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Snowden e o mistério dos espiões vivos

Comecemos pelo fim: Portugal recusa a aterragem do avião de Morales por suspeitas sobre Snowden.
Com o desgoverno que merece, provavelmente a maioria dos Portugueses nem entendeu bem o que se passou.

Resumo para os mais distraídos: Portugal recusou na passada Terça-feira a aterragem para reabastecimento do avião do Presidente da Bolívia, Evo Morales, por suspeitas de que Edward Snowden, um informático que fugiu dos Estados Unidos após a divulgação de documentos secretos, estivesse a bordo.

O chefe da diplomacia boliviana, David Choquehuanca, negou que Snowden estivesse a bordo e referiu que o avião de Morales, que regressava de Moscovo, pôde aterrar em Viena, acrescentando que se cometeu “uma injustiça com suspeitas infundadas”.

Quem é Snowden? É o ex-agente da CIA (“ex”?), acusado de traição pelos EUA por ter divulgado documentos que mostravam que os norte-americanos estavam a espiar cidadãos e governos em grande escala. Snowden está a tentar evitar a extradição para o seu País, onde seria julgado.

Mas afinal: Snowden estava ou não no avião? Não, não estava.
Pessoalmente teria ficado surpreendido (e muito) se Portugal tivesse mostrado uma atitude corajosa. Assim não foi, o que foi feito foi simplesmente respeitar as ordens de Washington, por isso: tudo normal. Única consolação: Portugal não foi o único cobarde, pois a aterragem foi também recusada na França e na Italia.

As Grandes Revelações

O que há para comentar? Não muito em boa verdade.

Sabemos que os EUA espiam os próprios cidadãos e os Países estrangeiros também. Sabemos isso não por causa das palavras de Snowden, esta foi apenas uma nova confirmação. Os serviços secretos existem mesmo com esta finalidade.

Sabemos que boa parte dos Países ocidentais não têm uma politica estrangeira própria, sendo esta condicionada pelas ordens de Washington.

Sabemos que os EUA querem Snowden e é normal que assim seja. Não apenas para julga-lo, não apenas para fazer dele um “exemplo”: provavelmente em Washington alguém quer tentar perceber o que realmente se passa, quais as forças em jogo.

Isso porque nesta história aparece a palavrinha mágica: CIA. Escreve-se “CIA”, lê-se “dúvida”.
A verdade é que nem a Administração do Presidente pode saber o que realmente quer este que é um “estado dentro do estado”.

No últimos tempos, os “escândalos” que atingem o governo do simpático Barack Obama aumentaram
significativamente. Em parte isso é normal: nas segundas partes dos mandatos presidenciais é isso que acontece, são as forças da oposição (e não só) que começam a trabalhar tendo em vista a mudança.

Mas desta vez a coisa pode ser um pouco diferente: este não é um “caso Lewinski”, nada de trabalhos internos (ou debaixo da mesa). As revelações de Snowden põem em causa a legitimidade dum governo que espia tudo e todos, sem respeito pelas mais básicas regras da privacidade e da diplomacia.

Snowden como Julian Assange? Assim parece.
E, tal como no caso de Assange, fico com as minhas dúvidas, porque a pergunta que é obrigatório fazer é a seguinte: o que realmente revelaram os dois? O que sabemos agora que não sabíamos antes? Quais “grandes verdades” foram desvendadas? O Leitor aprendeu algo que antes nem conseguia imaginar?

Em ambos os casos houve uma fuga de informações “controlada”: alguns nomes, alguns dados para comprovar algo que já era sabido antes. E com consequências limitadas, nada que a diplomacia e o poder de Washington não consigam controlar.

Os cidadãos e as empresas americanas tiveram as provas de que o governo dele controla as conversas, os dados pessoais. Alguma coisa mudou?
Os governos ocidentais tiveram a prova de que existem coisas chamadas “serviços secretos” e que estes funcionam. Alguma coisa vai mudar? 

Pessoalmente tenho simpatia por Assange e Snowden e acho que seria um dever ajuda-los. Mas a impressão é que sejam engrenagens dum jogo que tem objectivos bem maiores; e que nós, infelizmente, não temos todas as peças para completar um quebra-cabeça particularmente complicado.

Escrevi no longínquo 2010:

Reflectir acerca de quê? Acerca dum simples pormenor: Julian Assange está vivo.

Talvez para a maioria dos Leitores isso possa parecer como um facto normal, mas não é: se Assange fosse verdadeiramente um perigo para os Estados Unidos e, sobretudo, para Israel, estaria debaixo de dois metros de terra. E não desde agora.

Pelo contrário, Assange é vivo e saudável.

Continuo a pensar o mesmo, também em relação a Snowden.

P.S.: acho também que Evo Morales não vai voltar para Europa tão depressa…

Ipse dixit.

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