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Iconoclastia e idiotice

A guerra contra os mortos sempre foi uma das práticas preferidas dos progressistas. Hoje, na sequência dos protestos que eclodiram após a morte de George Floyd, assistimos a um novo capítulo na ofensiva lançada contra aqueles que no passado, por uma razão ou outra, estavam em desacordo com a narrativa politicamente correcta.

Há poucos dias, os apoiantes do movimento Black Lives Matter elaboraram uma lista de 60 estátuas a serem demolidas no Reino Unido, algumas delas dedicadas aos maiores protagonistas da história inglesa, como Oliver Cromwell e Winston Churchill, alvos da fúria iconoclasta dos anti-racistas.

Entretanto, a emissora de streaming HBO anuncia ter removido do catalogo online o filme E Tudo o Vento Levou ( … E o Vento Levou no Brasil) e outras iniciativas “anti-racistas” estão em marcha.

Vamos esclarecer logo: estamos perante um evidente caso de idiotice na fase mais aguda, uma espécie de doença muito mais perigosa do que a Covid-19, sobretudo porque não existe tratamento.

A iconoclastia que une os activistas da psicopolítica progressista diz muito sobre a sua forma mental: são aqueles que gostariam de apagar o passado, no qual só vêem um monte de barbaridade, ignorância e superstição. Estes “revolucionários” do terceiro milénio, que atiram-se destemidos contra estátuas e filmes, abraçaram plenamente uma ideologia que tem entre os seus principais objectivos a erradicação das Nações e o apagamento de todas as identidades. Estão literalmente obcecados com o passado.

Estes “resistentes” que desafiam sem medo mármore e celulóide nem entendem que sem o passado e sem os seus protagonistas, para o bem e para o mal, hoje não haveria os sacerdotes do politicamente correcto, não haveria os seus rituais, não haveria as palavras de ordem. Sem o passado não haveria… nada.

Da mesma forma, aqueles que sempre se opuseram à religião cristã hoje em dia são obrigados a limpar o pó de alguns dos mais importantes conceitos cristãos para continuarem com as suas crenças “revolucionárias”: desde o sentimento de culpa, neste caso a “culpa branca” entendida como culpa do homem ocidental, até ao arrependimento que este tem de mostrar por causa do seu passado colonialista. Tudo isto é um enxame de bons sentimentos que são tomados directamente da tradição cristã, despojados do seu significado espiritual e adaptados aos dogmas do pensamento único.

O Império do Bem esconde-se por detrás deste moralismo doentio, por detrás dos seus slogans açucarados e das suas histórias lacrimosas, que se desenrolam em série para continuar sem perturbações o seu trabalho de destruição das identidades e das diferenças, sejam étnicas, culturais ou sexuais, com o objectivo de transformar o mundo num deserto indiferenciado, onde em toda a parte é possível encontrar o mesmo.

As vanguardas deste poder que quer nivelar tudo, mesmo o passado, são no fundo os puritanos do nosso tempo, sempre prontos com a intenção de moralizar os costumes e denunciar aqueles que não se conformam com a “nova moralidade”.

Entre outras coisas, estes “revolucionários”, cujo imaginário é curiosamente idêntico ao dos anúncios da Benetton, não se apercebem que se “purificássemos” as obras literárias, artísticas ou filosóficas do passado de tudo o que não se enquadra nos cânones da Inquisição progressista, não haveria mais nada para ler ou admirar.

E depois de limpar o passado, o que podemos pôr no lugar dele? Em que bases pretendem estes apóstolos construir as magníficas fortunas progressistas? Quais são os “valores” em que acreditam os iconoclastas de hoje? Orgulho Gay? Clínicas de mudança de sexo para crianças? Aborto no nono mês de gravidez? Devemos abdicar de Platão, Dante, Meister Eckhart, Michelangelo, Bach, Goethe, Dostoevsky, Jünger, tudo em troca de quê? Para ter um mundo melhor?

Um mundo melhor só pode ser construído não apagando a História mas estudando o passado, aprendendo com os erros já cometidos e trabalhando para evita-los no futuro. O mundo não se torna um lugar melhor ao consagrar em Houston o dia 9 de Junho como dia dum actor porno bêbedo, com o carro cheio de cocaína, morto por um colega de trabalho.

Que fique claro: não apenas recuso-me apagar o passado como não tenho o mínimo sentimento de culpa (e ainda menos estou arrependido) por causa daquilo que fizeram os meus antepassados. A razão? Simples: eu tenho que sentir culpa, e eventualmente arrepender-me, apenas por aquilo que eu faço, não tenho que carregar as culpas de outros. Quem identifica a cor da minha pele (que é branca) com a cor duma culpa não passa dum idiota racista.

 

Ipse dixit.