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UK: espiar os cidadãos é justo, é bom e aumenta a segurança

Theresa May

Pescado no Twitter (ver box ao lado): a Secretária de Estado do Reino Unido, Theresa May, afirmou
perante o Parlamento que o governo deve ter acesso a dados dos telefones e de internet dos cidadãos, ao fim de impedir um ataque terrorista em solo britânico.

É muito provável que os dados das comunicações foram utilizados nos ataques de Paris para localizar os suspeitos e estabelecer as ligações entre os dois ataques […] Se queremos que os serviços policiais e de segurança possam proteger o público e salvar vidas, precisam dessa capacidade.

Óbvio. Uma vez espalhado o medo, agora é altura de recolher os frutos.

A Secretária acrescentou que quase metade dos cerca 600 cidadãos britânicos que viajaram para lutar ao lado de grupos extremistas na Síria e no Iraque voltaram para o Reino Unido (evidentemente porque alguém deixou que entrassem, acrescento eu), observando que as forças de segurança britânicas tinham conseguido evitar três ataques terroristas nos últimos meses.

E já que estamos a falar disso, seria simpático conhecer mais pormenores acerca destes acontecimentos. Mas a Secretária não tem tempo para estas banalidades e lança o aviso:

Isso significa que um ataque terrorista no nosso país é altamente provável e poderia ocorrer sem aviso prévio.

O curioso é que, como confirmam os documentos divulgados por Edward Snowden, esta vigilância de dados já existe e não desde ontem. A central das comunicações do governo britânico (o GCHQ) tem sido implicada em vários casos de espionagem, no mês passado, por exemplo, sobre um funcionário sénior da chancelera alemã Angela Merkel.

A existência de espionagem massiva e de interceptação de dados on-line por parte do Reino Unido e dos serviços de inteligência dos Estados Unidos não é um segredo: o que a Secretária deseja agora é legitimar esta prática aos olhos do público. Trata-se da melhor maneira para fechar duma vez por todas a questão das escutas ilícitas: afinal, tudo sempre foi “para o nosso bem”.

Relembramos as afirmações da Secretária relativas ao caso Charlie Hebdo: “É muito provável que os dados das comunicações foram utilizados nos
ataques de Paris para localizar os suspeitos e estabelecer as ligações
entre os dois ataques”.

Não importa o facto destas afirmações serem falsa (os “terroristas” foram identificados com o bilhete de identidade “esquecido” no carro da fuga; os dois conseguiram ir ao monte ao longo de dois dias, a poucos quilómetros da capital; tinha sido o terceiro “terrorista” a afirmar – via FM estéreo! – que os dois ataques testavam sincronizados), o que conta é cavalgar o medo e fazer passar a ideia de que mais restrições da liberdade são o inevitável preço para viver com mais segurança.

Um passo neste sentido já tinha sido feito no início do passado Dezembro, quando o Investigatory Powers Tribunal (IPT, que avalia as queixas contras organismos públicos, incluídos os serviços secretos) de Londres decidiu que a vigilância das comunicações de dados por parte do governo do Reino Unido não constitui uma violação às leis de direitos humanos.

Justo: a tortura é uma violação dos direitos humanos. Ser espiado quando navegamos na internet ou telefonamos para alguém, pelo contrário, é um dever de qualquer bom cidadão que não tenha “nada para esconder”.

Ipse dixit.

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Fontes: Sputnik News, Reuters