A ideia original era aquela de publicar algo acerca do próximo Presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris. Depois fui espreitar as nomeações de Joe Biden e encontrei um sujeito até melhor: Kristen Clarke.
A simpática Kristen, de origem jamaicana (como a Harris) é agora The Lawyers’ Committee for Civil Rights Under Law, isso é: Chefe da Divisão dos Direito Civis. Um lugar em destaque e sensível numa altura em que as questões raciais parecem ter voltado à tona nos Estados Unidos. Portanto, a Kristen deve ter sido o fruto de cuidadosas reflexões. E, sem dúvida, um dos elementos mais probantes acerca das capacidades da jovem funcionária foi a carta que a mesma Kristen publicou em 1994 enquanto Presidente da Black Students Association (Associação dos Estudantes Negros).
Vamos lê-la? E vamos, tal como apareceu originalmente em 28 de Outubro de 1994 nas páginas de The Harvard Crimson, o diário estudantil da Universidade de Harvard, um dos mais antigos dos EUA (foi fundado em 1873):
Em resposta àqueles que defendem The Bell Curve (“Defending The Bell Curve”, Opinion, Oct. 24, 1994), por favor usem as seguintes teorias e observações para o ajudar na sua procura da verdade relativamente às diferenças genéticas entre negros e brancos.
Primeiro: o Dr. Richard King revela que no centro do cérebro humano está o “locus coeruleus” que é uma estrutura que é negra porque contém grandes quantidades de neuro-melanina que é essencial para o seu funcionamento.
Dois: os bebés negros sentam-se, levantam-se, rastejam e caminham mais cedo do que os brancos.
Três: Carol Barnes observa que os processos mentais humanos são controlados pela melanina – o mesmo químico que dá aos Negros as suas capacidades físicas e mentais superiores.
Quatro: alguns cientistas revelaram que a maioria dos brancos são incapazes de produzir melanina porque as suas glândulas pineais são frequentemente calcificadas ou não funcionam. As taxas de calcificação da pineal em africanos é de 5 a 15 por cento, nos asiáticos 15 a 25 por cento e nos europeus 60 a 80 por cento. Esta é a base química para as diferenças culturais entre negros e brancos.
Cinco: a melanina confere aos Negros maiores capacidades mentais, físicas e espirituais – algo que não pode ser medido com base em padrões eurocêntricos.
Nada mal. Nada mal mesmo. Trata-se basicamente de supremacismo negro numa base racial, um racismo biológico dos africanos sobre todos os outros.
A coisa não caiu muito bem (era o 1994, como afirmado, Black Lives Matter não existia), também porque pouco antes a pequena Hitler da Jamaica tinha convidado Tony Martin para falar na mesma universidade. Martin, obviamente negro, era um conhecido anti-semita e homofóbico, assim descrito pela Kristen: “O Professor Martin é um intelectual negro inteligente e bem versado que baseia a sua informação em factos incontestáveis”. Pelo que, a universidade criticou fortemente a simpática Kristen, pedindo uma retratação ou as demissões do cargo de Presidente da Black Students Association.
Quinze dias depois da carta, ainda nenhuma verdadeira retratação mas um “esclarecimento”:
“[A Teoria de Melanina] não é necessariamente algo em que acreditamos, mas algumas informações que pensamos que aqueles que procuram uma verdadeira compreensão da Curva de Bell devem ou abordar, ignorar ou refutar.
Ou seja: Kristen recusou-se a negar explicitamente as teorias que ela tinha citado.
O problema, como é evidente, não é a defesa dos direitos dos negros: numa sociedade normal nem deveria existir a questão da cor da pele, independentemente do facto desta ser preta, amarela ou branca. O problema surge quando a cor da pele é utilizada para reivindicar uma alegada superioridade, seja física ou intelectual. Indivíduos como a Kristen não lutam para que o racismo acabe mas têm a função exactamente oposta: garantem que as divisões continuem. Num País normal alguém como Kristen Clarke não dirige a Divisão de Direitos Civis, está a ser investigada por ela.
Mas aqui falamos dos Estados Unidos… e a nova era Biden – Kamala promete ser divertida.
Beller, o tolerante
Um outro testemunho acerca do clima que está a ser vivido nos Estados Unidos provém dum vídeo publicado pelo Projecto Veritas que mostra os pontos de vista de Micheal Beller, o principal conselho do principal do Public Broadcasting Service (PBS, “Serviço Público de Radiodifusão”), que reúne mais de 350 emissoras e que, segundo segundo as sondagens representa aos olhos dos cidadãos a instituição nacional mais fiável.
Há poucos dias, Beller disse que se Trump ganhasse a Casa Branca, a Esquerda teria de “ir à Casa Branca e atirar Molotov”. E este é só o começo, eis outros excertos:
Eles [os apoiantes do Trump, ndt] vão criar uma geração de pessoas intolerantes e horríveis – crianças horríveis. […]
Mesmo que Biden ganhe, vamos atrás de todos os eleitores republicanos e a Segurança Interna vai tirar os seus filhos … vamos colocá-los em campos de reeducação. […] “Campos Iluminados”, simpáticos, com personagens da Rua Sésamo nas salas e a verem a PBS o dia todo. […]
Os americanos são tão estúpidos. A maioria das pessoas é estúpida. É bom viver num lugar onde as pessoas são educadas e sabem coisas. Consegues imaginar-te a viver numa daquelas outras cidades ou vilas onde todos são apenas estúpidos? […]
O que é óptimo é que a Covid está a atingir todos os estados vermelhos [republicanos, ndt] neste momento. Isso é óptimo […] porque ou essas pessoas não vão sair e votar no Trump – conheces os estados vermelhos – ou muitas delas estão doentes e a morrer.
Beller foi despedido. O que é estranho considerada a contemporânea nomeação da Kristen: os estilos são bastante parecidos. A não ser que o despedimento seja só uma desculpa para nomeá-lo Chefe da Divisão da Protecção dos Menores.
Ipse dixit.