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Peter Sunde: reflectindo…

Quando iniciou a difusão de internet, o mundo saudou esta “novidade” como algo que teria
revolucionado uma componente fundamental da nossa sociedade: a informação.

A informação é poder. Sem informação não há poder ou, se houver, será difícil e de curta duração.
Informação significa muitas coisas: das coisas básicas, como saber ler e escrever, até as mais complexas, como o estudo das interacções geopolíticas. Ser dono da informação permite entender onde estamos, o que estamos a fazer e por qual razão. Mais: possibilita a criação de novas ideias e a formulação de previsões acerca do futuro.

Uma internet livre significaria isso: a livre circulação da informação. Seria uma enorme conquista por parte da Humanidade. Não podemos esquecer que até poucos séculos atrás, o só facto de possuir livros era sinónimo de riqueza: porque eram caro e raros. Internet pode fornecer não um livro, não uma biblioteca, mas todas as bibliotecas do presente e do passado, simplesmente com um clique.

Voltamos atrás: a informação possibilita a criação de novas ideias e a circulação delas. Mas o que interessa ter todas as bibliotecas do planeta se depois nem sequer um livro lermos? A biblioteca funciona se utilizada, se enriquece o nosso conhecimento. É aí que somos confrontados com outras opiniões, é assim que nascem ideias.

Agora pegamos na afirmação de alguém que conhece internet, Peter Sunde, cuja entrevista foi publicada no artigo anterior:

Hoje a internet é uma merda. É um projecto fracassado. Provavelmente sempre foi assim, mas agora mais do que nunca falhou.

Demasiado pessimista? Talvez. Mas basicamente certo. Hoje internet falhou. Temos a ligação via cabo? 100 Mega por segundo? O mais rápido navegador do planeta? Mas interessa isso? Não, não interessa: o que conta são os conteúdos. E aqui começam os problemas.

Internet, no imaginário colectivo, está dividia em duas partes: uma oficial, gerida por grandes empresas, meios de comunicação, instituições públicas e privadas; uma não oficial, gerida pelos cidadãos, como blogues, páginas pessoais, fóruns, social network. Esta divisão é fictícia, não existe: a quase totalidade fica nas mãos dos privados, mesmo quando isso não parece.
Trackers
Uma simples acção como aquela de abrir o nosso navegador Chrome, significa enviar para Google os nosso dados, que são colectados e utilizados para operações de marketing, criar um nosso perfil, ou mais ainda. Abrimos uma página qualquer, como aquela do diário português Público e logo somos cumprimentados com 12 trackers:
  • ChartBeat
  • Facebook Connect
  • Facebook Social Plugins
  • Google Adsense
  • Google Analytics
  • Google+ Platform
  • Mixpanel
  • Parse.ly
  • Pinterest
  • Piwik Analytics
  • Realtime
  • SAPO Ads

O que é um tracker?
É um software que analisa o comportamento do visitador duma página internet. Como explica Wikipedia, versão inglesa:

No contexto comercial compreender o comportamento dos visitantes dum site, a fim de identificar as intenções de compra, é visto por muitas empresas como uma maneira eficaz para direcionar as actividades de marketing. […] Do ponto de vista duma organização de vendas, interagir com um potencial cliente quando ele está a procurar activamente uma compra pode produzir enormes poupanças em fundos de marketing.

Esta a justificação comercial: mas a verdade é que eu abro a página do Público apenas para procurar notícias, não tenciono comprar nada, só procuro informações. No entanto, as organizações acima listadas sabem que eu estou a visitar a página do Público. Elas sabem: eu nem sei da existência dos trackers (a não ser que instale no Firefox a extensão Ghostery).


Eis o trackers que monitorizam a nossa actividade na página do dito diário:
Chartbeat: uma empresa de New York que analisa em tempo real o tráfego dos visitantes, mostrando  
a origem deles, o tempo de carregamento da página, o sistema operativo utilizado, o navegador, a resolução do ecrã, de qual páginas chegámos e para a qual saímos (entre as outras coisas).
Facebook Connect: porque Facebook deve saber que estou a visitar o Público?
Facebook Social Plugins: ok, posso entrar no Público e conectar-me via Facebook. Mas não poderia ser uma opção on-demand?
Google Adsense: é o analisador de publicidade de Google.
Google Analytics: é o analisador do tráfego de Google.
Google+ Platform: como Facebook.
Mixpanel: é como Chartbeat, analisa o comportamento dos visitantes. Esta empresa é uma pequena loja dos horrores, na qual podemos encontrar ligações com Skype, e-Bay, Twitter, Bloomberg, Instagram, Pinterest, Paypal, Uber, mais uma série de investidores filantropos.
Parse.ly: outra empresa analisadora do tráfego, em parte ligada à Google através de Invite Media. Também aqui não faltam filantropos.
Pinterest: a empresa para a partilha de imagem. Porque Pinterest deve saber que eu visito o Público mesmo que não deseje partilhar imagem não é claro, mas tudo bem…
Piwik Analytics: sim, exacto: é outra empresa que analisa o tráfego.
Realtime: adivinhem?
Sapo Ads: empresa de publicidade da Sapo, subsidiária da Portugal Telecom, por sua vez de propriedade da francesa Altice, atrás da qual há fundos de investimentos e televisão via cabo nos Estados Unidos.

Isso, repito, só ao abrir a página principal dum diário online.

Já repararam quantas empresas que analisam o tráfego e o comportamento dos visitantes? Porque esta é informação e do tipo extremamente valioso. Não é a informação que faz crescer o conhecimento de nós utilizadores de internet, mas faz crescer os lucros das empresas privadas.
Internet aberta e círculo fechado

Agora, há aqui uma par de considerações que devem ser feitas.

Em primeiro lugar: multipliquem mentalmente estes dados recolhidos numa só página (aquela do Público, o diário que visitei) vezes todas as páginas que costumamos consultar diariamente, vezes todos os utilizadores de internet. Uma quantidade de dados avassaladora. Mas ficamos no particular: porque internet tem que saber qual o nosso comportamento uma vez online? Os nosso gostos, o que preferimos, o que não gostamos, quanto tempo ficamos numa página, em quais objectos clicamos, quais ignoramos… E reparem: nós entregamos “voluntariamente” (e inconscientemente) todos estes dados que na verdade são dinheiro. É esta uma internet livre? Não, não é. É apenas uma peça do grande “livre mercado”.

Depois há o segundo aspecto, ainda mais importante: vimos alguns nomes de empresas, nomes que não dizem nada. Na maioria são sociedades que analisam o tráfego, nada mais: cada uma faz o trabalho dela, podemos pensar. Eventualmente a dúvida é: mas porque raio o diário Público precisa de tantos analisadores e tráfego? Bah, coisas deles, o que interessa a nós?

Mas assim, como curiosidade, pegamos na primeira da lista: Chartbeat. Esta é uma empresa que pertence a outra empresa, a Betaworks. E Betaworks significa Airbnb, Groupon e Twitter. Airbnb é por acaso a empresa citada na entrevista de Peter Sunde, a “maior cadeia de hotéis do mundo” que não tem hotéis. 

Na Airbnb encontramos Andreessen Horowitz, bilionário que também é presente no Skype e numa outra empresa da lista, a Mixpanel. Da Betaworks faz parte também o investidor Keith Rabois, também na Mixpanels, PayPal, LinkedIn. E na Betaworks há o empreendedor Max Levchyn, (também presente na Mixpanels), com ligações a Paypal, Yahoo e membro da lobby FWD.us de Mark Zuckerberg.

Mark Zuckerberg? Aquele do Facebook? Sim, ele, que faz parte da ONG World Technology Network
com Al Gore, Maurice Greenberg, Larry
Page e Tony Blair. Começam a ver o quadro?
Esperem, vamos observar melhor esta FWD.us, assim as coisas ficam ainda mais claras.

FWD.us é uma lobby, fundada por Zuckerberg e pelo amigo dele, Joe Green, investidor da empresa Asana (Airbnb, Dropbox, Disqus, Foursquare, Pinterest, Uber, Google Drive, etc.), sócio de Andreessen Horowitz. A FWD.us, que dispõe de 50 miliões de Dólares em doações, faz o que todas as lobbies fazem: pressionam os decisores políticos. Mas há um ponto no programa da FWD.us que acho merecer destaque (Washington Post, 10 de Abril de 2013): a redução das despesas corporativas na contratação dos funcionários, encorajando os imigrantes a competir com os cidadãos americanos para obter o emprego. Não é simpático?

Da FWD.us fazem parte também:
  • Bill Gates (Microsoft)
  • Drew Houston (Dropbox)
  • Ruchi Sanghvi (Carnagie)
  • Reid Hoffman (LinkedIn)
  • Sean Parker (Facebook e Spotify)
  • Ron Conway (AddThis, Airbnb, Digg, Facebook, Foursquare, Google, Napster, PayPal, Pinterest, Reddit, Twitter. Amizades: Henry Kissinger, Arnold Schwarzenegger)
  • Jim Breyer (World Economic Forum, 21st Century Fox, Marvel, Walt Disney, Council on Foreign Relations)
  • Matt Cohler (Facebook, LinkedIn, Dropbox, Instagram, Twitter, Uber, AOL)
  • John Doerr (Compaq, Sun Microsystems, Amazon, Macromedia, Google, Bono dos U2; conselheiro da Administração Obama).
Agora o quadro fica bem mais visível, não é? Porque depois a lista poderia continuar e seria muito, mas mesmo muito comprida, incluindo a maior parte das empresas que hoje ditam as leis na internet. O grupo de poder é constituído por um círculo restrito de pessoas com ligações comerciais e políticas. Esta é internet hoje. Não existe uma “internet aberta”, que espalha conhecimento e ideias: existe uma internet fechada, que é um mero instrumento comercial.

E reparem: não falamos aqui de espionagem por parte da NSA, este seria bem outro assunto, até mais inócuo. Aqui tudo é absolutamente legal.

Como já falámos, nem a informação alternativa escapa: tem uma função bem precisa e limitada, inútil repetir. Na óptica de Peter Sunde, internet está perdida: é uma guerra que provavelmente não é possível ganhar. Os meios estão firmemente nas mãos das poucas empresas citadas, são elas que tratam com os governos, são as lobbies delas que obrigam os parlamentos a aceitar ou rejeitar determinadas leis. Não há nenhuma intenção de utilizar a open internet, a internet aberta ao serviço dos cidadãos, em prol da comunidade. Em internet tudo é mercado.
Utopia? Não, Linux.
Muitos entre nós podem considerar tudo isso como normal: afinal não é o lucro, fruto do mercado, que permite variar e ampliar a oferta presente na internet? A resposta é não. Absolutamente não.

Internet não é uma fábrica de viaturas, onde a compra dum modelo permite que a empresa continue a funcionar e investir para o futuro. Internet não vende nada simplesmente porque nada produz. Internet é uma ligação que viaja num fio (ou cabo), onde o conteúdo deveria ser criado e gerido pelos utilizadores, instituições públicas ou voluntários.

Utopia? Não, realidade. Peguem num qualquer sistema Linux gratuito (são mais de 300): é feito por voluntários (mas não só), funciona lindamente, tem dezenas de milhares de programas disponíveis, é desenvolvido sem pausas. O servidores da Google, da Netfix ou da Bloomberg são Linux, porque mais estáveis, mais personalizáveis (depois adquirimos um computador e embutido encontramos o sistema Windows…).

O caso Canonical

O sistema Ubuntu (que é Linux) é da empresa Canonical, com sede no Reino Unido. Oferece gratuitamente:
  • Ubuntu, o sistema de base;
  • Kubuntu, que utiliza o ambiente gráfico KDE (bem superior ao do Windows);
  • Lubuntu, que utiliza o ambiente gráfico LXDE, pensado para computadores já velhotes;
  • Xubuntu, qu eutiliza o ambiente gráfico Xfce (fica entre Lununtu e KDE);
  • Ubuntu GNOME, com o ambiente gráfico GNOME;
  • Ubuntu MATE, com o ambiente gráfico MATE;
  • Edubuntu, pensado para a utilização nas escolas;Mythbuntu, sistema operativo que é também plataforma multimédia;
  • Ubuntu Studio, um sistema operativo que inclui tudo para criações multimédias.

Repito: tudo grátis, é só descarregar e instalar.
Um milagre? Não: uma escolha política. Vende-se às empresas, doa-se aos privados.
Uma empresa pobrezinha? Nem pensar: a Canonical emprega funcionários em mais de 30 Países e mantém escritórios em Londres, Boston, Taipé, Montreal, Xangai, São Paulo e Ilha de Man.

O caso Debian

A Canonical é uma excepção? Nem por isso.
O sistema Debian 5.0 Lenny tem tido um custo de desenvolvimento de 8 biliões de Dólares. Investidores? Fundos de investimentos? Grande jogadas na Finança? Nada disso.

O Projecto Debian distingue-se de todos os outros pela sua forma peculiar de organização: a estrutura é baseada numa sociedade democrática real, com um documento que estabelece as regras internas do projecto (a Constituição Debian).

Todos os participantes são voluntários e não há uma empresa de investimentos atrás do Debian: todas as despesas são pagas a partir dos donativos recolhidos através da Software in the Public Interest (SPI Inc.), uma organização sem fins lucrativos para projetos de software livre. Debian é uma das principais distribuições Linux livre de interesses comerciais.

Não existe uma hierarquia ou liderança; há membros com funções específicas (como gestão de servidores ou coordenação das versões), mas todas as principais decisões são tomadas com o sistema da maioria através de votação. As discussões internas sobre o projecto são geralmente realizadas via e-mail.

Falamos de Canonical, Debain, e seria possível continuar. Tudo isso não é apenas possível: é real. Mas Linux, o sector open source e software livre representam uma minoria no panorama da internet. Em Abril deste ano a percentagem de utilizadores dum sistema Linux era de 1.68% no mundo. Windows Vista, possivelmente o pior sistema operativo criado alguma vez pela Microsoft (bem pior do que o famigerado Windows 8), alcança 2.46%.

A grande maioria das pessoas escolhe pagar tudo: computador, sistema operativo (ou acham que vem “de borla”?), ligação à internet e software. Um direito (porque hoje internet tal deve ser considerada) é transformado numa despesa.

Activismo? Não: cérebro

Portanto, resumimos: temos uma internet controlada por um restrito círculo de empresas e um público que sujeita-se a comprar tudo o que estas empresas oferecem, que entrega alegremente os seus dados pessoais, que não entende como uma internet livre (verdadeiramente livre) seja hoje um direito. Sublinho mais uma vez: um direito, porque internet é conhecimento, informação, comunicação, circulação de ideias.

Esta é a guerra que Peter Sunde considera perdida. Tem razão?
Krowler:

O que podemos fazer para mudar isto? Criar anti-corpos ao modelo, dando
ás pessoas a única coisa que lhes pode servir de alguma coisa:
conhecimento.   

Exacto. Os anti-corpos só podem ser criados com o conhecimento. Este é ainda possível? Por enquanto sim. E provavelmente assim será no futuro.

Não é contrassenso? Afinal aquelas empresas donas da internet teriam todo o interesse em limitar a difusão do conhecimento. Mas fiquem descansados, pois não há contrassenso aqui: aquelas empresas sabem muito bem que o conhecimento difundido hoje via internet é inócuo. A maior parte das pessoas não se liga à internet para aprender algo, mas para jogar, comprar, falar com amigos, partilhar imagens nas redes sociais… Claro, há também que deseje aprender, fazer mais do que isso. Mas são uma minoria.

Há dois pontos na entrevista de Sunde com os quais não concordo.
O primeiro é quando afirma que o Comunismo triunfará. Mas esta é uma questão que agora não interessa.

O segundo, pelo contrário, é importante e está dividido em dois trechos:

1.Também precisamos aprimorar as nossas habilidades quando se trata de
activismo, temos que ser bons no momento certo e conseguir a atenção dos media: não
fomos capazes de fazê-lo. 

2. Bom, devemos ter em mente que internet coincide com a sociedade. As pessoas devem entender que não é uma boa ideia ter todos os arquivos e dados no Google, Facebook e nos outros servidores privados. Todas essas coisas precisam de adquirir relevância política.

Não é um problema de activismo: é uma questão de cérebro. Nunca os activistas conseguirão
alcançar a atenção positiva dos media, porque quem controla os media são as mesmas pessoas que controlam internet. Nos media, Peter Sunde será sempre apresentado como “o gajo que permite descarregar ilegalmente filmes” e não mais do que isso. A chave está no cérebro das pessoas: é aí que algo tem que fazer “click!” e mudar.

Internet falhou? Sim, sem dúvida: de potencial instrumento de cooperação, partilha e crescimento pessoal tornou-se uma forma de gerar lucros nas mãos de poucos. Internet está a falhar não por causa da censura (facilmente contornável), mas porque a quase totalidade dos seus recursos é utilizada para criar dinheiro e porque nós não temos consciência acerca do que é poderia e deveria ser internet.

O problema não é Facebook em si: o problema é Facebook qual parte dum limitado grupo de “donos” que utilizam internet exclusivamente para fins comerciais. Internet falha porque nós, o público (isso é: a sociedade), não estamos prontos para entender a potencialidade deste meio. É como ter um Ferrari que utilizamos apenas para as compras do fim de semana.

Vou fazer alguns exemplos muito banais.

Primeiro exemplo: é possível efectuar uma visita virtual ao Museu do Prado de Madrid. É um bom serviço, gratuito, com tanto de música de fundo. Há obras fantásticas, estão aí, só à espera de ser vistas. Quantos entre nós gastaram um pouco do seu tempo para espreitar aquelas maravilhas?

Segundo exemplo: há várias bibliotecas online que permite descarregar legalmente obras literárias. Há clássicos gregos, romanos, do Renascimento. É possível viajar no tempo, nas mentes dos grandes pensadores, confrontar as ideias deles. Quantos entre nós descarregaram alguma coisa?

Terceiro exemplo: as bibliotecas das universidades são uma fonte riquíssima de assuntos de todos os tipos. Querem saber algo de Ciência? É só escolher. Se depois dominarmos o idioma inglês, a escolha é praticamente infinita. Quantos entre nós consultam aqueles textos?

Tudo isso é informação, conhecimento, saber. Que fica aí, porque as nossas prioridades são outras.
Sem dúvida, os governos poderiam e deveriam fazer mais para difundir este tipo de conhecimento, informar o público, etc. Mas não podemos sempre esperar que alguém prepare o nosso almoço: de vez em quando poderíamos também nós escolher o menu.

O contrassenso

Como afirmado: é um problema de cérebro. O nosso cérebro, o da sociedade. A verdade, que Peter
Sunde não diz, é que o restrito clube de empresas que gerem internet limitam-se a explorar as nossas limitações. E contra a preguiça mental não há activismo que possa funcionar.

Há depois uma contradicção do mesmo Sunde: como é possível mudar internet se, como ele afirma, internet é a sociedade? Porque é assim mesmo: internet é o espelho da nossa sociedade. Fazer entender às pessoas que não é boa ideia partilhar dados no Facebook? Mas quantos se ligam à internet exclusivamente para entrar no Facebook? Porque no Facebook encontras amigos, imagens, jogos…

Todavia, há uma passagem fundamental aqui: “Todas essas coisas precisam de adquirir relevância política”. Porque se goste ou não, internet é hoje política. Não apenas uma forma de partilhar ideias políticas, mas uma maneira de fazer e viver a política. Havia duas possibilidades: uma internet neutra e até “comunista” (com aspas, claro) e uma capitalista. Foi escolhida a segunda, com a nossa plena cumplicidade (como na vida real, olhem o caso…).

Não é internet o problema: ela é apenas um dos problemas da nossa sociedade, onde tudo é dinheiro. Não é possível ter uma internet livre num mundo ultracapitalista, este seria o verdadeiro contrassenso. Esta é a derrota que Peter Sunde entendeu.

Todas essas coisas precisam de adquirir relevância política. Temos de
parar de pensar na internet como se fosse uma realidade separada e
começar a nos concentrar em como gostaríamos que fosse a nossa sociedade.

Nada mais.

Ipse dixit.