A razão é simples: nos rótulos aparece de forma
genérica como “óleos e gorduras vegetais”.
Falamos do óleo de palma, conhecido no Brasil também com o azeite-de-dendê ou azeite-de-dendém.
É uma matéria-prima barata com características semelhantes às da manteiga. Útil para a preparação de doces e margarinas (mas não só), também é utilizada no mercado da cosmética para sabões e detergentes. No Brasil é utilizado para pratos típicos como caruru, vatapá, acarajé, bobó-de-camarão ou abará, enquanto na Angola participa na preparação da moamba de galinha.
Problema: faz mal (bastante até) e é uma desgraça do ponto de vista ambiental.
É claro que aqui a questão não é se comer o não uma moamba de galinha: a questão são as grandes quantidades de óleo engolidas sem o nosso conhecimento. Tendo também em conta que os maiores consumidores são as crianças (doces, snack, etc.).
Saúde
doenças cardiovasculares: ácido láurico, ácido miristico e ácido palmítico, todos saturados, são presentes de forma abundante no óleo de palma, sobretudo na variante mais barata, o óleo de palmisto (obtido das sementes e não dos frutos).
No óleo de palmisto tipicamente encontramos 48% de ácido láurico, 16% de miristico, 8 % de palmítico, 3% de cáprico e caprilico, 2% de steárico, todos ácidos gordurosos saturados.
As coisas melhoram um pouco no óleo de palma obtido dos frutos, que tem mais óleo palmítico (44%) mas menos miristico e apresenta uma percentagem maior de óleo oléico (que não é saturado).
Ambiente
Do ponto de vista ambiental as coisas não estão melhores. Teoricamente o óleo de palma faz parte das
assim chamas “energias renováveis” (pode ser utilizado como combustível ou componente de combustíveis, como no caso do bio-diesel), mas o uso maciço da planta envolve grandes custos ambientais. A procura por óleo de palma é tão grande que centenas de hectares de floresta são derrubados e convertidos em monocultura.
Desta forma, não apenas são postos em perigo os habitats naturais como também é comprometida a biodiversidade. A exploração implica também à expulsão de povos indígenas que ocupam as terras interessadas ao cultivo, sobretudo na Indonésia e na Malásia (os principais fabricantes).
De facto, a indústria do óleo de palma é uma das principais causas do desmatamento no Sudeste Asiático. Na Indonésia, entre os anos 1967 e 2000, a área dos territórios para o cultivo das palmeiras cresceu de pouco menos de 2.000 para mais de 30 mil quilómetros quadrados.
O resultado é que no mundo, a cada hora, uma porção do tamanho de 300 campos de futebol de floresta tropical é cortada. E 80% do corte ocorre de forma ilegal. Devido à elevada procura de óleo de palma, nos últimos vinte anos mais de 90% do habitat do orangotango, a característica espécie de primatas do Sudeste Asiático, foi destruída.
Homem
A implementação de grandes fabricas e de plantações de óleo de palma são frequentemente vistas como novas oportunidades de emprego para os pobres das áreas rurais, como aquelas do Bornéu e de Sumatra. Na verdade, a indústria aumenta os problemas das pessoas.
A indústria de óleo de palma é, de facto, associada ao não respeito dos direitos humanos, como à exploração de menores. Nas áreas mais remotas da Indonésia e da Malásia, são as crianças que recolhem os frutos na parte mais elevada das árvores, em troca de alguns Dólares ou de nada.
O trabalho nas plantações não é uma escolha para as populações locais, que de facto não têm alternativas: ou aceitam as condições de trabalho oferecidas pela indústria ou ficam desempregadas.
ADM, Unilever, Cargill, Procter & Gamble, Nestle, Kraft e Burger King são as empresas que mais óleo de palma utilizam, enquanto o aumento da cultivação devido aos bio-combustíveis representa uma percentagem menor.
Eis o vídeo para sensibilizar o público acerca da Dove, a empresa de cosméticos do grupo Unilever que é uma das maiores consumidoras do óleo de palma:
Ipse dixit.
Fontes: The Post, Agritrade (vários documentos em versão Pdf, língua inglesa), Mongabay, Greenpeace: Cooking the Climate (ficheiro Pdf, inglês)