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Nibiru: o fim do mundo está chegando!

O artigo de maior sucesso na história do Informação Incorrecta é sem dúvida Porque Nibiru não existe (que actualizei hoje). O que, dito entre nós, é duma tristeza infinita. Por aqui fala-se de economia, de guerra, de como uma oligarquia (a elite) está a comer o nosso nariz e nós nem reparamos nisso: realidade. Mas o que mais desperta interesse é uma história absurda, um mito, sem uma só evidência, uma prova, um indício, nada de nada: um nada nascido do cérebro dum economista hebreu que um dia inventou-se arqueólogo, Zecharia Sitchin.

Como se isso não fosse suficiente, eis que as últimas notícias deram um novo fôlego aos apoiantes de Nibiru: pesquisadores (da Nasa e não) afirmam que é provável a existência dum nono planeta no nosso Sistema Solar. E nem pode ser descartada a possibilidade que exista um décimo planeta. Uma festa para quem acredita em Nibiru: se existe um nono planeta, este só pode ser Nibiru. E se não for o nono, então deve ser o décimo. É matemático.

Mais preocupante ainda: começo a ver “padres” das inúmeras igrejas evangélicas que tratam do tema, com resultados atrozes.

Desde já: Nibiru não é o nono, nem o décimo planeta. E se houvesse um décimo primeiro ou um décimo segundo, um décimo terceiro, etc. nenhum deste seria Nibiru. Nibiru não pode existir por uma questão de leis da Natureza. Vamos ver as razões, além daquelas já explicadas no velho artigo.

Ricochetes espaciais

Ao ver uma representação gráfica do Sistema Solar podemos observar o Sol e, em volta, todos os planetas nas respectivas órbitas. Como nesta imagem:

Simples, não é? Esta imagem é muito útil para ter uma ideia do Sistema Solar mas está errada. Em primeiro lugar, o Sol é infinitamente maior. Mais ou menos assim:

Depois, sempre na primeira imagem, os planetas estão representados todos do mesmo lado (uma conjunção que se verifica raramente), no mesmo plano (há diferenças neste aspecto, embora de poucos graus) e a distancias extremamente reduzidas. Mas o maior “erro” que interessa agora é o seguinte: esta imagem representa apenas os planetas, não as influências que estes têm no espaço em volta.

O nosso Sistema é algo complexo, no qual as posições e as órbitas dos objectos são determinadas pela maior de todas as forças, que é a força de gravidade. Apesar de termos ainda dificuldades em descrever ao pormenor a gravidade, ela existe e se o Leitor tiver dúvidas pode fazer esta experiência: abra a janela e deixe cair o seu smartphone. Se a gravidade não existir, então fique descansado porque nada acontecerá ao seu smartphone: simplesmente flutuará no ar. Se a gravidade existir… bom, chegou altura de comprar um smartphone novo, a não ser que more ao nível do chão, e de admitir que se calhar há algo chamado “gravidade” (os apoiantes da Terra Plana negam que exista tal coisa: os objectos caem “porque sim”).

O Sol é o corpo que mais massa tem no Sistema Solar e que, portanto, actua com a maior força de gravidade (é por isso que todos os planetas orbitam em volta dele, não é por uma questão de simpatia), mas os outros planetas também actuam com o mesmo tipo de força, só mais fraca porque a massa deles é inferior (maior massa = maior força de gravidade).

Para ter uma ideia do que estamos a falar, pensamos o seguinte: Marte dista do Sol 227.900.000 km, o que significa que, ao partir da Terra, são precisos (nas condições optimais) 55 dias de viagem para chegar ao planeta vermelho; Júpiter dista do Sol 778.500.000 km e o tempo necessário para alcança-lo é de um ano e dois meses. São distância enormes. Entre Marte e Júpiter existe a Cintura de Asteróides, mais ou menos na metade do percurso entre os dois planetas: é um lugar formado por vários milhões de pedaços de rochas que vagueiam sem destino.

Esta Cintura, na verdade, deveria ter dado origem a um planeta, mas a força gravitacional de Júpiter impediu que estas rochas conseguissem reunir-se para formar um novo corpo: apesar da enorme distância entre Júpiter e a Cintura de Asteróides, o planeta gigante consegue influenciar pedaços de rochas afastados milhões de quilómetros. Podemos assim imaginar qual a importância e o alcance da gravidade.

Todo o Sistema Solar é um jogo de encaixe onde as forças gravitacionais dos vários planetas encontraram um equilíbrio dinâmico. É ao estudar as influências gravitacionais que foi intuída a possível existência do nono e do décimo planeta.

Agora, imaginemos que de repente apareça um novo planeta, o tal Nibiru.

Em primeiro lugar, este seria visível anos antes da sua chegada porque o Sistema Solar é imensamente grande e cobrir a distância entre Neptuno (o planeta mais externo do Sistema) e a Terra necessita de oito anos com uma sonda que viaje a 60.000 km/h ou mais de quatro anos admitindo que Nibiru viaje com a mesma velocidade do planeta mais rápido (Mercúrio: 48 km ao segundo). Portanto: todas as imagens que circulam na internet e que mostram Nibiru que de repente aparece no céu grande como a Lua são eméritos disparates.

Mas a coisa mais importante é que um objecto como este provocaria o caos no Sistema muito antes de chegar perto do nosso planeta. Nibiru arrastaria cometas e asteróides consigo por causa da sua força de gravidade; expulsaria os satélites das suas órbitas, chegaria a influenciar os planetas menores como Plutão. Na sua corrida em direcção ao Sol, Nibiru intersectaria a órbita da Terra e esta seria atingida por uma imensa chuva de detritos cósmicos. Os Annunaki procurariam o ouro no nosso planeta? Calma, antes teriam que esperar um bom bocado: deveriam esperar que a chuva de detritos parasse, depois espreitar para ver em que condições teria ficado o nosso planeta porque é muito provável que pouco ou nada sobreviveria.

Não dá imaginar a chegada dum planeta no Sistema Solar como se nada fosse: seria desencadeado um imenso ricochete espacial com consequências que não é possível prever.

Ricochete que já aconteceu uma vez: os planetas externos (em particular Úrano e Neptuno) ocupavam outras órbitas nos primeiríssimo tempos do Sistema Solar: depois, por causas desconhecidas, foram “expulsos” para as órbitas actuais. Não sabemos como e porque isso aconteceu, mas de certeza deve ter sido um caos inimaginável. Depois não voltou a acontecer (felizmente), porque as forças gravitacionais encontraram o tal equilíbrio. E, a partir daí, nada mais perturbou este equilíbrio: esta é a melhor prova de que Nibiru não existe.

Muito importante: esta explicação não precisa de teorias vanguardistas, tudo é perfeitamente racional e compreensível se lido nos termos da Lei da Gravitação Universal apresentada por Isaac Newton já em 1700. Nem é preciso citar Einstein.

Voltando ao começo: se existir (o que é bem provável) o nono planeta, este fica descansado na sua órbita e nem lhe passa pela cabeça de vir espreitar o nosso bairro aqui perto do Sol. Procurar sarilhos para quê? Mesmo discurso no caso do décimo planeta, do décimo primeiro e assim por diante: não há nenhum indício que isso tenha acontecido no passado e não irá acontecer no futuro.

Nibiru como estrela?

Discurso diferente é aquele relativo a eventual presença duma companheira obscura do Sol, uma estrela anã que periodicamente poderia aproximar-se e influenciar alguns objectos nas órbitas mais exteriores. A grande maioria dos sistemas é formada por estrelas binárias (com duas estrelas) e nesta óptica o Sistema Solar, que só tem o Sol, é uma excepção. Até agora nada foi encontrado, mas não é uma pesquisa simples e a órbita anómala do planeta anão Eris (muito afastado do plano da elíptica, o plano onde podemos encontrar quase todos os outros corpos do Sistema), por exemplo, poderia ser um indício. Algures, lá fora, pode existir uma companheira do Sol.

De facto, alguns acreditam que Nibiru não seja um planeta mas uma estrela com tanto de seu sistema planetário e põem em relação as periódicas extinções em massa acontecidas na Terra com a passagem da estrela Nibiru com relativos planetas. Obviamente tudo quanto foi dito a propósito do caos gravitacional provocado pela passagem dum planeta seria amplificado no caso dum estrela com toda a tralha ao reboque que entrasse no nosso Sistema Solar. Mas a questão é que as extinções em massa (que, repetimos, têm efectivamente acontecidos ao longo da história do nosso planeta) não têm uma clara periodicidade e isso choca com a ideia duma estrela (ou até dum só planeta) que de vez em quando entra no nosso sistema.

Estrela o planeta, de qualquer forma deveria mover-se numa órbita e este deveria prever passagens periódicas: caso contrário não seria uma órbita e Nibiru vaguearia pelo espaço infinito. Eis um diagrama que reporta as principais extinções do nosso planeta:

As principais extinções, chamadas Big Five (“Grandes Cinco”) são a nº 2, 3, 4, 5 e 6, intervaladas uma das outras respectivamente 69, 124, 71 e 115 milhões de anos. Moral da história: não há nenhuma periodicidade. E isso significa que não foram causadas por um objecto (estrela ou planeta) que percorre uma órbita que o leva a passar perto da Terra com regularidade. Se houvesse uma periodicidade esta seria um bom indício de algo “de fora” que provoca as extinções: sem periodicidade pode ainda ser algo “de fora”, mas este algo não tem nenhuma órbita, então trata-se de eventos ocasionais, não interligados entre eles.

Última nota acerca das extinções em massa. As extinções não foram todas iguais: a Extinção do Denoviano não foi um evento improviso mas ocorreu ao longo de 3 milhões de anos. E há dúvidas de que também a Extinção Permiana tenha sido algo parecido. Em comum as extinções têm só uma coisa: ainda não sabemos ao certo quais foram as causas. Única excepção é a Extinção K-Pg (Cretáceo-Paleógeno) que provavelmente foi devida à queda dum objecto de grande dimensões: “provavelmente” porque na realidade existem outras 10 teorias alternativas…

Portanto: podemos esquecer também a ideia duma estrela de nome Nibiru que de vez em quando entre no nosso sistema solar. Mas há uma remota possibilidade: afinal algo como Nibiru-estrela poderia existir. Claro, seria algo muito diferente de quanto esperado pelos defensores dos Annunaki: nada de planeta que chega perto da Terra, nada de estrela que entra no nosso Sistema com os seus planetas. Nibiru poderia ser a companheira do Sol, possivelmente uma estrela anã que periodicamente fica mais perto da nossa estrela. O que aconteceria neste caso?

Resposta: provavelmente nada. Os eventos mais graves sofridos pelo nosso planeta foram sem dúvidas as extinções em massa: mas estas não podem estar relacionadas com uma eventual companheira do Sol porque falta por completo uma qualquer periodicidade. E se o Sol tiver uma companheira, as suas visitas são periódicas. Mas falar de “visitas” é incorrecto: se existir uma companheira do Sol, esta terá encontrado o seu equilíbrio gravitacional com o Sol (como acontece com todos os sistemas binários), pelo que nunca “entra” no nosso Sistema Solar. No máximo pode aproximar-se e influenciar os corpos mais externos (como Eris, por exemplo).

Podemos dormir de forma descansada: Nibiru não existe. E mesmo que exista, sob forma de estrela anã companheira do Sol, não vai criar problemas. Se esperam para o fim do mundo e procuram um culpado, melhor olhar para aquela raça de seres que construiu tantas bombas atómicas suficientes para aniquilar qualquer forma de vida no nosso planeta. E nem são alienígenas…

 

Ipse dixit.

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