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Meus Deus: o Fim!!!

Já que o assunto foi introduzido, mais vale começar: não vou continuar com Informação Incorrecta. Além das razões publicadas no artigo anterior, (que são deveras importantes porque acho que em parte o blog falhou os seus objectivos) quero citar outras.

Como já tive ocasião de afirmar, no meu entender este blog cumpriu a sua função: quem tiver paciência poderá encontrar no arquivo os instrumentos necessários para formar-se uma ideia do sistema no qual vivemos. Atenção: não encontrará “a verdade”, porque eu não sou detentor dela, mas os instrumentos com os quais cada um poderá continuar a pesquisa e construir a sua própria ideia do presente. Este blog começou com o falar da Economia, depois dedicou muito espaço à História porque pessoalmente estou convencido de que as chaves para perceber algo estejam aí. Obviamente posso estar errado, mas até hoje esta continua ser a minha ideia.

Leitores desesperados na Coreia do Norte

Outra razão que determina o fecho do blog é muito mais simples: desde a abertura de Informação Incorrecta os tempos mudaram. Quando comecei não tinha cabelos brancos, agora apareceram alguns. Não são muitos, mas então aí estão para lembrar que tudo passa. O mundo da informação foi devastado pelo tsunami da “informação” do Facebook e do Twitter, dois tumores que se enquadram perfeitamente no ecossistema soporífero de Google e que tem como objectivo atropelar o cidadão com uma mole de dados, pensamentos e imagens para abalar qualquer nossa certeza.

Hoje, qualquer pessoa a partir do seu computador pode encher-se com a pesquisa de Google e, em seguida, atirar para a web (dos medias sociais até jornais online) tudo o seu “conhecimento”, reivindicando, com habilidade, a sua competência e ganhando até dinheiro. O resultado é uma hiperinflação estilo Weimar de personagens grotescas, comentaristas (mas até jornalistas) que disparam pseudo-factos a cada hora e 24 horas por dia, sete dias por semana, totalmente fora de controle.

Tragicamente, eles têm massas crescentes de audiências que seguem cada pseudo-facto e proclamam “aqui está a verdade!”. É precisamente este público que exige que as notícias e as reflexões se tornem entretenimento instantâneo a apenas um clique de distância no smartphones.

Fãs desesperadas na Coreia do Sul

É o encontro entre procura e oferta: os factos surgem mais depressa porque o público tem mais pressa e isso inicia uma espiral cada vez mais rápida na qual há cada vez menos tempo para verificar, controlar, reflectir. Que porra é essa frenesim? O que é esta pressa toda? Isso nunca será informação. E, de facto, não é, pois trata-se duma deformação cerebral muito bem conhecida e que tem um nome também: Short term, dopamine driven, feedback loop (literalmente: “Curto prazo, dopamina acionada, realimentação em círculo”).

É uma forma de toxicodependência estudada nos Laboratórios do Facebook desde 2004 para diante. O Short term, dopamine driven, feedback loop vive sobre a gratificação imediata (dopamina) das respostas (feedback como comentários ou Likes) que se torna um círculo vícioso como nas drogas (loops).

Para quem, como eu, escolheu um sector de nicho (uma informação alternativa baseada em pesquisas fundamentadas), este até poderia não ser um grande problema. Sempre longe dos grandes números de seguidores (segundo o lema “menos quantidade, mais qualidade”), apesar das dificuldades para seguir uma realidade que evolve com uma velocidade absurda e no meio da qual é muito complicado (para quem escreve mas também para o Leitor) orientar-se, seria possível continuar desta forma até o infinito ou quase, ignorando o frenesim. Mas aconteceu algo.

Leitores desesperados na Coreia do Meio

Desde muito cedo comecei a criticar aquela parte da informação alternativa que apostava nas notícias “bombásticas” e superficiais (quando não absurdas mesmo) em detrimento da seriedade. Aconteceu que não apenas aquela parte ganhou (em termos de seguidores e, em alguns casos, até em termos monetários), como o mesmo estilo foi adoptado cada vez mais qual modus operandi pelos órgãos de comunicação oficiais. Hoje já não há “acidentes”, há “catástrofes”, “tragédias” e “cenários dantescos” (em Portugal há os “Alerta CM”), tudo exasperado para capturar a atenção dos Leitores ou espectadores. Dúvida: onde encontrarão as palavras no dia em que algo de verdadeiramente “catastróico” irá acontecer?

Isso não é comigo? Errado: é. Porque eu, como autor do blog, faço parte deste mundo da informação alternativa, não posso chamar-me fora, seria um hipócrita. Não posso dizer “eu sou melhor”: não tenho o direito de fazer isso porque o meu blog, por pequeno que seja, alimenta esta loucura, faz parte do tsunami de “informação” que atropela tudo e todos. Mas eu estou farto desta fantochada.

Recentemente, uma pessoa disse-me que se calhar o meu “caminho” é mesmo este: ajudar as pessoas a despertar. Problema: eu não sou Neo, não foi retirado da Matrix, não visitei Zion (sem contar que este nome já irrita-me bastante). Sei que há uma espécie de Matrix na qual todos vivemos como escravos, mas não conheço a verdade, só suspeitas. O máximo que posso fazer é mesmo isso: dizer “olhem pessoal que somos escravos”. E foi isso que o blog fez. Pelo que: o blog falhou parte dos seus objectivos mas não todos. Missão parcialmente cumprida, é já algo e fico feliz com isso.

Todavia há algo que não posso ignorar: mesmo não sendo heróico como Neo, gosto de pesquisar, gosto de (tentar) entender as coisas, gosto de partilhar. Acompanhados por poucos Leitores, sem ganhar um tostão com isso? Pouco importa, acho ser este um dever não apenas meu mas de cada um de nós: dar um sentido à nossa passagem por aqui, perceber qual o nosso verdadeiro fim, tentar fazer as coisas que achamos melhores. Portanto…

Portanto o blog Informação Incorrecta acaba aqui (com o “Testamento” a seguir, como anunciado), depois férias durante as quais tentarei pensar em algo novo. Não perguntem o quê porque ainda não tenho ideia nenhuma. Mas prometo manter informados os Leitores eventualmente interessados, através destas mesmas páginas. Aliás, se alguém tiver uma ideia, seria excelente uma sugestão. Qualquer sugestão será muito bem vinda, por mais parva que possa parecer.

Depois tenho que revelar uma coisa: tudo acaba. What starts, ends.

Agradecimentos, saudações e lágrimas compulsivas só depois do Testamento (publicado a partir de amanhã).

 

Ipse dixit!

Imagens: Leitores da Coreia (onde Informação Incorrecta foi sempre um dos blogues mais lidos) desesperados perante a notícia do fecho.