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ONU: eis as provas contra Assad

No meio da emergência provocada pela “pandemia” do Coronavírus, eis que surge o Primeiro Relatório da Equipa de Investigação e Identificação da OPCW (Organização para a Proibição de Armas Químicas) uma agência da ONU, que acusa o Governo da Síria de ter utilizado gases tóxicos em três atentados contra áreas ocupadas pelos “rebeldes” no ano de 2017.

Dado o pânico gerado pelo Coronavirus, ninguém nestes dias irá prestar atenção ao documento. Mas nos meses e nos anos futuros teremos que ler e ouvir afirmações do tipo “…como demonstrado pelo relatório da OPCW…”, assumindo o documento como uma das provas mais fortes contra Damasco. Afinal, não foi a imparcial ONU a redigi-lo? Então vamos ver esta prova-rainha que acusa sem meios termos o governo da Síria.

O relatório (cuja versão em inglês pode ser encontrada em formado PDF neste link) tem 82 páginas, nas quais as provas são constituídas pelo seguinte material:

Assumindo como acto de fé que as sete fotografias tenham sido tiradas em território sírio, é importante realçar como os fragmentos não foram encontrados pelos inspectores da OPCW. Ver, por exemplo, a seguinte declaração na página 36 do Relatório:

Em 19 de Fevereiro de 2018, o FFM recebeu fragmentos metálicos recuperados da cratera como restos de partes de munições relacionadas com o incidente de 24 de Março de 2017.

Quem entregou aqueles fragmentos um ano depois do incidente? Não sabemos.

Fotografias do Google Earth? Realmente? Não existem fotografias aéreas ou de satélite um pouco mais significativas?

Para completar: os anexos “Análises Químicas (Sarin)” e “Parágrafos Reajustados” são completamente censurados.

Nada mal como começo. Mas vamos desviar o olhar desta triste “documentação” para tratar dos três casos em análise, resumidos na página 2 do Relatório:

  • Por volta das 6h00 da manhã de 24 de Março de 2017, uma aeronave militar Su-22 da 50ª Brigada da 22ª Divisão Aérea da Força Aérea Árabe Síria, com partida da base aérea de Shayrat, lançou uma bomba aérea M4000 contendo Sarin no sul de Ltamenah, afectando pelo menos 16 pessoas.
  • Por volta das 15h00 do dia 25 de Março de 2017, um helicóptero da Força Aérea Árabe Síria, partindo da Base Aérea de Hama, largou um cilindro no hospital de Ltamenah; o cilindro partiu o telhado do hospital, libertando cloro que afectava pelo menos 30 pessoas.
  • Por volta das 6h00 da manhã de 30 de Março de 2017, uma aeronave militar Su-22 da 50ª Brigada da 22ª Divisão Aérea da Força Aérea Árabe Síria, com partida da base aérea de Shayrat, lançou uma bomba aérea M4000 contendo Sarin no sul de Ltamenah, afectando pelo menos 60 pessoas.

Obviamente, considerando as provas apresentadas acima, estas declarações também devem ser assumidas com um acto de fé, embora o Relatório (ponto 5, p. 2) assegure que a Equipa de Investigação (TI, Investigation Team) chegou às suas conclusões através de: entrevistas conduzidas directamente pela IT; informações obtidas de “Estados e outras entidades” não especificadas; pareceres de peritos e instituições forenses; análise de munições e outros materiais relevantes. Toda documentação, assegura o Relatório, “avaliada de forma holística e examinando cuidadosamente o seu valor probatório através de uma metodologia amplamente partilhada, de acordo com as melhores práticas dos organismos e comissões internacionais de investigação”.

É pena, contudo, que, como se afirma no ponto 7, página 3, esta equipa de investigação de alto nível não tenha feito qualquer inspecção nas áreas alvos dos ataques acima mencionados:

Os desafios enfrentados pelo IT incluíram a sua incapacidade de aceder ao site dos incidentes, bem como a pessoas e informações localizadas na República Árabe da Síria.

Não poucos jornalistas conseguiram visitar os locais após acordos com a Turquia ou com os terroristas do Isis. A equipa da ONU não consegue: o máximo que pode fornecer são imagens do Google Earth.

Mas então quem apresentou estas “provas”, dado que não foram recolhidas pela IT? Com quais testemunhas falou a IT? Quais foram as bases deste Relatório? Porque, tendo como base as informações contidas no documento, a agência OPCW da ONU não visitou os locais em análise, recebeu alguns fragmentos de armas um ano depois do acidente por parte de pessoas ou entidades não especificadas, censura os únicos dados que poderiam ter sido minimamente úteis e limita-se a incluir as reconstruções dos ataques que foram fornecidas pelo Ocidente desde a primeira hora. Ah, e como bónus temos Google Earth, holisticamente.

Nos círculos amarelos duas “provas” contidas no Relatório: fragmentos de 04SDS. Como a imagem demonstra além de qualquer possível dúvida, foram fotografados em pleno território sírio e só podem ser a óbvia consequência dum ataque ordenado por Bashar al-Assad.

Lembrem-se: “…como demonstrado pelo relatório da OPCW…”.

 

Nota: Lembramos que em 4 de Janeiro de 2016 a mesma ONU assegurava a “completa destruição de todas as armas químicas declaradas por parte da República Árabe da Síria”.

 

Ipse dixit.