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A melhor cerveja

A melhor cerveja? Bulldog Strong Ale de pressão, cerveja escocesa produzida pela Scottish & Newcastle’s de Edimburgo. Cor âmbar vermelho, 6.3% graus, aroma intenso de malte e lúpulo, com espuma cremosa. Uma delícia, muito difícil de encontrar. Aliás, impossível agora, pois desapareceu por causa das lógicas de mercado: para cortar os custos de produção, em 2004 fecharam os históricos estabelecimentos de Fountain Brewery em Edimburgo e de Tyne Brewery em Newcastle. Em 2008 o golpe da misericórdia: a empresa é vendida ao grupo Heineken e Carlsberg, que até apaga o nome. A Bulldog Strong Ale já era. Normal.

Consolação: se o Leitor passar pelas terras alemãs no Verão, experimente uma Kölsch, típica cerveja sazonal que não é possível encontrar fora do País, adocicada com toques de fruta, produzida ainda de forma artesanal e em quantidades limitadas. Pelos menos até a inevitável chegada duma multinacional que disponibilizará a Kölsch todo o ano com uma mistura de cerveja, doses industriais de açúcar e aromas “naturais”.

Mas vamos em frente. Os ingredientes duma cerveja normal são: água, malte, cereais não maltados (trigo, milho, arroz, centeio ou aveia), lúpulo e levedura. Fim. É assim que desde sempre a cerveja foi fabricada, desde os primórdios (há 13.000 anos) até hoje. Só ingredientes naturais. Em teoria. Porque hoje na cerveja podemos encontrar algo que tão natural não é: pesticidas, herbicidas, fungicidas. Substâncias do grupo 2A, aquelas “provavelmente cancerígenas” como o glisofato da Roundup. Obrigado Monsanto.

Quanto aos agro-tóxicos no geral, três são os que é mais comum encontrar na cerveja: folpet, ftalimida e boscalid. O primeiro é um fungicida tóxico para organismos aquáticos e suspeito de ser cancerígeno para os humanos. A ftalimida é frequentemente usada em plantações de cevada. Finalmente, o boscalid é um fungicida da classe dos antibotricos.

Obviamente: tudo segundo as normas. As concentrações presentes na bebida sempre respeita os limites legais por cada componente. Mas que tal o efeito cocktail? Ou seja: 0.1 micrograma de folpet é considerado “não nocivo”. Mas se juntarmos 0.1 microgramas de fungicida mais 0.1 microgramas de herbicida mais 0.1 microgramas dum pesticida qualquer teremos como resultados 0.3 microgramas de substâncias que podem interagir entre elas segundo processos que não são (oficialmente) conhecidos ou suficientemente investigados. Este é o efeito cocktail.

Uma pesquisa do Instituto Francês de Pesquisa Agrícola examinou a acção de uma mistura de seis pesticidas normalmente encontrados na dieta de todos nós, presentes também nas águas subterrâneas. Uma mistura que, de acordo com a análise, implicaria graves alterações metabólicas, em especial “doença do fígado gorduroso, tendência à obesidade, intolerância à glicose com efeito diabetogénico e alteração da microbióta intestinal”. Olé.

O que recomendam os especialistas? No caso da cerveja: não beber demais e confiar nos produtos artesanais, também naqueles não pasteurizados pois, lembramos, a cerveja é uma bebida alcoólica. E, esquecendo a cerveja, no caso da dieta no geral? Nada, fiquem com fígado gorduroso, efeito diabetogénico, alteração microbiótica intestinal e não se queixem que só enervam.

A revista mensal Il Salvagente efectuou análises sobre algumas das cervejas de importação mais vendidas em Italia. Estes são os resultados:

A reter: gastar mais não significa obter um produto melhor. A Leffe Royal, uma das mais caras deste lote (em Italia é vendida a 6.39 Euro ao litro contra os 1.90 Euros da Kronenbourg) é uma das piores do ponto de vista qualitativo.

Uma outra pesquisa, desta vez realizada pelo mensal francês Consommateurs, analisou as cervejas mais vendidas nos supermercados franceses. Os resultados são praticamente os mesmos da pesquisa italiana e podem ser observados neste documento Pdf.

Portanto, apostar nas cervejas menos “poluídas”: Carlsberg, Kronenbourg, Ch’ti, Pelforth, Heineken, Grimbergen, 33 Export, Jade, L’Abbaye (Carrefour), Alveringem (E. Leclerc), Sterling (Auchan).

Pelo menos escolher aquelas que não misturam vários herbicidas-fungicidas-pesticidas, evitando aquelas com glisofato; e, se possível, preterir aquelas de produção artesanal e local, esperando que as matérias primas sejam decentes…

 

Ipse dixit.

Fontes: Consommateurs via Greenme (ficheiro Pdf), Il Salvagente via Disquisendo