados não parecem ter sido os melhores (Lúcifer está agora numa caixa rodeado por instrumentos de “magia”), mas Azealia ficou satisfeita. Tal como The Vigilant Citizen, que agora pode publicar a história e perguntar: “Está mentalmente louca? Ou estava simplesmente envolvida na feitiçaria típica da indústria musical? Porque não as duas coisas?”.

Azealia Banks

A realidade conta algo diferente: 1. Azelia Banks é uma zé-ninguém. 2. este não é Satanismo mas um problema bem conhecido pelos profissionais da saúde psíquica.

Repito: o que se passa com The Vigilant Citizen acontece com dezenas de outras publicações parecidas. Isso significa que não há Satanismo entre a Elite? Tudo não passa de imaginação ou interpretações forçadas?

Procurei muito nos últimos dias e tive imensas dificuldades em encontrar algo merecedor de atenção. Podemos pensar que, sendo a Elite um grupo muito restrito, seja simples manter o secretismo acerca duma eventual participação satânica. Podemos pensar que a procura não deu frutos porque não soube procurar nos lugares correctos, o que bem pode ter acontecido. Ou podemos pensar que o Satanismo afinal não esteja tão enraizado no Poder, pelo que é um assunto desprovido de sólidas bases. Todos pontos de vista válidos.

Pessoalmente fiquei com a ideia de que o Satanismo existe nas Elites mas só como fachada, não como crença ou religião. Um Satanismo apenas das formas, cuja única função parece ser a procura de justificação para outras atitudes. Um Satanismo no qual a Elite não acredita, que fique claro, mas que envolve numa capa de “transgressão lícita” outros assuntos, desta vez bem reais: a gestão dos Países nos bastidores, os acordos longe do público, a questão da pedofilia. Este última, não acaso, surge invariavelmente associada ao procurar o termo “Satanismo” nas páginas do citado The Vigilant Citizen, algo que repete-se em outras publicações. Dum lado não podemos esquecer que tais páginas são quase sempre obras de fervorosos cristãos conservadores, para os quais só a palavra “Diabo” é suficiente para provocar arrepios. Do outro lado, a pedofilia é uma praga das Elites, algo que o caso Epstein bem comprovou.

Temos que voltar a realçar um discurso já enfrentado aqui em Informação Incorrecta: as Elites são compostas por seres humanos maioritariamente problemáticos, com fortes traços psicóticos. São indivíduos que vivem numa realidade afastada da nossa, onde as leis e as regras não são as mesmas. Demasiadas vezes são pessoas que nasceram e foram criadas neste contexto, pelo que é normal terem problemáticas sociais. Negá-lo significa rejeitar a evidência: mas alguém acredita que um George Bush (filho) teria conseguido chegar à Presidência dos EUA se não tivesse tido o apoio paterno? E o pai também tive a vida facilitada porque filho de Prescott Bush, por sua vez herdeiro de Samuel P.Bush… Toda uma dinastia de indivíduos crescidos em ambientes exclusivos, autênticas “bolhas” que isolam do resto da Humanidade. E os Bush não são um caso único.

O Satanismo “de fachada” é simétrico a máquina de Hollywood, a mesma da qual saíram Azelia Banks e o gato Lúcifer (este provavelmente um caso de suicídio provocado pelo desespero), na qual podemos encontrar a “bruxaria”, a pedofilia como “normais”, os abusos sexuais como “normais”. São dois lados da mesma moeda podre.

Infelizmente, a tentação é aquela de recusar o óbvio para abraçar justificações mais obscuras e até com encontrar motivações históricas. Então eis o Satanismo como forma do Judaísmo e, afinal, do Sionismo. Daí é simples chegar a individuação da cómoda figura do “eterno inimigo”. As páginas de Veterans Today fornecem um bom exemplo disso com um artigo de 2017 que consegue juntar Judaísmo, Cabala, Satanismo e Maçonaria: com os Reptilianos também teria sido alcançada a perfeição absoluta.

A teoria é a seguinte: os revolucionários judeus utilizaram sociedades secretas como a Maçonaria e os Rosacruz para derrubar a Civilização Ocidental com a Revolução Francesa. O próprio Voltaire era um maçon e estava indirectamente a ajudar o judaísmo quando disse: “Que os verdadeiros Filósofos se unam numa irmandade como os maçons; que se reúnam e se apoiem mutuamente, e que sejam fiéis à associação”.

Revolução Francesa? Esta é coisa moderna, de apenas um par de séculos atrás: tentamos encontrar “satânico” com um par de milénios aos menos. Explica E. Michael Jones, autor do livro The Jewish Revolutionary Spirit and Its Impact on World History:

O fundamento teológico da Revolução Francesa torna-se claro quando a Barruel [Abade Augustin Barruel, 1741 – 1820, fanático católico conservador francês em perene luta contra Maçonaria e Illuminati. Não acaso um Jesuíta, ndt] expõe o ritual maçónico. As filosofias começaram o seu ataque ao antigo regime subvertendo a moral, mas o objectivo era sempre teológico. O ataque da Maçonaria a Cristo foi inspirado pela literatura Talmúdica na Cabala…

Eric Gajewski, outro alegado especialista no assunto (este o blog dele), afirma:

Temos de compreender que da perspectiva católica “israel” ou Sião foi sempre uma referência pela Igreja Católica e não uma espécie de “estado fantoche” criado por aqueles que verdadeiramente odeiam Nosso Senhor. O seu “Messias” não é o nosso. No entanto, quantos supostos cristãos sabem que estão a seguir esta heresia?  Certamente, a maioria dos “cristãos” na América estão a segui-la. […] Quem está por detrás da Nova Ordem Mundial? A resposta torna-se óbvia após algum estudo básico.  Estamos a sair de uma sociedade verdadeiramente católica para cair nos braços do próprio Anticristo. Lembramos as palavras do rabino Waton:

“O judaísmo é comunismo, internacionalismo, a fraternidade universal do homem, a emancipação da classe trabalhadora e da sociedade humana.  É com estas armas espirituais que os judeus conquistarão o mundo e a raça humana.  As raças e as nações submeter-se-ão alegremente ao poder espiritual do judaísmo, e todos se tornarão judeus….”.

Sim, exacto: Eric Gajewski é outro fanático hipercatólico. Mas onde fica o Satanismo? Fica aqui:

A Cabala é fundamentalmente satânica na sua orientação teológica. […] Em termos cabalísticos, “forças malignas ligam-se à santidade”. Patentemente, o que está a ser chamado “santo” não está de acordo com qualquer compreensão cristã de santidade, mas sim com a compreensão pagã (tântrica) de que “a impureza é uma fonte de santidade”. Jerusalém é a porta para o inferno, é celebrada neste sentido místico cabalístico, dado que foi reconhecido e admitido pelos rabinos durante séculos que as forças malignas são “as mais poderosas na Terra de israel, particularmente em Jerusalém”, com os “espantosos poderes” da terra que facilitam o processo de adoração demoníaca e a consequente aquisição do poder material na Terra.

O Talmude Babilónico afirma que a árvore proibida no Jardim da qual Adão comeu era um figo […]. A Cabala ensina que as folhas desta figueira transmitiam poderes de feitiçaria e magia (Zohar 1:56b Bereshit). Consequentemente, na mente rabínica, os aventais usados por Adão e Eva, sendo feitos das folhas da figueira, eram peças de vestuário que davam aos seus portadores poderes mágicos. Estes aventais feitos de folhas de figueira tinham o poder de dar ao portador a capacidade de desfrutar “dos frutos do mundo para chegar” no aqui e agora. (BT Bava Metzia 114b). É com este entendimento rabínico que os Maçons e Mórmons usam estes aventais nos seus próprios rituais.

Olhem, tinha-me esquecido dos Mormons…

O Judaísmo ensina secretamente, tal como as sociedades secretas ocultas ao longo dos tempos (no nosso tempo, o Tantrismo Hindu e o Ordo Templi Orientis ou OTO), que o místico pode encontrar a redenção através de uma vontade heróica de fazer o mal em prol de uma ascensão redentora subsequente ao bem espiritual mais elevado; a imersão no mais baixo dos baixos torna-se assim um caminho para a redenção: “…o conceito de descida do Zaddiq, mais conhecido pela frase hebraica, Yeridah zorekh Aliyah, nomeadamente a descida por causa da subida, a transgressão por causa do arrependimento…”.

Seguem-se as aventuras da maléfica doutrina rabínica ao longo dos séculos, algo que poupo ao Leitor sendo eu bom por natureza. Limitamos a exposição a poucas frases seleccionadas:

“O mau impulso é bom, e sem o mau impulso, Israel não pode prevalecer no mundo” (Zohar 161a); e “israel deve fazer sacrifícios a Satanás para que este deixe Jerusalém sem ser molestado”.

O espírito revolucionário varreu a Europa no século XIX com a ascensão do marxismo, que foi a criação ideológica de Karl Marx e Moses Hess. No século XIX, revelou-se em grande parte da Europa e em secções da América na indústria do sexo, que era em grande parte uma empresa judaica – uma empresa que deu origem à concepção negativa de Hitler sobre os judeus.

Como vimos anteriormente, este mesmo “mau impulso” quase destruiu Berlim nos anos 20 e 30 através da corrupção moral e degradação.

Tudo interessante e sobretudo: muito bem fundamentado do ponto de vista teológico pois coisas que não faltam são fontes literárias neste sentido. Mas tudo com um problema que já conhecemos: ver todos os males da nossa sociedade como originados por uma única causa, neste caso o Satanismo ancestral dos judaicos. Uma visão excepcionalmente restrita e limitada que pode satisfazer os fanáticos mas que em nada explica o fenómeno do Satanismo hoje. Duvido que Epstein e os amiguinhos deles abusassem de menores por ter lido o Bava Metzia.

Como foi possível observar na segunda parte do artigo, o Satanismo contemporâneo é bem outra coisa e, exceptuando a vertente Ácida, recusa a ideia da pedofilia, ficando muito mais perto duma “filosofia” cujo foco é o melhoramento do indivíduo dum ponto de vista espiritual e ainda mais prático.

Pelo que, o Satanismo da Elite parece ser pouca coisa. Lamento a eventual desilusão, mas não parece ser mais do que uma “moda” alimentada e amplificada por pesquisadores do “bombásticos”, sobretudo numa altura como a nossa na qual a “transgressão conformada” é um meio para abater os antigos valores e atrair franjas de revolucionários progressistas mono-pensantes.

Obviamente posso estar redondamente errado e estou sempre pronto a fazer marcha atrás perante provas no sentido contrário. Mas até lá continuarei a pensar que os problemas dos membros da Elite não têm origem numa religião mas estejam relacionados com assuntos económicos, financeiros e do foro psiquiátrico. O Satanismo dum Bohemiam Grove ou duma Skull and Bones parecem mais uma expressão deste desconforto psíquico.

 

Ipse dixit.