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As crianças-soldados na guerra do Yemen

Adolescentes de 14 a 15 anos recrutados pelas forças pró-sauditas para lutar contra os rebeldes xiitas. Os mediadores prometem às famílias que os filhos vão trabalhar como cozinheiros ou funcionários, com salários de até 800 Dólares por mês: uma enormidade no Yemen. Em vez disso, os rapazes são atirados para as linhas da frente, muitas vezes para combater contra rapazes da mesma idade, desta vez recrutados pelos xiitas. Os alistamentos forçados são proibidos pelas convenções internacionais, mas foram documentados pelo canal de televisão Al-Jazeera, do Qatar.

Testemunho recolhidos no centro do Yemen falam de meninos que deixaram as suas famílias com a promessa de um salário regular para um papel “não-combatente”.

Eles disseram que iríamos trabalhar na cozinha e ganhar 3.000 riais sauditas. Acreditamos e entramos no autocarro.

Mas os meninos foram enviados para o território saudita, onde estão localizados os campos de treino militar.

A notícia de Al-Jazeera nem é uma novidade: um relatório da ONU denunciou ambas as partes no conflito, os rebeldes xiitas Houthi, e a coaligação saudita-ocidental pelo alistamento de meninos. Tanto o Yemen quanto a Arábia Saudita assinaram a convenção internacional que proíbe o envolvimento de crianças em conflitos, mas as regras naquele massacre não valem. Em 2018, Riad foi acusada de recrutar crianças na região sudanesa de Darfur, outra área devastada pela guerra civil, para enviá-las para a frente iemenita. As autoridades iemenitas e sauditas sempre rejeitaram as acusações, mas as duas partes não são muito confiáveis ​​e a realidade jornalística é muito diferente.

Guerra sem fim

O que distingue a guerra no Yemen é o absoluto empate militar, porque nenhum dos contendentes consegue impor-se no campo. Os rebeldes xiitas foram forçados a abandonar Mukalla e Aden e agora estão sitiados em Hodeidah, principal porto no Mar Vermelho; mas mantêm no norte o constante controle das províncias tribais de Saada e de Amran, que circundam a capital Sanaa. E é a partir desses territórios que lançam foguetes contra a Arábia Saudita: ataques com mísseis e drones que têm objectivos simbólicos como infraestruturas petrolíferas e residências reais. Uma nova versão, desta vez aérea, das táticas de guerrilha.

O confronto militar parece destinado a durar e promete agravar uma crise humanitária que já tem mais de 10 mil vítimas, 50 mil feridos, 2 milhões de refugiados e 22 milhões de pessoas (metade das quais são crianças) que precisam de ajuda humanitária, incluindo 8 milhões consideradas como muito perto da fome.

Estamos a falar duma guerra que encontra pouco espaço nos media ocidentais: não é simples justificar a agressão dos nossos aliados árabes contra o Yemen. Porque não há justificação. Então melhor ignorar uma guerra que começou já há quatro anos, que fez entre 50 mil e 80 mil mortos (sem contar com as vítimas de doenças, epidemias e fome) e que representa até agora uma clamorosa derrota das forças aliadas. Para entende-lo, consideramos quanto segue:

Na base, a luta dos sunitas wahabistas da Arábia Saudita contra os xiitas. Em causa: o domínio do mundo muçulmanos.

 

Ipse dixit.