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Quatro

Eia quatro notícias fresquinhas fresquinhas que dificilmente podem ser encontradas nos diários.
Não pensem mal: é simples distracção.

Qatar: Síria? Uma nossa invenção, modestamente…

Sheikh Hamad bin Jassim Al Thani

O Sheikh Hamad bin Jassim Al Thani, o ex Primeiro-Ministro do Qatar, disse que a “revolução” da Síria (aquela que provocou a guerra ainda em curso) não foi exactamente uma explosão espontânea de protestos.
Surpresa, espanto & maravilha.

Assim fala o sábio Sheikk:

A eclosão da crise na Síria não foi uma revolução, mas uma luta política internacional. […] Eu nunca disse isso antes: quando começámos a perturbar o cenário político sírio, estávamos confiantes de que o Qatar teria logo assumido a liderança das operações, em parte devido à relutância dos sauditas de interferir nesse País. Mas depois a situação mudou, a monarquia saudita decidiu intervir directamente e nos pediu para ocupar o banco de trás. Isso levou a uma competição entre nós e eles.

Não faz mal, ora essa. Aliás, a competição é algo bom: motiva e baixas os preços. Sim, neste caso custou entre 200 e 400 mil mortos (até agora), mas sabemos que é difícil contentar todos.

O marketing de Cameron

Outro diário inglês, desta vez o Guardian faz duas contas e descobre que o governo de David Cameron financia as operações mediáticas da “oposição armada moderada” (aquela que antes de matar-te pede desculpa e diz “Nada de pessoal”).

O problema é que não são trocos mas milhões de Libras, que saem dos bolsos dos contribuintes como é claro. Quantos milhões em Libras? 2.4, mais de 3 milhões de Euros para produzir vídeos, fotos, relatórios militares, programas de rádio e artigos nas redes sociais, tudo com o logótipo dos grupos de oposição, mantendo oculta a intervenção da Grã Bretanha.

Quanto começou isso? Em 2013, quando Cameron pediu uma intervenção militar directa na Síria e o Parlamento respondeu “Tu não bates bem de cabeça”. Assim iniciou o trabalho escondido para ajudar principalmente dois grupos: Harakat Hazm e Jeish al-Islam, que também recebiam apoio militar e financeiro dos Estados Unidos e da Arábia Saudita. Vale a pena gastar duas palavrinhas acerca destas simpáticas organizações.

Harakat Hazm tinha recebido treino militar (nos EUA, no Qatar) e armas por parte da CIA, tal como os mísseis BGM-71 TOW (isso porque são “moderados”; os rebeldes “violentos” recebem directamente ogivas nucleares…), mas numa determinada altura algo se passa e eis que o grupo embirra com Al-Nusra, a filha de Al-Qaeda. Acusação: Al-Nusra está demasiado próxima dos EUA (sic!). A CIA não gosta (e tem razão: Al-Qaeda é um brand de sucesso, um pouco como McDonald’s) e em Dezembro de 2014 corta os fundos do Harakat Hazmdum. Esta reage e em Março de 2015 entra na Frente do Levante, bem mais poderosa. Pelo que, na Síria há Al-Nusra/Al-Qaeda financiada pela CIA e os inimigos desta, Harakat Hazdum/Frente do Levante, que recebem o marketing de Cameron. Nada mal, nada mal mesmo. Todos alegremente empenhados numa luta forjada pelo Qatar, como diz acima o sábio Sheikh.

Jeish al-Islam é um grupo de nacionalistas iraquianos formado logo após a queda de Saddam Hussein. Como nacionalistas, lutam contra o governo de Bagdade (aquele instalado pelos EUA), atacando polícias e militares. O grupo especializou-se também no rapto e assassinato de estrangeiros: iranianos, franceses, libaneses, filipinos, indonésios, italianos, paquistaneses, americanos, macedónios.. na prática, tudo o que se mexe e não for iraquiano tem que ser abatido.

Já publicaram um vídeo acerca da captura dum búlgaro: o desgraçado tinha sobrevivido à queda do helicóptero no qual viajava, foi logo ajudado a pôr-se de pé pelos militantes de Jeish al-Islam que a seguir mataram-o com 27 balas. O que a bem ver não deixa de revelar um certo sentido de humor…

Estas são as pessoas que o simpático Cameron ajuda.

Às armas!

E agora: Ucrânia!
Em Kiev, nova chamada do exército: todos os homens entre 20 e 27 anos têm que apresentar-se nos quartéis. Esperados 21 mil novos soldados. Próxima chamada em Outubro e
Novembro.

O reestabelecimento das normais relações com a Rússia fica cada
vez mais longe. Mas a bem ver não parece ser este o objectivo do
Ocidente.

Até o final do presente ano, haverá soldados da Nato nas fronteiras com a Rússia: exercitações militares, o que se traduz numa pressão constante por parte do Ocidente. Isso porque a Rússia é má, como sabemos.

Eis a lista:

  1. Trident Jaguar -I CPX (Turquia) 04-13 Maio
  2. RS TE 2 ((Polónia) 09-20 Maio 
  3. Brilliant Jump (Polónia) 17-26 Maio
  4. Steadfast Cobalt (Roménia) 23 Maio-03 Junho
  5. Brilliant Capability (Polónia) 30 Maio-03 Junho
  6. Ramstein Guard 7 (Hungria) 06-10 Junho
  7. Steadfast Flow Movex (Turquia) 06-10 Junho
  8. Loyal Lance (Polónia) 06-17 Junho
  9. Ramstein Alloy 2-16 (Lituânia) 6-8 Junho
  10. Ciwix (Polónia) 13-30 Junho
  11. Ramstein Guard 8 (Polónia) 27 junho-01 Julho
  12. Staedfast Illusion (Estónia) 01-15 Julho
  13. RS TE 3 (Polónia) 05-21 Julgo
  14. Ramstein Guard 9 (Estónia, Lituânia, Letónia) 11-15 Julho
  15. Ramstein Guard 10 (Bulgária/Roménia) 05-09 Setembro
  16. Loyal Bonus (Turquia) 12-16 Setembro
  17. Steadfast Pyramid (Lituânia) 19-23 Setembro
  18. Steadfast Pinnacle (Lituânia) 26-30 Setembro
  19. Loyal Diligence (Turquia) 26-30 Setembro
  20. Ramstein Alloy 3-16 (Lituânia) 27-29 Setembro
  21. Ramstein Guard 12 (Re
  22. RS TE 4 (Polónia) 11-27 Outubro
  23. Noble Arrow (Turquia) 25 Outubro-12 Novembro
  24. Ramstein Dust Turquia 25 Outubro-12 Novembro

Exacto: no total são 24 os exercícios militares que irão espalhar soldados ao longo das fronteiras de Moscovo. E estes são apenas os exercícios da Nato, porque depois há os restantes: Klenova Arka, Shirokiy Plan e Sea Breeze na Roménia, Seyber Guardian e Svitla Flamina na Lituânia, Fleyming Thunder e Fleyming Svord na Bósnia, Anaconda na Polónia…

Mas não serão demais? Acho que não: a Nato é uma organização defensiva e tem o papel de evitar que os Russos possam invadir a Europa, espalhando comida de plástico, programas televisivos idiotas e bancos privados que quando têm problemas usam o nosso dinheiro para cobrir as perdas. Depois lembrem que Putin é o novo Hitler, como diz a simpática Hillary. 

Um escritor em Gaza

Michael Chabon

Michael Chabon nasceu há 52 anos em Washington e hoje é um escritor de sucesso, profissão com a qual conseguiu numerosos prémios também.

Chabon concedeu uma entrevista ao magazine hebraico The Forward, onde descreveu a ocupação dos territórios palestinianos pelo regime de Tel Aviv como “uma grave injustiça”, algo que nunca viu:

Que as pessoas que sofreram uma perseguição horrível e prolongada atravessem uma tal mudança e oprimam um outro povo até este nível é, de alguma maneira para mim, muito mais duro do Apartheid, que já era horrível e que não tento minimizar.

Chabon completou uma visita na Cisjordânia, encontrou o Breaking the Silence, o grupo israelita recolhe e distribui o testemunho dos soldados israelitas durante o serviço nos territórios ocupados; foi também em Jerusalem e Gaza.

Tudo o que estou a fazer é para eu ver em primeira pessoa. Uma vez que você consegue ver, é bastante óbvio, acho, para qualquer ser humano com um coração e uma mente, sente-se algo sobre isso. É a injustiça mais grave que eu já vi na minha vida. Eu vi coisas ruins no meu País, na América. Há uma abundância de injustiça terrível no sistema prisional EUA. As nossas leis sobre as drogas são grotescamente injustas. Sei do que falo. Esta é a pior coisa que eu já vi, puramente em termos de injustiça. Se isso pode fazer-me perder leitores, então eu não quero aqueles leitores. Podem ir-se embora e nunca mais voltar.

Chabon nasceu nos EUA mas é judeu.