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O Vaticano no Bilderberg

Na lista dos participantes da conferência Bilderberg 2018 há um nome que consegue destacar-se: Pietro Parolin. Quem é este?

O nome “Pietro” indica ser italiano, enquanto o apelido que acaba em “n” não engana: é do Veneto. Mas é italiano mesmo? Mais ou menos: Parolin é do Veneto mas é cardeal, trabalhando como Secretário de Estado do Vaticano. No Bilderberg tem representado a Santa Sé. E a presença de Parolin marcou a primeira vez que um alto funcionário do Vaticano participou neste tipo de encontro. Para falar no assunto: não foi Papa Francisco a encorajar a “cultura do encontro”?

No passado dia 6 de Maio, quando recebeu o Prémio Carlos Magno, Francisco disse:

É urgente que hoje envolvamos todos os atores sociais na promoção de uma cultura que privilegie o diálogo como forma de reunião, levando adiante a procura do consenso e de acordos, sem separá-la da preocupação por uma sociedade justa, capaz de memória e sem exclusão.

Pelo que, no prazo de poucas semanas o simpático Francisco conseguiu: receber o Prémio destinado a figuras em destaque para o processo de integração da União Europeia; reunir-se com os piores tubarões do planeta; enviar o Secretário de Estado para a reunião do Grupo Bilderberg. Mais do que uma “cultura do encontro”, esta parece uma “cultura da elite”. E não é um acaso: já no ano passado, Parolin tinha participado no Fórum Económico Mundial em Davos, onde discursou sobre a diplomacia papal.

Mas voltemos ao Bilderberg Tour. Na reunião de 2017, segundo Zero Hedge, os temas discutidos foram:

Este ano, em Torino, os assuntos não parecem ter mudado muito:

Em outras palavras: porque os europeus se preocupam tanto com as suas fronteiras, línguas e culturas; como continuar a culpar a Rússia também por causa do populismo; como despedir os trabalhadores com a chegada da inteligência artificial; como construir umas novas narrativas num mundo de pós-verdade no qual ninguém acredita mais nos media; o que raio é o cálculo quântico.

Mas qual o papel do enviado do Santo Padre no meio desta reunião de servos dos Rothschild? Porque é disso que estamos a falar. A “cultura do encontro” não parece destinada a favorecer um abraço entre Igreja e sectores desfavorecidos da sociedade: Parolin não foi visitar um grupo de trabalhadores desempregados, foi visitar os patrões. E nem todos os patrões: só aqueles “progressistas” (a facção dos vários Soros, Rockefeller, Rothschild).

Paul Joseph Watson, de Infowars, ofereceu uma interpretação da cúpula:

Embora os media tradicionais geralmente descreva o Grupo Bilderberg como uma simples “sala de estar” sem poderes reais, há inúmeros exemplos de como o grupo exerce a sua influência nos assuntos mundiais.

Em 2010, Willy Claes, ex-Secretário Geral da Nato e membro do Bilderberg, admitiu que os participantes são responsáveis ​​pela implementação das decisões tomadas durante a conferência anual dos gestores do poder. Se isso for verdade, seria uma violação da lei de muitos países, que proíbe que os políticos sejam secretamente influenciados por agentes estrangeiros.

Uma ilegalidade? Uhi, este sim que é um problema para o Bilderberg: esperemos não haja graves consequências…

É claro que estas reuniões não são apenas uma jantarada onde, entre um copo de tinto e um chouriço assado, fala-se de como vai a vida: são mais do que isso e para entende-lo é suficiente ler a lista dos convidados. O importante é não confundir o verdadeiro poder com estes indivíduos. Como escrito já em 2010:

Eu continuo a achar a comitiva Bilderberg um óptimo chamariz e nada mais.
Sim, são tratados assuntos importantes, não há dúvida: economia, geopolítica, e tudo o resto.
Mas as decisões importantes não são tomadas aqui.
Não são estes os Senhores do Planeta.
Estes são os mordomos.

Os que participam no Bilderberg têm óbvias capacidades para influenciar a sociedade. Mas não são os que tomam as decisões. Denis Healey, membro do Grupo durante 30 anos, ofereceu em 2001 uma clara visão do que é efectivamente o Bilderberg:

Dizer que aspiramos a um governo mundial é exagerado, mas não totalmente errado. Aqueles de nós que participavam no Bilderberg pensaram que não era possível continuar a lutar entre nós por nada, matando e privando milhões de pessoas da casa. Então tivemos a sensação de que uma comunidade única espalhada por todo o mundo seria uma coisa boa.

Uma globalização não apenas económica mas também de governação. Para actuar este plano é preciso um oceano de dinheiro, são precisas estruturas, criar uma inteira geração de pessoas votadas para um único objectivo. E para isso não é suficiente reunir alguns jornalistas, uma mão cheia de políticos, o enviado do Papa, alguns empreendedores e opinionistas.

O Secretário de Estado do Vaticano que ilustra de que forma funciona a diplomacia da Santa Sede é o natural desenvolvimento do caminho seguido por esta fação da elite: a religião está ao lado de quem detém o poder “progressista”, não contraria o poder temporal mas consegue integrar-se com ele na vaga globalizadora. A excepcional operação de marketing efectuada com a eleição de Francisco começa a dar os seus frutos: quem melhor do “Papa Humilde” para tornar público o papel da Igreja de Roma no seio da mais feroz elite? É esta a “cultura do encontro”: Gott mit Uns.

 

Ipse dixit.

Fontes: The Independent, Zero Hedge