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…e ainda bem que existe a União Europeia!

Após uma reunião do Eurogrupo muito bem sucedido entre os Chefes de Governo e de Estado dos Países da União Europeia, foi alcançado um acordo. O acordo é que não há acordo e que os líderes dos Países europeus irão ter mais 14 dias para encontrar soluções acerca da resposta economicamente necessária para a crise provocada pelo Coronavírus.

Catorze dias? Mas sim, há tempo, há muito tempo. Afinal não estamos no meio duma pandemia? Então qual a pressa? E depois não admira: não são políticos, a maior parte não passa de burocratas, finas mentes pensantes cuja especialidade é fazer o que lhe for ordenado. Não são habituados a tomar decisões, há quem as tome por eles.

Depois há um sério problema: após anos de dogma chamado “austeridade”, agora os cérebrinhos dos burocratas não conseguem processar os eventos. As economias precisam de ajudas, investimentos, precisarão de todos os esforços para sair da crise? isso significa “gastar”, palavra já por si capaz de corta-circuitar os poucos neurónios daqueles coitados. Têm que aprender a substituir “cortar” com “gastar”: não é simples, duma demora o seu tempo. Pelo menos 14 dias.

Por fim, temos as obtusas posições de quem deseja defender o seu quintalzinho com anexo poder de influência, sobretudo quando construído à custa dos esforços dos outros e sem respeitar as regras comunitárias. Tipo a Alemanha.

Não admira, portanto, que a Itália tenha rejeitado qualquer proposta de acordo, um facto sem precedentes. A Itália é um dos Países que mais apostou no projecto europeu e agora, numa altura dramática, está a fazer o que a Grã-Bretanha geralmente fazia: ressentiu-se pela falta de sérios apoios. Mas será mesmo assim? Será que Bruxelas não ajuda?

A verdade é que Bruxelas ajuda: 20 milhões de Euros ao Irão, 450 milhões aos Marrocos, 250 milhões à Tunísia. E Italia, Grécia, Espanha? Calma, rapazes, calma: a União não é um poço sem fundo, fiquem na fila, cedo ou tarde também haverá algo para vocês. Talvez.

Ou talvez não. Por exemplo, pegamos no caso da Italia: olha, olha, olha… e não é que este simpático País tem uma multa? Então vamos fazer assim: para já Roma terá que pagar 80.000 Euros por dia, 2.400.000 Euros por mês, 28 milhões por ano de multa sobre a multa. De quanto era a multa original? 8 milhões? Pois, as ajudas que o governo italiano tinha enviado para as empresas de turismo na ilha da Sardenha. Pena que a Alta Corte de Justiça Europeia tenha declarado ilegais tais ajudas. Pena? Nem por isso: 28 – 8 = 20. O que significa que após um ano o empréstimo ao Irão estará pago.

Será por isso que alguns Presidentes de Câmaras na Italia começaram a retirar as bandeiras da União? Não liguem, não passa de gente resmungona. Porque admitimos: estes Países do sul são uma vergonha. E bem fez o Ministro das Finanças holandês a pedir uma investigação: por qual razão estes Países não pouparam quando tinham as condições? Pergunta: mas quanto tinham condições? Resposta: não interessa, deveriam ter poupado, agora é demasiado fácil chorar por causa dum estúpido Coronavirus.

E agora circula uma carta no parlamento europeu:

Mitteleurope e Escandinávia, lideradas pela Alemanha;
Países latinos, mediterrânicos e anglo-saxónicos, liderados pela França.

Isso é: politicamente o Tratado de Aachen (de 2019, acordo de cooperação entre França e Alemanha) está em pedaços. Moral: estamos no meio duma curva apertada na história da Europa. E ao volante temos uns cegos. Tranquilos: apertem os cintos e lembrem que nem todo mal vem prejudicar.

 

Ipse dixit.