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O Canal de Salwa

Em Junho de 2017, a Arábia Saudita e os seus aliados (Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Egipto) iniciaram um pesado boicote contra o Qatar, causando uma crise regional que ainda persiste.

Os quatro Países enviaram vários pedidos ao pequeno emirado para que, uma vez respeitados, as relações diplomáticas voltassem ao normal. Os pedidos eram simples: o soberano qatarino…qatariota…qatarão? Bom: o soberano do Qatar foi aconselhado a rever os seus relacionamentos com a equivoca Turquia e o malvado Irão, fechar a emissora televisiva al-Jazeera e parar o financiamento de organizações terroristas (diversas daquelas financiadas por Riad).

Apesar das ameaças, o Qatar nunca aceitou nenhuma das condições impostas pelos sauditas e isso não teve reflexo na economia do País, que até cresceu no ano passado graças sobretudo aos aliados turcos, iranianos e aos Países europeus não convencidos da estratégias de Mohammad Bin Salman, o chefe de casa Saud.

A Arábia Saudita, portanto, decidiu elevar a parada e entrar abertamente no reino da pura demência: pretende mudar a condição natural do Qatar de “península” para “ilha”. Uma piada? Nada disso: autoridades e a media do Estado saudita declararam que é intenção do País cavar um canal ao longo da fronteira entre as duas nações. As cinco empresas internacionais interessadas em participar no trabalho apresentaram as ofertas em Junho e nos próximos três meses a Arábia Saudita irá declarar os vencedores do contrato.

O trabalho, segundo a Gulf News, custará cerca de 745 milhões de Dólares e será totalmente financiado por investidores privados sauditas, dos Emirados e do Egipto. O canal terá cerca de 60 quilómetros de comprimento, 200 metros de largura e cerca de vinte metros de profundidade. Construído inteiramente em território saudita, para que o Qatar não possa utiliza-lo, também apresentará algumas estruturas interessantes: ao longo do canal serão construídas várias praias de luxo, portos civis, uma base militar e até um depósito de lixo nuclear (o mais óbvio acessório para qualquer praia de luxo que se preze). O resultado seria que os 2.6 milhões de habitantes do Qatar seriam transformados em ilhéus.

O analista Ali Shihabi, entrevistado pelo Washington Post, especula que os sauditas estejam simplesmente a continuar a “guerra psicológica” contra o Qatar: “Se for criado um canal, seria um favor ao Qatar porque seria criar um fosso para protegê-los enquanto agora as suas fronteiras terrestres estão totalmente expostas à Arábia Saudita”. O que faz um certo sentido: a única fronteira terrestre do Qatar é com a Arábia Saudita e está fechada desde junho. Em Abril, a imprensa local informou que os guardas da fronteira da Arábia Saudita assumiram o controle do último elo terrestre com a Península Arábica. No entanto, o Qatar mantém ligações aéreas e marítimas com o resto do mundo exterior e resistiu à pressão financeira da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos e de outros países.

O canal tem já um nome: Salwa (uma das localidade do Golfo onde deveria começar o canal). E Arábia Saudita estão convencidos de que o projecto será em breve uma realidade: de acordo com várias fontes, o tempo de construção deve ser inferior a um ano. O que é certo é que a tensão entre Arábia Saudita e Qatar continua alta, apesar da mediação de actores regionais e internacionais, com o risco de degenerar no futuro para um verdadeiro conflito aberto: e o canal não parece a melhor maneira para acalmar a tensão. Mas nada que consiga preocupar um dos aliados ocidentais mais belicistas da região.

 

Ipse dixit.

Fontes: The Washington Post, Gulf News