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Revolução Verde, a grande fake news

(Psssst! Nem tenho tempo para corrigir, espero não haja muitos erros! Corrijo mais tarde, obrigado!)

 

É de notar que o IPCC no seu quinto relatório, coerente com todos os relatórios de avaliação anteriores, não aborda explicitamente a questão das implicações materiais dos cenários de desenvolvimento climático.

Música e letras do Banco Mundial.

 

A opinião pública está acostumada a entusiasmar-se com conceitos que apelam a uma nova consciência colectiva, como “economia verde”, “salvar o planeta”, “nova ecologia”, “Green Dial“, “tecnologia para o ambiente”, uma atitude que faz parte do positivismo científico cada vez mais consolidado. Talvez o público deveria saber também quais os cenários, actuais e potenciais, que ficam escondidos por detrás desses conceitos.

A seguir, o resumo dum artigo publicado por Il Sole 24 Ore no mês de Novembro e que revela aspectos insuspeitos que fazem parte do conceito de “revolução verde”, uma palavra-passe que por sua vez parte da propaganda da Quarta Revolução, um instrumento retórico para legitimar uma nova fase de exploração sem precedentes dos recursos do planeta. Uma nova fase que será vantajosa para algumas lobbies privilegiadas, criando uma fenda geoeconómica no mercado mundial ainda maior do que a das indústrias fósseis.

A grande heresia: a Revolução Verde é uma enorme fake news?

Todos os anos o homem extrai 50 mil milhões de toneladas de materiais de construção, combustíveis fósseis, minerais e metais do solo e do subsolo. Em outras palavras: uma massa igual à de 140.000 Empire State Buildings,o arranha-céu mais conhecido do mundo. Obviamente, esta gigantesca extracção de recursos naturais provoca um impacto ambiental devastador.

Todos temos em mente as imagens de petroleiros avariados que despejam milhares de toneladas de petróleo bruto no mar. No entanto, nem todos sabem que um dos desastres ambientais mais graves das últimas décadas foi causado por uma mina de cobre (o desastre de Ok Tedi: nem existe a página Wikipedia em português…) ou que uma das principais causas dos incêndios florestais na Amazónia e na África é precisamente a actividade mineira.

A fim de aliviar a pressão antropogénica (humana) sobre o ecossistema terrestre, um grupo de cientistas, comunicadores, activistas e políticos, com a ajuda duma virgem sueca (Greta para os amigos), conseguiu impor gradualmente uma nova perspectiva de desenvolvimento a um grande segmento da opinião pública ocidental, aparentemente centrada no consumo mais racional dos recursos naturais: em vez de extrair milhares de milhões de toneladas por ano de carvão, petróleo e gás natural, deveríamos aprender a explorar a energia do sol e do vento, recursos renováveis cuja exploração não prejudica o ecossistema.

Parece bem, não aprece?
Não, está tudo errado.

Para já: painéis solares, turbinas eólicas, baterias e carros eléctricos são dispositivos tecnológicos feitos de cimento, plástico, aço, titânio, cobre, prata, cobalto, lítio e dezenas de outros minerais. Adivinhem donde é extraído isso tudo? Mas este é apenas o começo. Sigam, s.f.f.

Um artigo de Nature Geoscience publicado há alguns anos estimou que, apenas para converter um sétimo da produção mundial de energia primária (25.000 TWh) em algo “verde”, poderia ser necessário triplicar a produção de betão (de pouco mais de 10 mil milhões de toneladas por ano para quase 35), quintuplicar aquela do aço (de pouco menos de dois mil milhões de toneladas para pouco mais de 10) e multiplicar várias vezes a de vidro, alumínio e cobre. E estamos a falar em converter nem sequer 15% das necessidades energéticas do mundo em energias renováveis.

Depois há também um aspecto técnico a considerar: em média, num depósito de cobre, o mineral está presente com uma concentração de cerca de 0.6%. Isto significa que para extrair uma tonelada de metal devem ser esmagadas mais de 150 toneladas de rocha. As grandes minas de ouro da África do Sul moem 5/6.000 toneladas de rocha por dia para extrair menos de 20 toneladas de metal precioso por ano.

E o alumínio? Como é produzido? Com um processo que consome muita energia: para produzir uma tonelada de alumínio, de facto, são necessários cerca de 30.000 kwh (entre energia térmica e eléctrica). E a produção de aço é também uma actividade consumidora de energia: a produção de uma tonelada de aço requer entre 800 e 5.000 kwh.

Assim, só para produzir o aço necessário para construir painéis e turbinas eólicas suficientes para gerar 25.000 TWh por ano de energia renovável, podemos precisar de 7.000/40.000 TWh por ano de energia fóssil mais.

E não acaba aí. De cerca duma dúzia de materiais na base da “revolução verde”, as reservas conhecidas seriam suficientes para cobrir apenas alguns anos de consumo, num cenário 100% renovável. A União Europeia, por exemplo, prevê que, para cumprir os ambiciosos objectivos do Green Dial, necessitará de muita mais terras raras daquelas que são actualmente extraídas em todo o mundo.

Fonte: Comissão Europeia

É preciso salientar que estas estimativas não são vozes feitas circular pelos horríveis cientistas ao serviço das petrolíferas (a Big Oil). Ao longo dos anos, ONU, Comissão Europeia ou Banco Mundial, por exemplo, produziram extensos relatórios nos quais chegam a conclusões semelhantes: vamos precisar de muito mais recursos naturais. E, além das instituições, existem numerosos estudos que aprofundam o assunto, publicados nas revistas científicas mais conceituadas do mundo: PNAS, Science, Nature.

No entanto, apesar do vasto panorama de meios de informação que seguem de perto a “revolução verde”, curiosamente estes dados preocupantes não circulam, os estudos aprofundados sobre este aspecto são omitidos. Aliás, quem se atreve a falar do assunto é logo rotulado “amigo das petrolíferas”. Pelo que, a percepção é que aqueles que fazem divulgação científica arrogaram-se o direito de escolher o que revelar e o que não revelar. Na prática: decidem fazer política em vez de informação.

Caso contrário, é impossível explicar como seja possível atacar quase diariamente o paradigma do crescimento e, ao mesmo tempo, apoiar uma “revolução verde” que prevê duplicar (pelo menos) a extracção dos recursos naturais em poucas décadas. Ou como é possível que, embora a nossa indignação perante os desastres ambientais na Amazónia ou na Austrália, existam planos para cavar buracos com 170 km de profundidade para procurar os metais necessários para satisfazer as necessidades da indústria eólica e solar (uma perspectiva absurda, que de momento é pura ficção científica: estamos a falar de operar a temperaturas e pressões incontroláveis com a tecnologia actual).

Em última análise, é claro que por detrás daquela que chamamos de “revolução verde” fica na verdade um programa para aumentar rápida e drasticamente a extracção dos recursos naturais. Com tudo o que se segue para a saúde dos ecossistemas e também dos seres humanos: extrair biliões de toneladas de argila, ferro, bauxite ou cobre significa destruir florestas não contaminadas, poluir ainda mais o ar e a água, empurrar dezenas de milhares de espécies animais para a extinção. Um cenário muito diferente do que está a ser vendido ao público.

E nada disso é ficção ou um futuro distante envolto na névoa do “provavelmente” e “talvez”: a Comissão Europeia acaba de anunciar um programa de financiamento para a indústria mineira europeia e o preço do cobre voa (+40% de Março até hoje), impulsionado precisamente pela procura relacionada com os carros eléctricos e o Green Dial. Não é futuro, é já agora: já estamos a devastar centenas de ecossistemas em busca de lítio e cobalto para baterias ou terras raras para ímanes de turbinas eólicas.

“Eh, mas a temperatura continua a subir, o dióxido de carbono aumenta, não podemos simplesmente ignorar tudo…”

Ah, pois, o terrível dióxido de carbono. Como é que podemos combatê-lo? Com os carros eléctricos? Mas por favor…

Ok, admitimos que o principal problema do clima seja hoje o dióxido de carbono. Já ouviram falar da DAC? DAC: Captura Directa da Atmosfera. Não ouviram, pois, não? Claro que não porque há o filtro na divulgação e a opinião pública foi convencida de que não existem outras formas para “salvar o planeta” a não ser deitar para o lixo o seu carro a gasóleo (que polui menos) e substitui-lo com um eléctrico (que polui mais, além de ser bem mais caro).

A Captura Directa da Atmosfera (DAC) é uma tecnologia aparentemente pioneira, mas na realidade muito simples, que permite a separação do dióxido de carbono do ar. Nada de ficção científica, existem já agora dezenas de sistemas DAC a funcionar perfeitamente em todo o mundo.
Geralmente esta tecnologia é rotulada como muito cara: os resultados certificados a nível científico atestam um custo de 94 Dólares para cada tonelada de dióxido de carbono capturado na atmosfera. Objectivamente falando, trata-se de um custo significativo, dado que emitimos quase 37 mil milhões de toneladas por ano. Mas também é verdade o que vale no caso das outras soluções green: mais produção significa abatimento dos custos. Sem esquecer que a captura directa compete com as energias renováveis sem beneficiar dos incentivos públicos, enquanto as energias renováveis são generosamente subsidiadas.

Bem, o curioso é que as estimativas actuais sobre os custos da “revolução verde” são de cerca de 5.000/6.000 mil milhões por ano, enquanto a captura de dióxido de carbono directamente da atmosfera a 94 Dólares por tonelada custaria “apenas” 3.000 mil milhões por ano! Então torna-se difícil compreender como se possa definir a DAC como “cara”, ao mesmo tempo que é apoiada uma solução que custa duas vezes mais. A conceituada Nature reconhece que a captura directa tem uma vantagem fundamental sobre todas as outras soluções: minimiza a incerteza, ataca o cerne do problema, reduz efectivamente a concentração de CO2. E nem precisa de terras raras….

Ainda mais curioso é o caso da reflorestação e da agricultura regenerativa (não confundir com a agricultura biológica ou biodinâmica: estamos a falar de agricultura intensiva com rendimentos mais elevados do que a agricultura química tradicional), duas opções perfeitamente eco-sustentáveis que permitiriam enfrentar rapidamente o problema das alterações climáticas com um gasto limitado de recursos e efeitos socioeconómicos bem atractivos. No entanto, iniciativas nesta direcção estão constantemente sob o fogo de cientistas e activistas verdes enquanto são ignoradas pelos meios de informação. A acusação? A adopção destas soluções poderia atrasar a transição para as energias renováveis.

Mas qual o verdadeiro objectivo deste esforço gigantesco? Proteger o planeta da incerteza climática ou ganhar dinheiro com a lobby das energias renováveis? Acho que a resposta é bastante simples.

Elon Musk é um brilhante empresário, um génio do nosso tempo? Querido Leitor, com prendas de 2 triliões de Dólares por ano, generosamente regados com fundos públicos e retirados dos cuidados de saúde ou da educação, também eu posso tornar-me um génio.

 

Ipse dixit.