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Guerra comercial: bem-vindo aos impostos

A Europa entra na guerra comercial contra os Estados Unidos. As Mentes Pensantes de Bruxelas implementaram os impostos aduaneiros que vão a atingir os bens importados dos EUA e que entram em vigor hoje. Estes impostos são uma resposta aos impostos introduzidos pelo Presidente Donald Trump e atingem, entre os outros, os produtos do Velho Continente.

A Europa diz que os impostos aduaneiros são coisa má. E o que faz? Introduz novos impostos aduaneiros. Interessante. Mas vamos para lembrar como chegamos a esse ponto.

A causa são os impostos aduaneiros decididos pela Casa Branca: 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio importados. Um pacote de medidas protecionistas que também afecta o Canadá e o México e que inicialmente são suspensas, deixando-as pairar como uma ameaça na esperança de encontrar alternativas. Que não chegam: as medidas entram em vigor desde o início de Junho.

Bruxelas condena logo a escolha protecionista de Trump, protestos liderados pelos globalistas Macron a Merkel. E eis a resposta: para condenar os impostos dos EUA, a Europa introduz impostos contra os EUA, medida que vai atingir cerca de 2.8 bilhões de Dólares de bens importados da América.

Cecilia Malmström, Comissária da UE para o Comércio, declara com amargura:

Nós não quisemos esta situação No entanto, a decisão unilateral e injustificada dos EUA de impor tarifas sobre o aço e o alumínio da UE não deixa escolha. As regras do comércio internacional que temos desenvolvido ao longo dos anos, juntamente com os nossos parceiros americanos, não podem ser violadas sem nenhuma reação. A nossa resposta é proporcional.

Em suma, a Europa chora por ter sido arrastada numa guerra não desejada. Entretanto, o México já pus em vigor as suas tarifas no início do mês e o Canadá está a preparar-se para fazer o mesmo no começo de Julho.

Os impostos atingem uma longa lista de produtos americanos, incluindo muitas vítimas “simbólicas” da cultura e do comércio estadounidense. Há barcos, motocicletas (Harley-Davidson), têxtil (jeans Levi), produtos agrícolas (milho, tabaco, arroz), alimentos (manteiga de amendoim, sumo de laranja), bourbon, whisky e cigarros. E, obviamente, todos os produtos ligados ao alumínio e aço, como laminados, barras de aço inoxidável, tubos, fios de aço, portas, janelas e assim por diante. O aumento dos impostos é geralmente de 25%, mas para as cartas de jogo é aplicada um imposto de 10%. Justo: é preciso proteger a cartas de jogo, coitadinhas.

Mas ainda não acabou, porque se tomarmos como exemplo quanto acontecido com os impostos aduaneiros entre Estados Unidos e China, a situação pode até piorar. E já agora Bruxelas estima que as medidas actuais não sejam suficiente para empatar as contas com Washington: então, dentro de três anos “ou mais cedo”, outros impostos europeus poderiam atingir 3.6 bilhões de Euros de produtos.

Trump, de facto, já pôs em marcha algo que pode desencadear um conflito sem precedentes: desde o final de Maio, a Casa Branca tem reforçado o Departamento de Comércio com falcões como Wilbur Ross para avaliar se as importações de carros podem entrar na categoria das ameaças à “segurança nacional”, o mesmo processo que trouxe o protecionismo de Trump contra a tecnologia e o aço chineses. Neste caso, um imposto de 25% (contra o actual 2.5%) que atingiria em pleno a Alemanha, a maior exportadora de automóveis para os EUA.

Bem vindos aos impostos

Até aqui a notícia tal como relatada pelo diário La Repubblica, com um tom digno dum funeral. Normal: a Esquerda (da qual La Repubblica é na prática o órgão oficial em Italia) abraçou com paixão o processo de globalização. E que se lixem os trabalhadores, sempre transpirados e malcheirosos.

Nós por aqui vamos espreitar a lista de produtos importados do Estados Unidos: barcos, motocicletas, jeans, milho, tabaco, arroz, manteiga de amendoim, sumo de laranja, bourbon, whisky, cigarros, alumínio e aço.

Há algo que a Europa não consiga produzir? Não, não há. A Europa não importa porque precisa, importa porque assim ditam as regras comerciais. Os produtos listados acima podem ser encontrados no Velho Continente de forma abundante: não é um problema de quantidade, nem de qualidade, nem de variedade. A Europa exporta para os Estados Unidos automóveis e importa dos Estados Unidos automóveis: não acham haver algo doentio nisso?

Mas a fúria globalisadora impõe que os produtos circulem: então temos aviões e navios que cruzam o Atlântico para importar produtos que já temos e para exportar produtos que os outros já têm. Não seria um problema se este processo fosse gratuito. Mas não é.

Falamos só dos navios, porque é desta forma que a maioria das mercadorias é transportada. Quanto gasta um navio? Geralmente o consumo de combustível é calculado em toneladas por dia, ou, tecnicamente, em gramas de combustível por cavalo x hora. Tentamos transforma-los em algo mais facilmente compreensível, como “combustível por cada quilómetro”.

Pensamos num cargo de médias dimensões, equipado com uma hélice movida a “gasóleo” (aspas necessárias), de 10.000 cavalos de potência: o consumo é de 150 gramas por cavalo por hora, o que dá 1.500 quilos de combustível por hora. Pensamos neste navio que viaja a uma velocidade de 16 nós, cerca de 31 Km/h: são 50 quilos de combustível por quilómetro.

Cinquenta quilogramas de combustível para percorrer apenas um quilómetro. Quantos quilómetros há entre um porto dos EUA e um porto Europeu? Entre New York e Lisboa há 5.424 quilómetros. Senhores, façam as vossas contas…

O consumo é assustador? Calma, há mais más notícias. Os cargos, na verdade, não consomem o mesmo gasóleo dos carros. Os motores dos navios, omnívoros, queimam toneladas do combustível menos caro disponível no mercado, como os resíduos da destilação de alcatrão, as “pasta de carvão”, tudo com elevadíssimas percentagens de enxofre: algo que nos carros simplesmente é proibido. Não acaso, vinte destes cargo poluem mais do que todas as automóveis que circulam no mundo.

O ponto é que não há vinte cargo a circular; há 60 mil supercargo que navegam alegremente pelos oceanos, cruzando os estreitos de Malaca, na fila para entrar no Canal de Suez, para atravessar o estreito de Gibraltar. Juntamos os 122 naufrágios por ano? Os mais de 300 contentores que acabam no fundo do mar, 1.8 milhão de toneladas de produtos tóxicos que aí ficam a cada ano? E que tal os dois mil marinheiros mortos, porque esta é a segunda profissão mais perigosa do mundo?

Voltamos a falar da poluição: se 20 cargo poluem como a totalidade dos veículos que circulam em terra, bastaria reduzir em 0.35% o tráfego naval para obter o mesmo resultado da reconversão global para o carro elétrico. Isso é, Donald Trump não quer saber da poluição, das mortes, dos produtos tóxicos no fundo do mar. Está a borrifar-se com isso. E o mesmo pode ser dito das Mentes Pensantes de Bruxelas. Mas, de forma absolutamente involuntária, estão a fazer algo bom, estão a reduzir a poluição. Menos cargo entre América e Europa, menos cargo entre China e América: a poupança em termos ambientais começa a ser significativa.

Qual o custo disso? Haverá falta de produtos nos supermercados? Não. Vamos ficar sem motas ou automóveis? Não. Escassez de aço? Nem por isso. Talvez as empresas europeias terão que produzir um pouco mais para satisfazer a procura no Velho Continente. Talvez serão precisos mais trabalhadores, portanto mais assunções, quem sabe?

De certeza irá ser abatida a poluição. E este último aspecto só por si é mais do que suficiente para que os impostos aduaneiros sejam muito bem-vindos.

 

Ipse dixit.

Fonte: La Repubblica