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Á espera da grande decisão

Esta noite, Donald Trump revelará a sua decisão sobre o acordo nuclear com o Irão. É este o assunto mais importante e não apenas de hoje.

Orly Azoulay escreve sobre Yediot Ahronot (o diário israelita que, desde os anos ’70, é o jornal com a maior difusão no País):

Desde a assinatura do acordo nuclear, o Irão não violou um único artigo. Isto foi afirmado não apenas pelos inspetores da AIEA [Agência Internacional de Energia Atómica, ndt], mas também por autoridades de segurança israelitas. Este é o único facto que o Presidente Donald Trump deveria considerar ao decidir se os Estados Unidos devem rescindir o acordo, uma medida que os iranianos dizem que os libertará imediatamente das suas obrigações de arquivar os programas de armas nucleares.

E apesar de convencida da necessidade do acordo ser “mais amplo”, impedindo por exemplo que o Irão desenvolva mísseis balísticos, Azoulay conclui:

Mas não é esse o ponto: o acordo foi assinado para impedir ao Irão de ter capacidades nucleares militares. E esse objectivo foi alcançado até agora.

Passamos para outro diário israelita, Haaretz, publicação de “alta gama” onde escreve Michael J. Koplow:

Trump está a pôr israel em perigo imediato.

Pois segundo Koplow, apagar o acordo desencadearia uma guerra directa entre Teherão e Tel Aviv na Síria.

Portanto: em israel nem todos concordam com Netanyahu, que mais do que outros pressiona para cancelar o acordo alcançado por Obama. De facto, a sua posição é minoritária uma minoria (nem o Chefe do Estado Maior do Exército, Gadi Eiskenkot, concorda). Mas Netanyahu está no governo.

Do lado iraniano há uma novidade: se até agora a posição de Teherão era “tudo ou nada”, ontem o Presidente Hassan Rohani abriu outro cenário:

Mesmo se os EUA desistam do acordo nuclear, o Irão irá manter o seu compromisso se a União Europeia puder garantir que a República Islâmica possa sair beneficiada.

E volta à memória o artigo publicado nos últimos dias por Zero Hedge, uma entrevista ao político americano Paul Craig Roberts com o título “É com a Europa, Paul Craig Roberts sobre o que pode ser feito para salvar o mundo“. Nesse ponto de vista, é interessante o que Rob Malley, chefe dos negociadores dos EUA com o Irão na época de Obama, disse numa entrevista ao Timesofisrael. De acordo com Malley, os outros Países ocidentais que assinaram o acordo (Reino Unido, França e Alemanha), no caso duma rescisão do tratado não devem seguir os Estados Unidos, mas mantê-lo, oferecendo-se para melhorá-lo com mais rigor. Isso daria a Trump a oportunidade de reivindicar uma eventual reformulação do tratado como uma sua própria vitória também.

Trump poderia afirmar que sem ele a Europa nunca se teria preocupado tanto com o programa de mísseis balísticos iranianos, nem se teria preocupado com o comportamento regional de Teherão, considerado uma ameaça por parte dos EUA e de israel. Claro, continua Malley, Trump poderia cancelar o acordo (o que é extremamente provável) mas também poderia declarar que prefere adiar a decisão para depois das conversações entre o Irão e União Europeia. Esta suspensão seria um sinal de maturidade, pelo que é extremamente improvável (estão a ver Trump, não estão?).

Enquanto isso, o Presidente dos EUA anunciou que no dia 14 de Maio, aniversário dos setenta anos desde o nascimento de israel, não irá para a inauguração da Embaixada americana em Jerusalém. O que não deixa de ser um anúncio significativo.

Para concluir, nota para um artigo publicado ontem pela Weekly Standard, bastante corrosivo sobre Trump e os seus anúncios: como hábil vendedor qual é, o simpático Donald está a utilizar os órgãos de informação antecipando anúncios importantes que ou não são importantes ou que se revelam “inócuos”. Sendo Weekly Standard é a revista oficial dos neoconservadores norteamericanos, decididamente contrários ao acordo com o Irão, esta pode ser uma forma de pressionar Turmp. Ou talvez não: o novo Conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, é parte dessa fação e, enquanto representante na Administração dos EUA, tem acesso a informações confidenciais.

Dito isto, sobra sempre a mesma pergunta que continua sem resposta: por qual razão o Irão (ou outro País do Médio Oriente) não pode ter uma bomba atómica enquanto israel tem centenas delas e nem assinou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares?

Update

Trump decidiu rasgar o acordo. Afirma ter as provas. Onde é que já ouvimos isso?

O chamado acordo nuclear deveria proteger os EUA e os nossos aliados da loucura da bomba nuclear iraniana, uma arma que só colocaria em risco a sobrevivência do regime iraniano. […] Para mim, é claro que não podemos impedir que o Irão tenha a bomba nuclear com base na estrutura decadente, podre deste acordo. Um acordo desastroso, embaraçoso e que nunca deveria ter sido assinado.

Eu tinha avisado em Outubro passado: ou o acordo é renegociado ou os Estados Unidos retirariam-se, repeti em Janeiro e começaram amplas negociações que não levaram a uma conclusão bem-sucedida. Para os Estados Unidos, o Irão nunca deve ter uma arma nuclear e por isso anuncio que sairemos de um acordo desastroso.

Vamos instituir o mais alto nível de sanções. […] Os Estados Unidos não fazem mais ameaças vazias. Quando eu faço uma promessa, eu mantenho.

Por qual razão Trump retirou os EUA do acordo? Por algumas razões.

O que acontecerá agora? O passo sucessivo, aquele lógico, seria um ataque contra o Irão para destruir os laboratórios onde o nuclear é alegadamente preparado: foi isso que aconteceu na Síria com as alegadas armas químicas. O problema (de Trump) é que atacar o Irão seria uma declaração de guerra à Rússia também. E não é este o objectivo do Presidente americano. Sempre que na cabeça de Trump haja lugar para um objectivo que não seja o dinheiro.

Vamos que ter paciência e observar as reações nas próximas horas.  

Ipse dixit.

Fontes: no texto.