Site icon

Síria: o ataque químico

Fica cada vez mais grave o resultado do ataque com gás na província síria de Idlib: o número de mortos já ultrapassou 72, incluindo 20 crianças e 17 mulheres.

De quem a responsabilidade? A seguir falaremos disso; agora vamos espreitar as reacções.

As reacções habituais

Óbvia a condenação de todos: EUA e europeus em primeiro lugar, todos contra o regime de Assad, que por sua vez nega qualquer responsabilidade. Convocada para hoje uma reunião urgente e inútil do Conselho de Segurança da ONU: objectivo é que as autoridades sírias cooperem com os especialistas internacionais, em particular para fornecer os planos de voo e todas as informações sobre as operações militares no momento do ataque.

Ninguém pede à ONU que faça algo para que os EUA forneçam os planos de voo e informação sobre as operações quando as armas forem Made in USA, e a ONU fica caladinha que nem um rato. Mas estes são pormenores.

Para o ministro britânico das Relações Exteriores, Boris Johnson, o massacre com armas químicas em Idlib exige uma investigação séria de responsabilidade por crimes de guerra, mas confirma que, em qualquer caso, aquele de Damasco é “um regime bárbaro e não podemos imaginar que continue a liderar o País”. Não é claro o que tenha a ver uma coisa com a outra, mas o simpático Johnson é assim.

Voltando às inutilidades: sempre hoje termina em Bruxelas uma conferência internacional sobre a Síria. Os participantes (70 representantes de governos e organizações internacionais) comprometeram-se a pôr em prática a ajuda humanitária para aliviar o sofrimento do povo sírio, destroçado após seis anos de guerra. De acordo com as Nações Unidas, são precisos 8 bilhões para preparar o terreno à reconstrução. A conferência tem vários objectivos, mas nenhum deles é obrigar:

Faltando isso, o que sobra é falar de esmolas para o povo sírio e nada mais.

E os culpados?

Mas afinal, quem lançou o ataque químico?
Ainda não se sabe. Mas é possível reflectir acerca do assunto.

Os gases podem ser espalhados por vários meios: aviões, granadas especiais ou, mais simplesmente, colocando sotavento os pulverizadores (técnica antiga esta, já da Primeira Guerra Mundial, mas sempre eficaz). Na coligação anti-Isis todos têm aviões: os sírios, é claro, mas também os russos, os turcos, os sauditas, os qataris e, obviamente, os ocidentais. Os rebeldes não, nada de aviões, nem para os “bons” nem para os “maus”.

Mas para onde foram as armas terrestres de gaseificação desaparecidas em massa em 2011 do arsenais de Kadafi? Com alta probabilidade acabaram nas mãos dos rebeldes jihadistas que não pertencem ao Isis: sabemos com certeza que os grupos originados de Al Qaeda (Al Nusra antes, Jahbat Fatah al-Sham depois) têm, no mínimo, gás mostarda e sarin.

Então é possível voltar atrás e perguntar: cui prodest? Quem ganha com o ataque químico de ontem?
Assad e Putin visam destruir (com a participação esporádica dos EUA) todos os grupos jihadistas, agora concentrados na província de Idlib. Se o Isis perder essa área, praticamente o Estado Islâmico está acabado. As tropas russas e sírias continuam a avançar e têm a vitória no bolso: um ataque químico nesta altura, com todos os holofotes apontados para a pequena província síria, não é apenas um inútil massacre, é pura estupidez porque é óbvia a reacção internacional.

Os órgãos de comunicação social já atiraram a culpa por cima de Damasco, mesmo sem nenhuma prova: não é disso que Síria e Rússia precisam. Dito isso: Assad santo com certeza não é, pelo que tudo é possível, mas seria muito estranho se Moscovo autorizasse um ataque deste género.

Viceversa: e se alguém quisesse delegitimar a ofensiva russa-síria aos olhos do mundo, com qualquer meio? Quem pode ter interesse em fazer uma coisa destas?

Ipse dixit.

Fontes: BBC News, Global Research, Il Corriere della Sera