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OIM: a organização dos migrantes

Então: férias acabadas? Ao que parece… e os problemas? Não, aqueles continuam.

Por exemplo: é dos últimos dias a notícia de migrantes sufocados num camião enquanto tentavam entrar na Europa.

Dezenas, centenas de milhares de pessoas que partem de Países longínquos para viagens perigosas, onde a morte é mais do que uma possibilidade. Objectivo: a Europa, esta espécie de El Dorado. Alguns (a maioria) morrem no meio do mar, outros fechados em contentores, outros simplesmente de fome e por causa da fadiga.

Não é um normal fenómeno de migração: é uma deslocação em massa, quase um êxodo. E Bruxelas observa, aparentemente incapaz de tomar uma iniciativa qualquer. Quando uma iniciativa parte, é feita de palavras para criticar quem tenta controlar o fenómeno, como no caso da Hungria. Aí levanta-se o coro dos bem-pensantes: “xenófobos” é o epíteto mais ouvido. Sem dúvida: mais simples ficar a observar sem mexer um dedo.

Porque nos últimos meses temos assistido a esta movimentação humana sem precedentes? Porque agora? As fronteira europeias estão abertas há muito, não houve mudanças neste sentido. Os Países de origem (esqueçam os “refugiados sírios” anunciados pelos órgãos de informação: estes são uma minoria, a maior parte são oriundos da África subsahariana, do Chade para baixo) não atravessam períodos particularmente complicados: morrem de fome agora como morriam antes, sem que ninguém dos Países ricos faça algo (a não ser as organizações “humanitárias” dos vários “filantropos” como Bill Gates). Nenhuma novidade, portanto.

A vaga do fundamentalismo islâmico? Não, nem ela: esta interessa apenas algumas zonas dum número limitado de Países, não é suficiente para justificar esta maré de desesperados.

Desesperados? Isso mesmo: desesperados. E aqui surge uma dúvida: como podem tantos pobres encontrar o dinheiro suficiente para abandonar os seus Países de origem e chegar até a Europa? Onde encontram os montantes?

Bayin Keflemekal, enfermeira da Eritreia com 30 anos de idade, pagou 6.500 Euros para alcançar a
costa da Líbia. E falta-lhe ainda a travessia do mar. E não é uma excepção. O preço para uma viagem Líbia-Italia ronda os 5.000 Euros (pouco mais do que 20 mil Reais). Aparentemente não é um montante astronómico, não segundo os bolsos dum Europeu. Mas o que dizem os bolsos dum Africano?

Um exemplo: o Ghana, uma das principais “fontes” de imigrantes. Um Euro vale 3 Cedis (a moeda local), portanto 5.000 Euros são 15 mil Cedis. Qual o ordenado no Ghana? 200 Cedis é a média. Dado que na Italia o ordenado médio é de 1.300 Euros, eis uma proporção:

15.000 : 200 = X : 1.300

onde X é quanto, em proporção ao ordenado italiano, custaria a viagem via mar tendo como base o real nível de bem estar no interior dos respectivos Países. Quanto vale X? Vale isso: 97.500 Euros, 393.445 Reais. Este é o dinheiro “real” que um cidadão do Ghana tem que encontrar para alcançar a Europa via mar (e nem falamos da viagem Ghana – Líbia).

97 mil Euros? Quantos no Ghana podem permitir-se uma despesa assim? Estes seriam os “desesperados” que arriscam a morte para alcançar a Europa? Algo não bate certo, é evidente.
É este o mesmo raciocínio feito pelo site suíço Le Observateurs, dirigido pelo professor Uli Windisch, o mesmo que criou a Escola de Comunicação e Jornalismo na Universidade de Genebra.

A suspeita do Observateurs: há organizações que favorecem as viagens destes “desesperados”? E mais: esta não é apenas a dúvida do site suíço, muitos na Europa começam a pôr-se a mesma pergunta.

A resposta é simples: sim, há organizações que “incentivam”. E não são organizações de criminosos, pessoas que querem apenas o dinheiro dos desgraçados. Nada disso: os criminosos são apenas o último elo da cadeia, os que recebem o dinheiro para efectuar as viagens da morte. Antes de chegar aos criminosos, deve haver quem proporcione o dinheiro.

O diário francês Le Monde recolheu o testemunho de alguns desesperados na costa da Líbia. E sim, há organizações que contactam os migrantes uma vez chegados na Líbia, para que a viagem possa acabar. E deve haver alguém também nos Países de origem, alguém que proporcione o dinheiro para que a viagem possa até começar.

Por isso a atenção da jornalista belga Anne Lauwaert, que publica também no Observateurs, focou-se num nome: Organisation Internationale pour les Migrations (“Organização Internacional de Migração”, OIM).

A OIM é uma organização criada em 1951 a fim de solucionar os problemas relacionados à migração que haviam sido agravados pelo fim da Segunda Guerra Mundial. Dela fazem parte mais de 149 Países e, com mais de 400 escritórios em todo o mundo, é membro observador das Nações Unidas, colaborando também com as agências especializadas da ONU. Com mais de 8.400 funcionários e um orçamento anual de 1.675 biliões de Dólares, a OIM é dirigida desde 2008 pelo Embaixador dos Estados Unidos William Lacy Swing e, entre as outras coisas, organiza as eleições para os refugiados fora da pátria deles, por exemplo no Afeganistão em 2004 e no Iraque, em 2005.

Repetimos: 149 Países membros, mais de 400 escritórios pelo mundo fora, mais de 8.400 funcionários, contactos com as agências da ONU, um orçamento de 1.675 biliões… esta não é uma miserável ONG, esta é uma multinacional da emigração. Alguma vez ouviram falar dela? Não? Normal.

E até organiza as eleições. Pelo que: antes o País é destruído, depois chega o OIM para implementar a democracia que ninguém tinha pedido. A quadratura do círculo, nada mal mesmo.

Uma leitura da página web da OIM esclarece quais as ideias: a missão “é comprometida com o princípio de que a migração humana e ordenada faz bem aos migrantes e à sociedade”.
Já por isso deveriam ser presos todos, mas continuam:

Numa era de mobilidade humana sem precedentes verifica-se que há uma urgente necessidade compreender plenamente as ligações entre migração e desenvolvimento, tomar medidas práticas para que a migração possa servir mais os interesses do desenvolvimento e elaborar soluções duradouras para situações migratórias que criam dificuldades. Neste campo, o filosofia da OIM é que a migração internacional, se gerida de forma adequada, contribui para o crescimento e a prosperidade dos países da origem e de destino, e para o lucro dos próprios imigrantes.

Traduzindo: a migração é a melhor forma de proporcionar mão de obra de baixo custo que possa ser utilizada nas fábricas das multinacionais. De resolver os problemas que ficam na origem da migração nem se fala, bem melhor criar novos escravos.

De acordo com esta linda teoria segundo a qual “migrar é bom”, a organização promove a emigração em massa. Normal: a OIM é uma das várias armas utilizadas pelos poderes fortes na óptica da globalização. E raciocina enquanto tal:

A OIM faz apelo para arrecadar 80 milhões de Dólares para dar apoio às famílias dos refugiados espalhados por todo o Iraque. Porque, vocês têm que saber, 3 milhões de Iraquianos foram expulsos das casas deles por causa de conflitos violentos.

William Lacy Swing

Qual será a causa desses conflitos violentos? Ehhh, difícil responder. Talvez o Pentágono pode ter uma ideia. Se os sauditas, os turcos, os americanos, os israelitas parassem de fornecer armas e assistência ao Califado, quem sabe, isso poderia ajudar, não? É apenas uma hipótese que, em qualquer caso, não aparece nas páginas do OIM.

Talvez seria engraçado ter do simpático director Lacy Swing, ou dum dos seus oito mil e quatrocentos apóstolos, mais algumas informações sobre a grande migração de África para a Líbia, e daí para Italia, Grécia, Espanha, ex-Jugoslávia, Hungria. Afinal ele passou uma vida de diplomata na África, terá alguma opinião sobre o que fez aumentar brutalmente as deslocações e os afogamentos em massa no meio do mar.

A dinâmica das migrações costuma atingir tais picos somente perante um evento catastrófico, como guerras, fome, genocídios… Mas dado que na África nada mudou nos últimos tempos, não haverá, por acaso, alguma “promoção” do êxodo? Se calhar feita por alguém convencido de que “emigrar é cool“?

Ipse dixit

Fontes: Le Observateurs, Organisation Internationale pour les Migrations